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Governo anuncia primeira rodovia estadual em concreto; entenda diferença

Secom

Goiás será o primeiro estado do Centro-Oeste a ter uma rodovia em pavimento rígido, ou seja, em concreto. Um projeto apresentando pela Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) prevê a reconstrução e duplicação de parte da GO-210, em Rio Verde, na região sudoeste do estado. 

O presidente da Goinfra, Lucas Vissotto Júnior, disse que o uso do pavimento rígido na obra é sinônimo de economia de recursos públicos, tanto na construção quanto na manutenção.  

“Nos últimos anos, em virtude do aumento do material betuminoso, acabou tornando-se mais barato construir uma rodovia com pavimento de concreto do que com pavimento flexível (asfalto). O caso desse trecho da GO-210 se justifica bem por isso, pois não será apenas a restauração da pista antiga, mas também a construção de uma pista nova”, declarou. 

O perímetro urbano da GO-210, em Rio Verde, será substituído nos dois sentidos por via duplicada com concreto. Segundo Vissotto, o material asfáltico será aproveitado com o uso de placas de concreto para a composição da nova pista. 

"A obra que nós vamos realizar lá neste trecho será o chamado whitetopping, que é quando fazemos a restauração de pavimentos asfálticos com a aplicação de concreto na superfície. É uma placa com mais de 20 centímetros de espessura, com ligações de barras de transferência entre uma placa e outra. Sendo que cada placa, geralmente, tem 4 metros de extensão”, explica o presidente da Goinfra. 

De acordo com Lucas Vissotto, a durabilidade do pavimento rígido é superior a 20 anos e o Governo de Goiás pretende adotar o modelo de pavimentação em outras regiões do estado. 

“Estamos estudando, por exemplo, o próprio contorno de Goiânia em uma ação conjunta com o Daniel Vilela e o governador Ronaldo Caiado, que têm atuado em Brasília na busca de recursos para a execução de projetos com pavimento rígido,como o projeto do BRT (Bus Rapid Transit) entre Luziânia e Brasília (DF). Toda região de produção do setor agropecuário, como sudoeste e sul do estado, também estamos fazendo projetos em pavimento de concreto”, disse. 

A ideia da Goinfra é possibilitar a expansão e qualificação da infraestrutura viária em Goiás, por meio da utilização do pavimento rígido na malha viária, principalmente em regiões caracterizadas pelo intenso fluxo de veículos e tráfego pesado de cargas, segundo Lucas Vissotto. 

De acordo com o presidente da Goinfra, a execução do projeto será possível por meio de recursos oriundos do Fundeinfra e integrações com organismos multilaterais internacionais. 

“O nosso plano foi fechado envolvendo todos os entes representativos: Tribunal de Contas, Assembleia Legislativa e Tribunal de Justiça. O projeto prevê um trabalho numa faixa de 6 mil quilômetros de extensão, orçado em R$ 12 bilhões. Dentro desses R$ 12 bilhões, o Fundeinfra vai pagar 1,5 mil quilômetros. O restante do recurso virá de várias fontes, tanto de fonte constitucional do transporte, empréstimos que estamos viabilizando e outros recursos”, declarou. 

Diferenças entre o pavimento rígido e o flexível
O professor Oswaldo Cascudo, da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás (UFG), falou a respeito do uso do pavimento rígido (concreto) na malha viária. 

“As placas de concreto foram muito usadas no passado. Os primeiros pavimentos de meados do século XX eram baseados em placas de concreto, muito por conta da indústria do cimento que foi chegando e introduzindo essa tecnologia. Posteriormente, o pavimento asfáltico foi suplantando o uso do concreto. E o que vemos, hoje em dia, é o retorno das placas de concreto”, afirmou. 

Segundo o docente, o uso do Cimento Portland que é esse pavimento rígido, possui maior durabilidade em comparação com o pavimento flexível, asfáltico. 

“A durabilidade do concreto é muito maior. Isso, impacta diretamente os custos. Porque, os custos de manutenção se projetam ao longo da vida útil do pavimento. Então, cada vez que temos uma operação de recuperação do pavimento, isso envolve custos que vão se projetando ao longo da vida útil do pavimento”, afirma. 

“Então, ao analisar o custo global que envolve a execução e a manutenção do pavimento. Percebemos que o custo do pavimento asfáltico, muitas vezes, fica muito maior por conta do custo de manutenção”, completa Cascudo. 

Historicamente, os dois tipos de pavimentos – asfalto e concreto – são largamente utilizados em todo o mundo. Diante disso, o professor Oswaldo Cascudo entende que a aplicação de um sistema (de pavimentação) em detrimento do outro, se dá em função das facilidades de viabilização do seu uso, o que envolve questões econômicas. 

As questões econômicas são levadas em conta, na maioria das vezes, erroneamente porque não consideram o custo global. Digo isso, pois o custo global tem que contabilizar as quantidades de manutenção (do pavimento). Não é só o custo de entregar uma obra. É preciso considerar o custo de manutenção daquela obra. Por exemplo, se uma obra tem uma vida útil prevista de 50 anos, você tem que contabilizar todas as ações de manutenção ao longo desse período”, disse. 

Questão ambiental
O concreto e o asfalto têm alta capacidade de absorção de calor e impermeabilizam o solo, fazendo com que a água evapore rapidamente e não possibilite o resfriamento e umidificação do ar. Diante disso, surge uma questão: qual a diferença entre os dois tipos de pavimento?  

“A diferença entre os dois tipos de pavimentação é a seguinte: o asfalto ele é mais escuro do que o concreto. Ou seja, o asfalto absorve mais luz solar e aquece mais o ambiente ao seu redor. Nesse sentido, o uso da pavimentação de concreto nos grandes conglomerados urbanos é melhor, em comparação com o asfalto, por conta da sua tonalidade”, afirma o docente. 

No entendimento do professor Oswaldo Cascudo, o pavimento de concreto acaba vindo como uma alternativa interessante nessa questão ambiental. 

“Os pavimentos de concreto estão chegando com muita força para as novas obras e são alternativas que podem se alternar com os pavimentos asfálticos, que vem sendo utilizados há muitos anos. Então, o pavimento de concreto acaba vindo como uma alternativa interessante. Espero que ele dê respostas ainda mais positivas ao uso do pavimento asfáltico”, disse. 

Em 2023, as emissões globais de carbono atingiram níveis recordes. Um estudo publicado pelo Global Carbon Budget apontou que as emissões globais de gás carbônico totalizaram 36,8 bilhões de toneladas – um aumento de 1,1% em relação a 2022. Diante dessa situação, o professor Oswaldo Cascudo lembra que o a questão ambiental deve se fazer presente na definição dos projetos. 

"Hoje temos uma certa preocupação com a emissão de carbono na produção daquele sistema. O quanto impacta o meio-ambiente fazer um pavimento de concreto ou um pavimento asfáltico? Do ponto de vista, da sustentabilidade, o que é melhor? Essa é uma questão que está sendo estudada e ponderada na definição (dos projetos). Em ambos os casos, a luta é minimizar o impacto ambiental”, afirma Cascudo. 

“Precisamos em qualquer dos sistemas a serem aplicados, utilizar a boa engenharia. Disso não se pode abrir mão. Então, não é a simples comparação de um material pelo outro. É o bom projeto. Então, é preciso ter um bom projeto de pavimento e que atenda bem as demandas. Além disso, que tenha uma durabilidade aceitável, porque a durabilidade é uma das pernas da sustentabilidade. Portanto é preciso garantir que àquele pavimento responda por uma vida útil prevista no projeto. Também, é preciso ter uma boa ação de manutenção, sejam elas preventivas ou corretivas”, conclui. 

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