O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou nesta sexta-feira (9) cinco ministros que vão compor o seu governo a partir de janeiro. O anúncio foi feito a jornalistas no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), sede do gabinete de transição, em Brasília.
O senador eleito Flávio Dino (PSB) irá para o Ministério de Justiça e Segurança Pública; o governador da Bahia, Rui Costa (PT), para a Casa Civil; o diplomata Mauro Vieira para o Itamaraty; o ex-ministro da Defesa José Múcio Monteiro para a Defesa; e o ex-ministro Fernando Haddad para a Fazenda.
Os últimos dois nomes eram os mais esperados e que mais sofriam pressão para serem anunciados. Na Economia, há expectativa de que com a indicação do ministro, as negociações em torno da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) sejam facilitadas.
Por outro lado, o titular da Defesa é aguardado para tentar pacificar a relação do governo petista com as Forças Armadas, após quatro anos de crise e politização no governo de Jair Bolsonaro (PL).
Também por este motivo, Lula já deve anunciar nesta sexta os nomes dos comandantes: general Julio Cesar de Arruda, no Exército; almirante Marcos Sampaio Olsen, na Marinha; e o brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno (Aeronáutica).
Os nomes foram escolhidos pelo presidente eleito e por Múcio respeitando o critério de antiguidade, numa tentativa de desarmar a resistência e eventual insubordinação de militares.
Os anúncios desta sexta-feira dão a largada no primeiro escalão de Lula. Inicialmente, a ideia do presidente eleito era anunciá-los após a diplomação, marcada para a próxima segunda-feira (12), no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Mas, de acordo com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ele decidiu antecipar os nomes que já estavam certos para evitar maiores especulações. Além disso, os nomes já começam também a se movimentar. O futuro ministro da Fazenda já se reuniu com representantes do Banco Mundial para discutir os investimentos da organização no Brasil e participou de jantar na Febraban. Ele também esteve nesta quinta-feira com o ministro Paulo Guedes (Guedes) no ministério nesta semana.
Apesar dos anúncios, Lula não disse ainda, contudo, quantos ministérios deve ter o seu terceiro mandato. A expectativa de aliados, com base em conversas e no número de GTS (grupos de trabalho) na transição, é de que fique em torno de 31. Hoje, sob Bolsonaro, são 23.
Na semana passada, ele havia dito que já tinha "80% do ministério na cabeça", mas que gostaria de construir uma Esplanada com a frente ampla que ajudou a elegê-lo.
Lula contou com o mais amplo leque de partidos durante a campanha, com o apoio de nove siglas à sua coligação: Rede, Solidariedade, Avante, Agir, PC do B, PSOL PV e PSB, além do PT.
Após a vitória, passou ainda a articular uma base no Congresso com União Brasil, MDB e PSD. Os dois últimos também compõem o núcleo político no gabinete de transição, assim como o Cidadania.
O tamanho da frente ampla também reflete na lista de indicados para o gabinete de transição, que agora já supera 900 integrantes. Edição extra do Diário Oficial da União, publicada no início do mês, oficializou 477 novos nomes que passam a integrar a equipe de transição, em diferentes grupos técnicos e também no Conselho de Participação Social do Gabinete de Transição Governamental. Com isso, o total chega a 904 integrantes.
No total, há 50 cargos com salários disponíveis para a equipe de Lula, o mesmo número previsto em transições anteriores, mas apenas 22 foram nomeados. Como a Folha de S.Paulo mostrou, a transição inchada já antecipa a dificuldade que o presidente eleito terá para compor o seu governo com as mais distintas forças políticas. Em grupos de trabalho e na disputa por comandar ministério, já causa ruídos.
O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), disse na quinta-feira (8) que o anúncio de ministros do governo deve ser feito de forma gradual e sem açodamento. Ele ressaltou que Lula já pensou nos primeiros nomes.
"Você vai gradualmente escolhendo os nomes, anunciando. Primeiro, não deve ter açodamento. Segundo, deve ser gradual mesmo, vai fazendo em paz. Ouvindo muito, o que é muito bom", ressaltou Alckmin.
Em meio ao anúncio dos primeiros nomes, o PT deve pleitear junto a Lula a presença do partido no comando de ministérios considerados estratégicos.
Já Gleisi disse, também na quinta-feira, que o PT prepara uma lista que será entregue a Lula até o começo da próxima semana com indicações de nomes do partido para esses postos-chave.
Ela citou os ministérios da Fazenda, da Casa Civil, da Educação, da Saúde, do Desenvolvimento Agrário, do Desenvolvimento Social e das Cidades. "Tem áreas que nós achamos que são estratégicas e importantes para o partido estar presente. Claro, o núcleo de governo, como Fazenda, Casa Civil, como é o partido do presidente da República acho que isso é até natural. Além de ser do partido tem que ser de muita confiança do presidente, de muita relação com o presidente."
A dirigente afirmou que o PT compreende que legendas aliadas devem participar do processo, mas pontuou que a legenda pleiteia esse espaço. "Sabemos o tamanho que nós somos, o tamanho que é o PT, a importância que teve nesse processo. É o partido maior da coligação, o partido do presidente, nós também queremos colocar os nossos nomes, as nossas propostas para os ministérios."
Petistas afirmam que o partido tem a expectativa de comandar de dez a 12 ministérios. A legenda também cobiça as pastas da Cultura, da Articulação Política e a Secretaria-Geral da Presidência.