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Iguaria da Cidade de Goiás, alfenim se torna patrimônio cultural imaterial goiano

Diomício Gomes
Pombinhas que representam o Divino Espírito Santo são esculpidas pelas mãos de Sílvia Curado

Pombinhas que representam o Divino Espírito Santo, animais, flores e verônicas (imagens religiosas muito comuns em festas populares). O alfenim é uma das iguarias mais tradicionais da cidade de Goiás e, agora, passa a ser patrimônio cultural imaterial goiano, em lei sancionada pelo governador Ronaldo Caiado (UB).

Em termos gerais, a lei estabelece que o doce é um patrimônio a ser preservado pelo Estado em parceria com a sociedade. A proposta foi apresentada na Assembleia Legislativa pelo deputado estadual Coronel Adailton (Progressistas), que reitera a necessidade de preservação do alfenim, assim como sua prática, que necessita ser mantida no roteiro gastronômico goiano.

Na antiga capital do Estado, a tradição do alfenim é preservada por meio das mãos de dona Sílvia da Silva Curado, 90, que cria o doce feito de açúcar, clara de ovos e limão. O processo é minucioso e rápido: as formas precisam ser esculpidas de maneira veloz enquanto a massa do açúcar pode ser modelada. Depois de feitos, os doces ainda podem ganhar pequenas pinturas de anilina.

“É uma aptidão. Como dizia minha avó, em Goiás há bens de raiz que passam de geração para geração nas famílias”, explica dona Sílvia, vilaboense moradora de um casarão em frente ao Largo do Chafariz, uma dos cartões-postais da antiga Vila Boa. Aberta aos visitantes que desejam comprar alfenim, a senhorinha ainda mostra como é feito o doce. Segundo ela disse em 2018, é uma tradição que está ameaçada. “Eu resgatei uma tradição que já estava morta. Sou a última que sabe fazer alfenim”, destacou na reportagem.

Dedicação e paciência

Conforme Silvia Curado, “precisa ter dedicação e paciência para aprender. E ter mão fria também, porque senão o doce derrete antes de ser terminado”. Contudo, alertava, “isso parece dar muito trabalho e ninguém mais faz alfenim aqui. Até tentei ensinar para algumas pessoas, mas não deu certo. Quando eu não estiver mais aqui, não vai ter mais esse doce”, ressaltou.

Além da cidade de Goiás, os alfenins também são populares em festas do Divino Espírito Santo realizadas em outras localidades de Goiás, como Pirenópolis e Trindade. O doce tem, na verdade, origem árabe, e ganhou esculturas que fazem alusão a festas populares e religiosas brasileiras, aos animais comuns das fazendas e aos símbolos das comunidades do interior do País.

Outro doce que também se tornou patrimônio imaterial goiano em 2022 foi a marmelada de Santa Luzia, desenvolvida na região de Luziânia há mais de 100 anos. Para além das sobremesas tradicionais da gastronomia de Goiás, a pamonha é outra gostosura que se tornou lei em Goiás recentemente, ao lado de pratos típicos do Estado, a exemplo da jantinha (espetinho de carne, feijão tropeiro, vinagrete e mandioca).

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