Exame de insanidade mental aponta que o servente de pedreiro Reidimar Silva Santos, de 32 anos, tinha plena capacidade de compreensão dos fatos quando matou e estuprou a estudante Luana Marcelo Alves, de 12 anos, no Setor Madre Germana, em novembro de 2022. O laudo foi feito pela perícia da Junta Médica do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) a pedido da defesa de Reidimar. Ele também responde pela morte de Thaís Lara da Silva, aos 13 anos, em agosto de 2019 e em circunstâncias parecidas.
Apesar de o servente de pedreiro até então se defender dizendo que era usuário de crack e que no dia do crime estaria sob forte efeito da droga, ao ser ouvido pela perícia afirmou que há oito anos não fazia mais uso do entorpecente, apenas de forma ocasional, mas sem dependência. Segundo ele, isso se deu após o nascimento do filho. O pedido do exame – feito durante audiência de instrução e julgamento do caso Luana – foi com intuito de provar que Reidimar é dependente químico.
A morte de Luana causou forte comoção na época pela forma brutal como ocorreu. Ela tinha saído de casa para comprar um lanche perto e foi abordada por Reidimar no caminho de volta. O corpo foi encontrado dias depois carbonizado e enterrado no quintal de uma residência onde o servente morava. Em janeiro, ele confessou ter matado de forma semelhante três anos antes Thaís Lara. A Polícia Civil suspeita que ambas tenham sido estupradas, mas sempre negou.
Ao falar sobre o caso durante o exame pela Junta Médica, Reidimar contou que “deu essa tentação” de abordar Luana ao vê-la sozinha na rua e que a convenceu a entrar no carro falando que tinha uma dívida para acertar com o pai dela. Já no interior da residência, tentou ter uma relação sexual com a vítima, mas com a resistência dela decidiu mata-la. O resumo feito no laudo sugere que ele forçou um ato sexual já com a menina morta. “Aí eu tive de matar ela e consegui ter relação com ela”, diz o resumo do depoimento.
A perícia aponta que o acusado não possui nenhuma doença mental alienante, mas um quadro compatível com “transtorno de personalidade dissocial” que pode ser considerada uma perturbação de saúde mental, uma “forma de ser” que não tem tratamento, seja medicamentoso ou psicoterápico. Por isso, o laudo informa que existe uma “grande chance de reincidência” caso ele seja solto futuramente, visto que “não terá se arrependido do que fez”.
“As pessoas portadoras de tal tipo de transtorno costumam ser frias de ânimo, não se importam com o sofrimento alheio, agem com intuito de satisfazerem seus prazeres imediatos, sem se importarem com as consequências disso na vida de terceiros. (...) Não aprendem com seus erros. Todavia são pessoas capazes de entenderem o mundo que os cerca e também são capazes de se determinar diante dos fatos, escolhendo o melhor momento para praticar os seus atos delituosos. E isso foi o que ocorreu”, afirma o laudo.
Histórico
O servente também afirmou que fumava crack desde os 14 anos e que chegou a ficar internado para tratamento por 21 dias, mas isso antes de o filho dele nascer e que, a partir de então, decidiu largar o vício. “Depois eu usava muito de vez em quando, mas só quando eu bebia”, afirmou, segundo o documento protocolado na Justiça nesta semana. Ele também admitiu que ficou 11 meses na cadeia antes, por causa de crimes de roubo e receptação.
Segundo o laudo, Reidimar abordou brevemente um caso de estupro pelo qual ele foi acusado em 2015 e acabou absolvido. O Daqui mostrou este caso com exclusividade no começo do ano. O processo foi arquivado porque a partir do momento em que chegou na Justiça a vítima não foi mais localizada e não foi interrogada. A reportagem a localizou em 2023 e ela explicou que se mudou por medo, porque ele continuava solto e morando próximo a sua casa.
O Ministério Pùblico do Estado de Goiás (MP-GO) havia se posicionado contra o exame de insanidade. O processo se encontra suspenso até a validação do laudo pela Justiça.
Processos
O servente de pedreiro responde dois processos por feminicídio quadruplamente qualificado, com agravante por as vítimas serem crianças. Luana e Thaís moravam no mesmo bairro que Reidimar, sendo que o caso de 2019 só foi descoberto após a morte de Luana, quando a Polícia Civil suspeitou das semelhanças no perfil das jovens e a proximidade geográfica do desaparecimento desta com a casa do servente.
No caso de quatro anos atrás, Thaís havia se separado de uma tia em um ponto de ônibus no bairro e foi até uma feira livre. Ao passar em frente à casa do acusado, entrou pelo portão e perguntou pelo filho dele. Foi neste momento que foi rendida. Até a prisão de Reidimar em 2022, a polícia e a família acreditaram que ela havia fugido da casa em que morava.
Nas duas confissões, Reidimar conta que estava sob efeito de drogas ou de álcool. Desde a prisão, porém, os depoimentos do servente têm apresentado algumas contradições, principalmente envolvendo a forma como as meninas foram mortas, que não batem com o que a Polícia encontrou nos locais.