As gestantes que vivenciarem o parto no Hospital Estadual do Centro-Norte Goiano (HCN), localizado em Uruaçu, poderão se beneficiar de uma técnica de analgesia peridural que permite que a mulher em trabalho de parto tenha a dor amenizada sem diminuir a força muscular, facilitando a viabilização dos partos normais. O uso da técnica faz parte do projeto Parto Adequado, adotado pela unidade, que tem como intuito promover o avanço dos partos humanizados.
A peridural walking, conhecida também como “walking epidural” ou “peri walking”, é uma forma de administração de anestésicos na medula espinhal, que proporciona o alívio da dor ao mesmo tempo que permite que a paciente mantenha a mobilidade e a sensibilidade. “Mesmo com a analgesia, a mulher permanece ativa. Ela vai conseguir andar, ter tônus muscular para fazer força e sentir o bebê nascendo. O intuito é promover um parto ainda mais seguro e mais confortável para a mãe e para o bebê”, explica Luciano Dias, médico anestesiologista e diretor técnico do HCN.
O Parto Adequado, desenvolvido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) e o Institute for Healthcare Improvement (IHI), com o apoio do Ministério da Saúde, foi lançado em 2014 e tem o objetivo de identificar modelos inovadores e viáveis de atenção ao parto e nascimento, que valorizem o parto normal e reduzam o percentual de cesarianas sem indicação clínica. “Na rede pública de Goiás, nós estamos dando o passo inicial”, destaca Dias. Segundo a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc), nas maternidades públicas municipais de Goiânia a peridural walking é uma técnica usual, mas a prioridade é para o parto normal com atendimento humanizado.
Em Goiás, de acordo com monitor do Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCE-GO) ligado ao Pacto da Primeira Infância, em 2021, 67,50% dos partos foram cesáreas, fazendo o estado despontar como o vice-líder brasileiro, perdendo apenas para Rondônia (68%). Desde 2013, a porcentagem tem variado entre 65% e 68%, se mantendo sempre acima da proporção nacional. O ideal é que o número permaneça abaixo dos 30%, sendo que o preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é que seja menor que 15%.
Caso a mãe esteja saudável, a primeira opção para abrandar as dores do trabalho de parto é por meios não farmacológicos. “São estratégias variadas, como o caminhar, que auxilia no progresso do parto, a presença de um familiar ou da doula para acalmar a gestante, técnicas de respiração, o uso da água quente ou fria e até a aromaterapia. Na grande parte das vezes, esse conjunto de estratégias faz com que o parto natural seja bem sucedido”, explica o diretor técnico do HCN.
Entretanto, para algumas mulheres, a dor do parto é limitante. Nesses casos, entram os meios farmacológicos. “Nesse sentido, o peri walking é uma vanguarda”, aponta Dias. Apesar das vantagens da peridural walking, fatores individuais, como a condição de saúde e a natureza do procedimento, devem ser considerados. Por isso, as pacientes precisam ser avaliadas por um médico anestesiologista que domina a técnica. A peridural walking se diferencia das anestesias utilizadas nas cesarianas pois, nesses casos, além da dor, a mulher também perde a sensibilidade e força motora.
A técnica da peridural walking já é feita na unidade há mais ou menos um mês. A moradora de Santa Terezinha de Goiás, Thauanne Xavier de Abreu, de 23 anos, foi uma das mulheres que usou a técnica. Ela deu à luz ao primogênito Henrique na última quarta-feira (23). “Assim que (eles) aplicam a analgesia, ficamos totalmente sem dor. Ficamos bem mais confortáveis. Eu não conhecia. Eu pensava que todo parto normal era com dor”, relata a jovem.
Avanço
Inicialmente, o projeto vai ocorrer apenas no HCN, que costuma realizar de 100 a 120 partos por mês. O Centro Obstétrico do hospital possui equipe multiprofissional especializada para atendimento de gestantes e recém-nascidos de alto risco e conta com um pronto-socorro dedicado à assistência de gestantes e puérperas. Entretanto, Dias destaca que o HCN é um hospital escola e que o intuito é capacitar a maior quantidade possível de profissionais, já que eles poderão se aproveitar das técnicas aprendidas em outras unidades de saúde. “Somente na Região de Saúde Serra da Mesa (que inclui Uruaçu) são feitos cerca de 673 partos por mês”, destaca.
O secretário estadual de Saúde, Sérgio Vencio, explica que a pandemia da Covid-19 fez com que a regionalização da Saúde avançasse mais rapidamente e que, posteriormente, a SES-GO buscou manter unidades de alta complexidade no interior do estado. “Buscamos sanar um vazio assistencial da obstetrícia, para aquelas gestantes que precisavam buscar atendimento na capital. É o caso do HCN, que atende o Norte goiano”, destaca. Atualmente, os hospitais estaduais de Luziânia, Jataí e Formosa também oferecem atendimento obstétrico e todas as 17 policlínicas de Goiás ofertam consultas e exames para gestantes.