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Lixo invade Goiânia no feriadão e causa revolta

Wesley Costa
Servidores da Comurg recolhem sacos de lixo no Goiânia 2

No feriadão dedicado à Nossa Senhora Aparecida, às crianças e aos professores, Goiânia foi tomada pelo lixo. Pelas redes sociais foram intensas as manifestações de indignação de moradores da capital com o descaso da Companhia Municipal de Urbanização de Goiânia (Comurg), responsável pela limpeza da cidade. Em diversos bairros, a combinação do calor escaldante com o acúmulo dos dejetos provocou mau cheiro, atraiu insetos e levou à formação de larvas, numa evidente ameaça à saúde pública.

A Comurg, que nos últimos meses vem sendo alvo de denúncias de má gestão e de acúmulo de comissionados, enviou uma nota sucinta ao jornal, na sexta-feira, explicando que “constantes quebras dos caminhões compactadores têm motivado atrasos na coleta de lixo na cidade, no entanto, a companhia trabalha para normalizar esse serviço nos próximos dias”. A nota não explica porque vêm ocorrendo as “constantes quebras” dos veículos e o que a empresa tem feito para evitar que o problema volte a ocorrer.

A  reportagem percorreu vários locais da capital nesse domingo e fez registros impressionantes. Na Avenida Pedro Paulo de Souza, acima da Avenida Perimetral, no Goiânia 2, o lixo de três torres de edifícios residenciais impacta o cenário da região. Foi nessa mesma avenida, abaixo da Perimetral, que três coletores, lidavam, sob o sol escaldante, com o lixo acumulado há dias. Ao colocar os sacos no velho caminhão compactador, não tinham como evitar o chorume, o líquido de odor nauseante formado no lixo. “Estamos trabalhando direto, sem folga, sem feriado. Precisamos do emprego, não podemos parar”, contou um deles.

O supervisor da coleta na região, Luiz Carlos, contou que dos 12 caminhões compactadores à disposição de sua garagem, somente 3 foram para a rua na última semana. “Esta semana será melhor, vamos colocar 9. Síndico de um prédio com 52 apartamentos na Praça da T-23, no Setor Bueno, João Zanini preferiu não esperar a coleta porque o lixo acumulado já estava incomodando os moradores por causa do mau cheiro. “Eu contratei uma empresa especializada e paguei 400 reais para recolher o lixo na quarta-feira (11)”.

Na Praça Santa Cruz, no coração do Setor Jaó, moradores com suas lixeiras abarrotadas, passaram a usar o espaço da pequena lixeira no logradouro público para depositar seus dejetos. Uma solução encontrada em muitos pontos de Goiânia: ilhas de avenidas e praças repletas de lixo, um movimento de aparente “retaliação” à administração pública. Em áreas residenciais em vias internas, que recebem menor fluxo de veículos, portanto com menor visibilidade, o lixo está acumulado há dias.

No Lago das Rosas, lotado no feriadão por causa do acesso ao Zoológico, e também pela área verde cobiçada em dias quentes, há dois grandes montes de lixo. “Há dias que a Comurg não retira”, disse uma permissionária de quiosque. A aposentada Benta Cardoso, que estava no parque, contou que em sua rua, no Bairro Capuava, as larvas do lixo acumulado já estão entrando dentro de casa. “Há mais de semana que não passa o caminhão. De dia os passarinhos comem as larvas, mas à noite estou sofrendo, além do mau cheiro”.

No dia 8 deste mês, reportagem do Jornal O Popular revelou que o número de servidores comissionados continua subindo na Comurg, uma empresa pública de capital misto, que tem a Prefeitura de Goiânia como sócia majoritária. Uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) foi criada pela Câmara de Vereadores para investigar possíveis irregularidades na companhia. Durante o tumultuado funcionamento da CEI havia entre 350 e 357 comissionados, mas a partir de agosto, com a entrega do relatório final, o número subiu para 393. O plenário da Câmara Municipal ainda não apreciou o relatório.

À frente da Comurg desde abril de 2022, Alisson Borges tem reconhecido a incapacidade da companhia em prestar os serviços de coleta de lixo. Ele defende a terceirização dos serviços. “Estão querendo vender toda a empresa. Já vimos essa história antes. Quando deixam de prestar o serviço adequado, alegando dificuldades financeiras, é porque tentam negociar o bem público a preço irrisório”, comentou um professor universitário que reside no Goiânia 2, região norte da capital. A dívida da Comurg, segundo seu presidente, chega a R$ 1,5 bilhão.

A última vez que a Comurg renovou sua frota, incluindo 49 caminhões compactadores, foi em agosto de 2020. Em depoimento à CEI, em junho deste ano, o gerente de manutenção dos caminhões de coleta de lixo, Valter Manoel dos Santos comentou que a companhia possui 109 caminhões compactadores, mas somente 44 estavam executando o serviço. Entre os 65 parados, estavam os 49 comprados por último. O gerente alegou que a maioria dos caminhões possui caixa de câmbio automática e que as peças precisam ser importadas.

VIDA ÚTIL MENOR

Valter Manoel dos Santos disse ainda que a natureza do serviço é responsável pela menor vida útil dos veículos. “Para esse trabalho, o tempo de um caminhão é mínimo. A embreagem é uma das peças que mais quebra. Em um carro comum, a embreagem é prevista para durar até 70 mil quilômetros rodados. No nosso serviço, ela roda no máximo 12 mil quilômetros”, disse ele à CEI.

Tratores e pás carregadeiras estão sendo utilizados pela Comurg para recolher o lixo que está muito acumulado, tanto em regiões nobres, quanto na periferia. Neste domingo, a reportagem se deparou com a revolta até mesmo de um servidor da Comurg. “Estamos nos desdobrando para coletar o lixo. Se a Prefeitura não tem dinheiro para resolver o problema, por que estão pagando esses shows para comemorar o aniversário de Goiânia? Esses cantores cobram muito caro”, disse ele.

Amado Batista se apresentou no sábado (14), na Praça da Feira, na Avenida Mangalô, no Setor Morada do Sol. Seu cachê é estimado em R$ 170 mil. Leonardo, que cobra em torno de R$ 350 mil, vai cantar na Praça do Trabalhador, no dia 24, no aniversário de 90 anos de Goiânia. Também estão na programação nomes como De Paulo e Paulino, Léo Magalhães, Gian e Giovani, Rio Negro e Solimões, entre outros.

Wesley Costa
Na Avenida Pedro Paulo de Souza, no Goiânia 2, o lixo de edifícios residenciais impacta o cenário da região
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