Considerada a “tempestade do século”, a nevasca na semana do Natal nos Estados Unidos que deixou cerca de 50 mortos, assustou goianos que vivem no Hemisfério Norte. O frio congelante, com temperaturas muito abaixo de zero, atingiu principalmente a região dos Grandes Lagos, quase na fronteira com o Canadá, e veio acompanhado de muito vento, furacões e avisos das autoridades para ficar em casa, para não congelar.
A goianiense Luísa Gil Reis, 15 anos, está vivendo a experiência com um misto de surpresa, fascinação e temor. Vivendo desde setembro como intercambista na pequena vila de Edwardsburg, no condado de Cass, estado do Michigan, ela viu a neve pela primeira vez no início de novembro. “Senti a mesma sensação de quando vi o mar pela primeira vez. Acordei e estava tudo branquinho. Fiquei impressionada e minha reação foi brincar na neve”, contou ela ao POPULAR. Mas, no final de semana natalino, a história foi outra.
A temperatura em Edwardsburg, habitada por 1,2 mil pessoas, chegou a -25° Celsius, com sensação térmica de -35°. “É muito frio. Não podemos sair de casa, no máximo 15 minutos, para não congelar. As autoridades começaram a fazer alertas cinco dias antes.” Luísa, que está morando com uma família norte-americana, disse que, mesmo dentro de casa, no aquecimento, sente muito frio. “Ainda não me acostumei. É frio demais!.” Segundo ela, as estradas estão escorregadias, há muitos acidentes e as previsões apontam para novas nevascas nos próximos dias.
Do outro lado dos Estados Unidos, na costa Oeste, o ceresino Roberto Rodrigo dos Santos Souza percebeu, de forma diferente, os efeitos do ciclone bomba que se formou sobre o território norte-americano entre a quarta-feira (21) e o sábado (24). Ele vive há 19 anos em Kirkland, a 18 km do centro de Seattle, às margens do Lago Washington, no estado homônimo. “Washington é o terceiro estado mais chuvoso dos Estados Unidos. Quando neva e chove ao mesmo tempo se transforma no que chamamos aqui de ‘black ice’, o gelo negro, ninguém consegue dirigir”.
Na região de Seattle a temperatura chegou a -23° no Natal. “Este ano está bem mais frio. Tenho amigos que chegaram do Brasil em julho e estão sofrendo muito”, revela Roberto Rodrigo, que é sócio de uma empresa de construção especializada em pintura. O frio intenso chegou acompanhado de chuvas que provocaram muito gelo que tomou conta de carros e vias. Isso tem atrapalhado a rotina profissional. “Quem não tem carro 4 x 4 não consegue sair de casa”, explica.
Embora a nevasca tenha atingido mais Buffalo, a segunda maior cidade do estado de Nova York, o frio polar varreu os Estados Unidos de ponta a ponta. Em Indianápolis, a capital e mais populosa cidade do estado de Indiana, as temperaturas também foram congelantes no final de semana. Os pesquisadores Murillo Martins, físico médico, e Isabela Iessi, bióloga, que vivem na área há 15 meses com a filha Nina, de dois anos, sentiram muito a queda da temperatura, mas ainda aproveitaram para registrar o momento.
“Aqui chegou a -23° com sensação térmica de -40°’’, contou Murillo nesta quarta-feira (28). A celebração do Natal foi em casa, longe do frio congelante. “Na quarta-feira (21) fomos ao supermercado e ficamos fechados até o domingo (25) quando voltamos às compras, mas foi caótico.” O pesquisador explicou que naquele dia ainda havia muita neve nas ruas e as pessoas estavam “meio descompensadas.”
Virada do ano será com temperaturas mais amenas
O frio glacial deixou em alerta quase dois terços da população dos Estados Unidos, que abriga a maior comunidade de brasileiros no exterior, quase 2 milhões de pessoas, conforme o Ministério das Relações Exteriores. É controverso o número de goianos em território norte-americano, mas estima-se que alcance a casa dos 300 mil, a maior parte espalhada pelos estados da Flórida, Califórnia, Massachusetts e Nova York, onde a nevasca abalou as estruturas das cidades, cancelando serviços essenciais e impedindo a circulação, por terra e pelo ar. Pelo menos 1,5 milhão de residências ficaram sem energia elétrica.
O Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos prevê temperaturas menos congelantes para o final de semana que marca a virada de 2022 para 2023. A expectativa é que os termômetros marquem 20 graus a mais do que foi registrado no Natal em todo o centro e o leste do país. Mesmo assim, as condições de inverno traiçoeiras ainda preocupam moradores de boa parte do país, em especial na região dos Grandes Lagos, quase na fronteira do Canadá. Exatamente onde está a adolescente goiana Luísa Gil Reis, vivendo a sua primeira experiência de frio congelante.
A bomba meteorológica que afetou os Estados Unidos foi causada, segundo a MetSul Meteorologia, por uma depressão atmosférica intensificada rapidamente. Nesse caso foi histórica devido ao ar ártico gelado que se chocou com outra tropical, procedente do Golfo do México. Esse encontro provocou em 24 horas, na região dos Grandes Lagos, as condições extremas do clima com ventos muito fortes e nevascas.