Na segunda-feira (30), às 18 horas, o governador Ronaldo Caiado irá assinar a ordem de serviço para as obras de reforma, restauro e readequação do Colégio Estadual de Período Integral (Cepi) Lyceu de Goiânia. Será a maior intervenção na história do prédio de 86 anos, cuja arquitetura apresenta características neocoloniais e art déco. É a unidade de ensino pioneira da capital, um bem tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Governo de Goiás. O planejamento inicial prevê dois anos de obras.
O início das obras, de imediato, marca a concretização de um trabalho executado pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc) desde 2021. Há dois anos começaram a ser elaborados os projetos para a restauração e requalificação do Lyceu de Goiânia, o mais emblemático espaço educacional da cidade. Nomes relevantes da história política, cultural e da educação do estado, que frequentaram o colégio como alunos e professores, estão sendo convidados para a cerimônia desta segunda-feira.
Superintendente de Infraestrutura da Seduc, Gustavo Jardim explica que a relevância do Lyceu exigiu tanto um olhar mais apurado e atenção afetiva quanto cuidados redobrados na elaboração dos projetos. “Por ser um bem tombado, tudo é muito minucioso.” O conjunto do Lyceu tem uma característica diferenciada. O que é tombado pelo Iphan são o bloco A, o pórtico de acesso principal com portão de ferro, os muros e o portão de ferro nas esquinas das ruas 21 com a 19. Já o Estado de Goiás tombou o bloco A e o anexo voltado para a Rua 15. “Foi um projeto atípico porque ficamos dependendo de muitos atores para as aprovações.”
Gustavo Jardim detalha que o edifício histórico será restaurado por ser um bem tombado; reformado nos pontos não efetivamente tombados; e requalificado, em especial na parte interna, ampliando o colégio. “Vamos revitalizar todo o espaço interno que hoje possui duas quadras descobertas e passarelas totalmente descaracterizadas do bem tombado. A ideia é transformar o espaço em área multiuso, de convivência, combinando com a arquitetura da edificação. O projeto valoriza a ampliação da área verde, com permeabilidade.” Internamente ou na parte externa, ainda não tem nada definido sobre remoção de árvores. “Em caso de necessidade, nada será feito sem a anuência do Iphan.”
Os “puxadinhos” que o Lyceu ganhou ao longo dos anos vão desaparecer, conforme o superintendente de Infraestrutura da Seduc. “O Lyceu não é apenas uma escola, é uma referência cultural”, lembra Gustavo Jardim. A intervenção vai alcançar cada metro quadrado que faz parte do edifício, com renovação de instalações elétricas e hidráulicas e do sistema anti-incêndio, criação de acessibilidade, entre outros. Todos os ambientes estão contemplados no projeto de climatização. Em 2009, o bloco principal recebeu melhorias para a exposição Casa Cor.
A grande expectativa se volta agora para a pintura do prédio. A proposta é que seja identificada uma cor similar à original do edifício. “Durante o processo de restauração será feita uma estratigrafia, uma espécie de raspagem nas paredes para tentar encontrar a primeira cor. Só depois desse processo vamos fazer os testes para definir a pintura”, afirma Gustavo Jardim. O superintendente de Infraestrutura da Seduc não esconde a empolgação com a grandiosidade do projeto. “Toda a comunidade será contemplada, porque o Lyceu é o maior símbolo da área da Educação em Goiás. Queremos devolver o edifício para onde ele deveria estar.”
Trabalho será fiscalizado pela Seduc e pelo Iphan
Serão gastos na intervenção R$ 13,5 milhões, recursos do Tesouro estadual e federal, de fomento às escolas de tempo integral. À frente das obras estará a Marsou Engenharia, que venceu o processo licitatório. A empresa goiana atua na construção civil e na restauração de patrimônios históricos. No seu portfólio estão intervenções na Catedral Basílica de Salvador (BA) e no Palácio das Esmeraldas, em Goiânia. Gustavo Jardim salienta que sete fiscais da Seduc vão acompanhar o trabalho, que também será supervisionado pelo Iphan.
É difícil encontrar nas muitas gerações de goianienses alguém que não tenha o Lyceu como referência. Muitos alçaram voos mais altos no cenário nacional. Ex-prefeito de Goiânia e agora à frente da superintendência regional do Iphan, Pedro Wilson Guimarães é um de seus ex-alunos. “O Lyceu é um dos símbolos da mudança da capital e, mais tarde, junto com o Colégio Pedro Gomes, se tornou centro de atividade política da juventude. Por ele passaram os professores que se tornaram os primeiros docentes das Universidades Federal e Católica de Goiás.”
Dentro da família, o superintendente de Infraestrutura da Seduc, Gustavo Jardim, consegue dimensionar o tamanho da responsabilidade que assumiu pelos próximos 24 meses. “O meu pai, o cantor e arquiteto Gustavo Veiga, que estudou no Lyceu ficou muito feliz com a notícia. Ele disse que estamos fazendo história. Sei que essa proposta atinge muita gente.”
Espaço compartilhado
Há seis anos no cargo de diretor do Lyceu de Goiânia, o biólogo Ricardo Marques Pinto considera inusitada e inovadora a proposta da reforma. “Tenho certeza que nenhuma outra escola de Goiânia, pública ou privada, terá a estrutura física prevista. A minha grande expectativa é que a população entenda que o legado do Lyceu não acabou. Aqui todos os professores são mestres ou doutores e ao longo dos anos continuamos trabalhando. Com a reforma, teremos espaços mais adequados, ambientes climatizados, mais tecnologia e acessibilidade e isso traz um grande fomento ao processo pedagógico.”
Para o início da intervenção, o prédio principal já foi desocupado. O ano letivo será finalizado pela comunidade escolar no próprio prédio em espaços que foram adequados nos dois blocos restantes. Até o dia 15 de dezembro, matrículas para 2024 podem ser feitas também no local. A partir do ano que vem, os alunos serão atendidos no Cepi José Honorato, localizado na Rua 59, no Centro, numa gestão compartilhada. Hoje com 11 turmas, o Lyceu e o José Honorato terão redução de turmas no próximo ano em razão do compartilhamento do prédio.
Na história
O Lyceu foi criado em 1846 na antiga capital, Vila Boa, hoje cidade de Goiás. Foi a primeira escola secundária da então província de Goyaz. A referência para o seu surgimento foi o Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, que por sua vez teve como modelo instituições da França e Portugal que se inspiraram em padrão baseado em educação humanística da antiga Grécia. Com a mudança da capital para Goiânia, o colégio também foi transferido, sendo inaugurado em 1937. Vários nomes perpassam sua história: de 1937 a 1942 permaneceu como Lyceu de Goyaz, embora já estivesse em Goiânia; Em 1943 passou a se chamar Colégio Oficial de Goiás e Colégio Estadual de Goiás. Em 1946 passou a se denominar Ginásio Oficial de Goiás. Mas nunca perdeu o nome original. Lyceu sempre foi a denominação dada à escola que mudou o comportamento de muitas gerações. Somente em 1976, a Assembleia Legislativa aprovou a lei que oficializou o nome Lyceu de Goiânia.