O ‘Chega Pra Cá’ desta semana conversou com o professor Anderson da Silva Soares, especialista em Inteligência Artificial (IA). A jornalista Cileide Alves entrevistou o doutor em Ciência da Computação, que afirma que a humanidade está caminhando para a era da “Inteligência Aumentada”. O desafio aqui, de acordo com o especialista em aprendizado de máquina, é a adaptação a essa nova realidade, tanto no meio profissional como também no pessoal.
“A gente, como sociedade, vai ter que se adaptar nas próximas décadas para isso (desenvolvimento tecnológico da IA), e entender que, como qualquer outra ferramenta que surgiu na história da humanidade, ela vem para potencializar seu trabalho, mas não para fazer seu trabalho por você”, resumiu o professor.
Logo no início da entrevista, na manhã desta terça-feira (23), Anderson tranquilizou aqueles que temem um desenvolvimento desmedido dessas tecnologias, muitas vezes com base em filmes de ficção científica. “O ciclo natural das coisas é que a gente se acostume, mas ainda não é aquela coisa apocalíptica”, disse o especialista.
Nos últimos meses, dois grandes pioneiros da tecnologia da IA, Sam Altman e Geoffrey Hinton, deram declarações que acenderam o alerta para muitos. De acordo com as falas dos pesquisadores, o desenvolvimento dessa tecnologia marcha em ritmo acelerado e assusta.
Pensando nisso, Cileide questiona o professor Anderson. “Os avanços são realmente muito impressionantes”, concorda o especialista, que logo em seguida tranquiliza. O pesquisador garante que as máquinas não têm capacidade por si só de ameaçar quaisquer espaços ocupados por humanos. “O ser humano, ele vai se preocupar com aquilo que ele é realmente insubstituível”, explica.
O professor faz uso de uma analogia para explicar melhor. Ele garante que o que nós vivemos agora é uma novidade com grande poder de mudança: “Nós, como sociedade, a gente está diante de uma nova revolução industrial”. Entretanto, o professor lembra que no início deste milênio o mundo também encarou o surgimento de uma nova tecnologia com certa estranheza, a internet.
Durante o bate-papo, Cileide e Anderson lembram alguns anseios que existiram no momento da popularização da internet. Alguns objetos e práticas desapareceram e sua ausência não foi tão sentida quanto se esperava à época. Fichas telefônicas, faxes, máquina de datilografar … esses são alguns exemplos de tecnologias que antes eram tidas como essenciais, mas que foram gradualmente substituídas sem maiores danos.
O especialista garante que mudanças haverão. O principal desafio da sociedade como um todo é adaptar a realidade a essas novas tecnologias. Como toda ferramenta que surgiu, a IA veio para facilitar e aprimorar o trabalho, e não tomá-lo para si. “Temos que estimular para que isso seja uma ferramenta, e não nos estimule a uma cultura da preguiça”, alerta.
A formação
Pensando no curso de Inteligência Artificial da Universidade Federal de Goiás, o pesquisador destaca a meta do grupo: “Colocar Goiás na rota dessa nova revolução industrial capitaneada pela inteligência artificial”.
A primeira turma da graduação tem formação prevista para este ano, e o professor destaca que os alunos já estão sendo inseridos no mercado de trabalho antes mesmo da formatura. Anderson destaca ainda que os laboratórios de IA da UFG trabalham com cerca de 55 empresas de todo o país.
Um dos objetivos da formação, segundo o especialista, é “trazer essa formação para uma atuação mais imediata e um contato mais próximo do que é efetivamente a profissão, ainda durante a fase de aprendizagem”.
Finalizando a entrevista, Anderson garante que o desenvolvimento das tecnologias de IA vai afetar sim o mercado profissional, mas assegura ao dizer que nossa atuação face à nova tecnologia também tem poder de moldar essa nova era. O desafio é, resumiu, “preparar as profissões para as tecnologias digitais” e não o contrário.