O Instituto Oswaldo Cruz (IOC), da Fiocruz, e o Laboratório de Saúde Publica Dr. Giovanni Cysneiros (Lacen-GO), pretendem sequenciar 190 amostras de exames para a detecção de dengue que estão guardadas no laboratório estadual desde 2019. Intuito é verificar se o genótipo cosmopolita, do sorotipo 2 da doença, que foi encontrado em Aparecida de Goiânia em fevereiro deste ano, já circulou em Goiás anteriormente.
“Queremos investigar se houve circulação do genótipo antes ou depois do caso que identificamos em nosso estudo, que ocorreu em novembro de 2021”, explica Luiz Alcantara, virologista e pesquisador do IOC.
O trabalho terá início em junho. Entretanto, as equipes do Lacen-GO já estão separando as amostras que serão utilizadas. “O mês de junho foi escolhido, pois é um período posterior a essa fase de epidemia. Assim, conseguiremos ter uma variedade maior de amostras para analisar”, esclarece Vinicius Lemes, diretor geral do Lacen-GO.
As amostras ficam guardadas em freezers específicos com temperatura entre - 70° C e - 80° C. Lemes diz que por causa do grande volume de amostras que precisou ser armazenado por conta da pandemia da Covid-19, algumas outras precisaram ser descartadas. “Existe sim esta dificuldade de armazenamento.”
Além disso, ele afirma que pode ser que nem todas as amostras que estejam disponíveis, tenham material suficiente para que o sequenciamento seja viabilizado. Por isso, pode ser que o número de amostras sequenciadas fique abaixo de 190. “Esse é um número que fixamos com o referencial.”
O ano de 2019 foi escolhido, pois foi quando o primeiro registro de casos do genótipo cosmopolita nas Américas aconteceu. Ele foi feito em Madre de Dios, no Peru, onde aconteceu um surto da doença. O segundo registro aconteceu em Goiás, em fevereiro deste ano.
O homem, de 57 anos, ficou doente em novembro de 2021 já se recuperou completamente, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO). O genótipo cosmopolita é predominante no mundo e, de acordo com especialistas, mais transmissível. Ele é mais presente na Ásia, Pacífico, Oriente Médio e África.
Além disso, só por fazer parte do sorotipo 2 da doença, ele já é mais preocupante, já que esse, dentre os quatro sorotipos da dengue, é considerado o mais virulento. Em 2021 e em 2022, até o momento, o sorotipo 1, considerado o menos virulento, tem sido o predominante em Goiás (veja quadro).
Neste ano, Goiás registrou uma explosão de notificações de casos de dengue. De acordo com o Painel da Dengue, da SES-GO, já são 135 mil notificações nas 17 primeiras semanas epidemiológicas de 2022-finalizada no último dia 30, uma variação de 301% em relação ao mesmo período do ano passado.
Porém, os dados de mapeamento de genomas do vírus da dengue indicam que a nova linhagem não é a responsável pelo aumento de casos em Goiás, já que dos cerca 60 genomas foram decodificados, apenas uma era do genótipo cosmopolita.
Sorotipos
De acordo com Alcantara, serão sequenciadas todas as amostras em que o Lacen-GO identificou o sorotipo 2 do vírus da dengue. Entretanto, o diretor geral do laboratório estadual diz que existe uma abertura de diálogo com o IOC para que amostras de outros sorotipos também sejam sequenciadas.
Dessa forma, será possível descobrir, por exemplo, quais genótipos do sorotipo 1 circulam ou já circularam em Goiás. “Esse aprofundamento é muito valioso. Enquanto vigilância laboratorial, é importante saber mais do que apenas quais os sorotipos que circulam em Goiás”, aponta Lemes.
Ele afirma que esses sequenciamentos permitirão que o poder público tenha informações históricas sobre os sorotipos e genótipos da dengue no estado. “A análise dessas amostras do passado vai nos permitir ver o que circulou e o que circula aqui. A dengue já está entre nossa população há muitos anos e é importante termos uma base de dados para ver como ela evoluiu ao longo do tempo.”
Prevenção
Lemes esclarece que apesar de a informação de que o genótipo cosmopolita foi encontrado aqui despertar preocupação, a vigilância laboratorial vem justamente para deixar o poder público pronto para lidar com possíveis cenários epidemiológicos mais complexos no futuro. “Usaremos essa informação da melhor forma possível para cuidar da saúde das pessoas.”
Ele destaca que apesar de existirem vários genótipos da dengue, o método de prevenção continua o mesmo, independentemente de qual deles é o predominante. “Esse sequenciamento dará ferramentas para ajudar a verificarmos como a doença pode vir a se comportar na nossa população. Porém, o controle do vetor é fundamental.”