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Governo ameaça reduzir doses de vacina contra Covid-19 de município atrasado em Goiás

Fábio Lima/O Popular
Governador Ronaldo Caiado disse que é inadmissível que prefeituras não informem dados da vacinação

No mesmo dia em que o POPULAR mostrou que Goiás aparece em 18º lugar no ranking de vacinação contra a Covid-19 no País, o governo do Estado cobrou, nesta quarta-feira (7), que os municípios atualizem a quantidade de vacinas aplicadas. A Secretaria de Estado de Saúde (SES-GO) argumenta que há uma diferença de 406.665 doses entre as encaminhadas pela pasta às prefeituras e a quantidade que consta como utilizada. Em ofício encaminhado na tarde desta quarta-feira, a SES-GO diz que o atraso nas informações pode influenciar nas próximas remessas.

De acordo com a SES-GO, os municípios goianos já receberam 1.031.380 doses de CoronaVac e Astrazeneca. Dessas, as prefeituras informaram que foram aplicadas 624.715 até agora, uma diferença de quase 40%. “A deficiência na atualização dos dados da vacinação dos Municípios traduz, ainda que supostamente, a existência de vacinas em estoque, o que influenciará nas próximas distribuições dos imunizantes”, diz o documento da SES-GO.

Em pronunciamento pela manhã, durante o lançamento do programa Todos por Elas, o governador Ronaldo Caiado (DEM) criticou as prefeituras. “Não faz sentido as pessoas não terem o cuidado de fazer um relatório diário (da aplicação de doses) e remeter à Secretaria de Saúde”, disse. O governador reforçou que os municípios podem receber menos doses das próximas remessas, caso não atualizem os dados. “Não tem sentido remeter a cota àquele município se ele não está cumprindo com a aplicação correta de acordo com a faixa etária”, afirmou.

O ofício encaminhado pela SES aos secretários municipais de Saúde afirma que os municípios com saldo de vacinas não utilizadas ou não registradas, “poderão receber doses na proporção da mencionada atualização”. Assinado pelo secretário Ismael Alexandrino, o documento recomenda “a imediata e contínua atualização dos dados de vacinação de todos os municípios do Estado de Goiás, para que não haja prejuízo no recebimento das próximas remessas”.

Em nota divulgada no fim da tarde desta quarta-feira, a SES afirma que o atraso no preenchimento do cadastro de vacinação por alguns municípios compromete a divulgação do “número real de imunizados”. Essa diferença pode ser observada em duas fontes oficiais de dados. No portal do Ministério da Saúde, há o registro de 648.049 doses aplicadas. No balanço da SES, há 706.233. O total enviado pelo MS ao Estado, desde o início da campanha, no final de janeiro, foi de 1.280.395 doses. O governador tratará do assunto em reunião virtual nesta quinta-feira, com prefeitos goianos.

O último carregamento chegou ao Estado na última sexta-feira (2). Foi a maior remessa até agora, com 266.800 doses. A expectativa de ampliação da faixa de vacinação, porém, não foi atendida: os imunizantes que chegaram estão sendo utilizados para a dose de reforço, que, no caso da CoronaVac, deve ser aplicada 28 dias depois da primeira. A Astrazeneca tem a segunda dose 12 semanas após a primeira.

Deste o início da semana, o Butantan enviou 2 milhões de doses da CoronaVac para o Ministério da Saúde. De acordo com o Plano Nacional de Imunização (PNI), Goiás tem 3,3% delas, ou 66 mil doses.

 

Diferença chega a até 80%

A diferença entre as doses das vacinas contra a Covid-19 entregues pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO) e a notificação do uso pelas prefeituras chega, em alguns casos, a 80%. Esses são os casos, por exemplo, de Itapuranga e Bonópolis. Goiânia, Aparecida de Goiânia e Senador Canedo deixaram de informar, ao Estado, mais da metade das doses aplicadas.

Os motivos do atraso são os mais variados. Vão desde a falta de servidores para fazer o registro, falta de internet no ponto de vacinação e problemas de digitalização. Em muitos casos, os gestores preferem acumular dados e enviar de uma só vez.

Bonópolis, que tem pouco mais de 3,5 mil habitantes, tem um cenário peculiar. Das 520 doses recebidas, o município informou ter aplicado apenas 107. De acordo com o assessor jurídico da Secretaria de Saúde do município, há um problema no fornecimento de energia elétrica. “As vacinas são armazenadas no mesmo prédio onde funciona a Secretaria de Saúde”, diz Tiago Custódio. “Quando os aparelhos de ar condicionado são ligados junto dos refrigeradores onde estão depositadas as vacinas, a energia não .se mantém”, alega. A prefeitura adquiriu novos computadores e equipamentos para recuperar os dados.

Itapuranga informou a aplicação de 1.177 das 4.020 doses recebidas. A Secretária de Saúde Maria Cândida diz que é uma questão de prioridade. “Temos de fazer duas listas: uma para o Ministério Público e outra para o DataSus. Priorizamos a digitação para o MP e para publicação na mídia informativa (site da prefeitura). Estávamos sobrecarregados”, afirma. Cândida diz que a situação deve ser regularizada nos próximos dias.

Flores de Goiás é outro município com defasagem entre aplicação e abastecimento dos dados no sistema. Das 1.860 doses que chegaram, apenas 514 aparecem como aplicadas. “Só temos uma pessoa para vacinar e uma para lançar essas doses (no sistema). Faltam funcionários para agilizar o processo nesse momento em que precisamos fazer muito mais que o corriqueiro”, justifica a secretária de Saúde Fernanda Costa.

O Portal da SES informa que Aparecida de Goiânia aplicou até agora 35.674 doses das 69.700 recebidas. Em nota, a Secretaria de Saúde do município alega que “na última semana houve atraso no lançamento das informações devido a problemas técnicos na digitalização dos dados, mas nos próximos dois dias todas as informações serão atualizadas no sistema”. 

A Secretaria de Saúde de Goiânia (SMS) informa que está trabalhando para que a digitalização das doses contra Covid-19 ocorra em tempo real da aplicação. Para atualização dos dados, está desenvolvendo uma força tarefa que ganhou reforço de acadêmicos dos cursos da área da saúde. O sistema da SES aponta a aplicação de 167.478 de 277.472 doses. (Victor Silva é estagiário do convênio GJC/PUC-GO)

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