Bairros de Goiânia voltaram a sofrer coma a falta de coleta de lixo no início desta semana. Nesta terça-feira (16), a reportagem verificou grandes quantidades de sacos amontoados em lixeiras de prédios do Setor Bueno. Moradores do Setor Jaó reclamam de interrupções recorrentes no serviço. Na última semana, situações semelhantes foram verificadas em vários bairros da capital.
A Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) informou que, nos últimos dias, a coleta de lixo na capital tem passado por instabilidades no que se refere à frequência. Apesar disso, a Comurg afirma que “quando a coleta deixa de ser feita de acordo com a programação, isto é, no dia pré-estabelecido, ela é executada no dia seguinte.”
A presidente da Associação de Moradores do Setor Jaó (Amojaó) e do Conselho Comunitário de Segurança do Setor Jaó (Conseg Jaó), Adriana Dourado, conta que o serviço fica até quatro dias sem passar por lá. “O certo é a coleta acontecer segunda, quarta e sexta. Entretanto, semana passada ela passou na sexta e depois só na quarta. Os moradores reclamam, pois acumula muito lixo na porta das casas”, diz.
Adriana relata que as interrupções do serviço acontecem desde o fim do primeiro semestre de 2022. “Eles conseguem manter a regularidade por algum tempo, mas logo depois passamos por alguns dias sem o serviço ocorrer adequadamente. O grande problema é que como aqui a coleta só acontece três vezes por semana, qualquer dia com falha do serviço causa transtorno”, aponta.
Nesta terça, a reportagem observou dezenas de sacos amontoados em lixeiras de prédios na Avenida T-3, no Setor Bueno, nas proximidades da Avenida T-63. Matéria publicada no site do jornal na última quarta-feira (10), apontou que bairros como Castelo Branco, Santo Hilário, Jardim Santo Antônio e Residencial Della Penna, estavam havia vários dias sem receber a coleta de lixo.
Caminhões
No mesmo dia, a TV Anhanguera mostrou que alguns locais da capital já estavam havia seis dias sem o serviço. Na data, o Jornal Anhanguera 1ª edição mostrou que cinco caminhões de coleta estavam parados no pátio da Comurg, um deles sem uma roda. A TV também flagrou uma pá carregadeira sendo usada de forma improvisada para coletar lixo no Parque Oeste Industrial.
A Comurg explicou que o serviço de coleta de lixo “exige bastante dos caminhões, que por sua vez, sofrem com o desgaste natural devido ao tempo de uso, e em função disso, as quebras são frequentes” e que “um dos grandes problemas é a escassez de peças de reposição no mercado.”
A companhia comunicou ainda que “não mede esforços para sanar todas as dificuldades, e voltar a prestar os serviços com a qualidade de sempre, o que deve ocorrer muito em breve”. Em relação aos problemas dos setores Bueno e Jaó, a Comurg pontuou que irá verificar as reclamações dos moradores e “tomará as devidas providências.”
Licitação
Porém, uma solução definitiva para o problema da coleta de lixo, em Goiânia, ainda está distante. Uma licitação para terceirização dos serviços de coleta de resíduos sólidos e seletiva, remoção de entulhos, gestão do aterro sanitário e implantação da varrição mecanizada nas vias públicas, estimada em R$ 520,9 milhões, estava prevista para o dia 5 deste mês. Entretanto, um dia antes ela foi suspensa pela Prefeitura.
A suspensão ocorreu logo após uma liminar interrompendo o certame ser decretada por Daniel Goulart, conselheiro do Tribunal Municipal de Contas dos Municípios do Estado de Goiás (TCM-GO). O conselheiro havia acatado o posicionamento da Procuradoria de Contas com base em análise da Secretaria de Fiscalização de Obras e Serviços de Engenharia do TCM-GO.
A cautelar suspendendo o edital foi publicada a partir de um pedido dos vereadores Ronilson Reis (PMB) e Welton Lemos (Podemos). Eles, que integram a Comissão Especial de Investigação (CEI) criada pela Câmara Municipal para investigar a situação da Comurg, tinham suspeitas de irregularidades no processo licitatório. Além disso, dentro da Secretaria Municipal de Administração (Semad), que realiza a licitação, já havia dez impugnações feitas por empresas questionando possíveis problemas no edital.
Na última quarta, os conselheiros do TCM-GO acataram o relatório de Goulart e mantiveram a suspensão do certame. Dentre os problemas detectados pelos técnicos do TCM-GO, constam a forma como foi feita a divisão dos lotes de serviços, ausência de plano de trabalho e um possível superfaturamento no valor estimado pela Prefeitura para o serviço de varrição mecanizada.
O superfaturamento seria de 232,44% no valor estimado pela Prefeitura para o serviço de varrição mecanizada. Em vez de custos de R$ 127,4 milhões por dois anos, o órgão avaliou que seria de R$ 38,2 milhões. A administração municipal negou haver sobrepreço e aponta falhas na forma como a análise foi feita. Mas em uma nova avaliação, que consta na decisão de Goulart, os técnicos mantiveram a possibilidade de sobrepreço, corrigindo o valor previsto por eles para o serviço, que estava em R$ 37,1 milhões.
Durante a sessão do pleno do TCM-GO, o conselheiro Joaquim de Castro disse ter ouvido dos técnicos da Prefeitura que se a licitação não for feita até setembro “será o caos” em Goiânia em relação à coleta de resíduos sólidos.