A médica presa suspeita de sequestrar uma recém-nascida em hospital tem transtorno afetivo bipolar e está em tratamento desde março de 2022, de acordo com relatório médico. O psiquiatra que a acompanha informou no documento que a última prescrição feita para Claudia Soares Alves, de 42 anos, indicava seis remédios psiquiátricos controlados.
O relatório médico foi assinado pelo psiquiatra Luiz Marcio Lima, de Uberlândia. Além do transtorno afetivo bipolar, o documento diz que ela apresenta diagnósticos de ansiedade generalizada e transtorno do pânico. O relatório explica que, por conta do diagnóstico principal, Claudia alterna entre dois tipos de crises.
“(...) A paciente apresenta crises recorrentes de humor deprimido, anedonia, desânimo, irritabilidade, insônia e ideação suicida, alternadas por crises recorrentes de elevação de humor, grandiosidade, persecutoriedade, aumento de atividades, o que prejudica gravemente seu juízo crítico da realidade e a incapacita temporariamente (durante as crises) de compreender a natureza inadequada e/ou ilícita de atitudes suas”, descreve o documento.
Em nota, a defesa da médica reitera o que foi afirmado pelo médico, dizendo que no momento dos fatos ela "se encontrava em crise psicótica”. Ainda afirma que vai demonstrar em juízo que a acusada é portadora de transtorno afetivo bipolar. (Veja nota na íntegra ao final do texto)
O delegado do caso, Anderson Pelágio, afirmou que a mulher ficou em silêncio em depoimento, mas informalmente alegou que teria tomado remédio controlado e entrou em um surto, e que, com isso, resolveu sequestrar a criança e levar para Itumbiara.
Essa informação a Polícia Civil não acredita, até porque, no local dos fatos, na casa dela e no carro que ela utilizou para poder sequestrar essa criança, já haviam itens de crianças inclusive com cores rosas, indicando que ela esperava uma menina, né? Então, o que indica que ela já premeditou esse crime e que realmente ela já sabia dessas intercorrências", detalhou o delegado.
A médica tinha fraldas, banheira e até uma piscina infantil dentro do carro, segundo imagens divulgadas pela Polícia Civil. Os policiais também encontraram roupinhas da bebê, sapatos e duas bolsas no carro da neurologista. À polícia, Claudia teria dito que o enxoval seria um presente para a diarista que trabalha na casa dela, que está grávida.
O caso segue sendo investigado pela Polícia Civil (PC) e segundo o delegado a expectativa é de que o inquérito seja concluído em 10 dias.
Sequestro
A bebê foi sequestrada na noite de terça-feira (23) no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU), em Minas Gerais. Segundo a Polícia Civil, a menina nasceu por volta das 20h e foi raptada aproximadamente às 23h30. A ação teria sido flagrada por câmeras de segurança da unidade de saúde.
O pai, o motorista Edson Ferreira, contou que Cláudia foi até o quarto onde a família estava, chegou a mexer nos seios da mãe, com a desculpa de que estaria verificando a produção de leite. Depois, se apresentou como pediatra e informou que levaria a recém-nascida para se alimentar. "Minutos depois, eu vi que a minha menina não voltava, e aí percebemos que ela tinha sido levada", contou.
Ao questionar os profissionais da unidade sobre o paradeiro da filha, descobriu que ela havia sido sequestrada. Equipes de segurança do hospital foram acionadas, mas a suspeita já tinha fugido.
A administração do hospital de onde a bebê foi raptada disse que já iniciou apuração interna do caso e está colaborando com as investigações. Também ressaltou o "compromisso com o aprimoramento dos processos de trabalho, especialmente com os controles de acesso no hospital para garantir que outro caso como esse não volte a acontecer".
Conforme a Polícia Civil, a médica se aproveitou do fato de ser concursada no hospital, apresentou o crachá e entrou. Momentos depois, câmeras de segurança do hospital, que mostraram a suspeita saindo com uma mochila - onde suspeita-se que estaria a recém-nascida. Já fora da unidade, a suspeita entra em um carro vermelho que estava estacionado e foge.
Prisão
Claudia Soares Alves foi presa nesta quarta-feira (24), após a polícia encontrar a bebê sequestrada na casa dela, em Itumbiara, no sul de Goiás, aos cuidados da diarista. No carro da suspeita, os investigadores encontraram itens como fraldas, banheira e até uma piscina infantil. Todos os objetos foram apreendidos. Nesta quinta-feira (25), a Justiça manteve a prisão da mulher durante audiência de custódia.
A recém-nascida foi levada ao Hospital Municipal Modesto de Carvalho, onde a família a buscou.
Suposta gravidez
"No momento da prisão, Claudia chegou a alegar que estaria grávida, no entanto, ela passou por exame de corpo de delito no Hospital Municipal Modesto de Carvalho, em Itumbiara, e médicos descartaram a gravidez durante o procedimento, conforme explicou o delegado Anderson Pelágio. "Agora, claro, existem exames mais precisos. Caso a defesa queira comprovar isso nos autos, já fica o ônus processual deles", afirmou o delegado.
Cláudia foi autuada em flagrante por sequestro qualificado e poderá pegar de dois a cinco anos de reclusão.
Quem é a médica
Como mostrou o Daqui, Claudia é formada em medicina pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e atende como neurologista em Itumbiara. Também é professora na Universidade Estadual de Goiás e na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Nas redes sociais, ela resume a medicina como sua paixão e a docência como uma missão. “A medicina é minha paixão. A docência é minha missão e a jornada é minha inspiração", afirma a médica em uma publicação.
Posicionamentos
Nota da defesa
"A defesa técnica da Médica Claudia Soares Alves, por intermédio do advogado que a representa, Dr Vladimir Rezende, e em atenção às inúmeras solicitações da imprensa acerca dos motivos que teriam desencadeado o ilícito de sequestro de incapaz amplamente noticiado em rede nacional na presente data, esclarece que irá demonstrar em juízo que a acusada é portadora de transtorno afetivo bipolar e no momento dos fatos se encontrava em crise psicótica, não tendo capacidade de discernir a natureza inadequada e/ou ilícita de suas atitudes."
Nota HC-UFU
"O HC-UFU informa que por volta da meia-noite uma mulher trajada como profissional de saúde, portando crachá da Universidade, entrou na maternidade e evadiu com um bebê recém-nascido do sexo feminino.Poucos instantes após o fato, a equipe do hospital acionou a Polícia Militar de Uberlândia e cedeu as imagens das câmeras de segurança requisitadas pela corporação.
O HC já iniciou apuração interna de todas as circunstâncias do caso e está colaborando com as investigações. A instituição está à inteira disposição das autoridades e da família para a breve solução do caso".
Nota Conselho Federal de Medicina
"O Conselho Federal de Medicina (CFM) é uma instância de julgamento em grau de recurso. Com a finalidade de assegurar sua isenção, o CFM não comenta casos concretos. Denúncias e queixas relacionadas ao médico no exercício da profissão podem ser apresentadas no Conselho Regional de Medicina do estado onde ocorreram os fatos.
A partir daí, o CRM pode determinar a abertura de uma sindicância. Caso seja confirmada a irregularidade, é iniciado um processo ético-profissional, durante o qual são assegurados o direito à ampla defesa e ao contraditório. Após, o processo é julgado, sendo que, em caso de condenação, o acusado fica suscetível às penalidades previstas em lei.
O CFM reitera ainda ser contrário a qualquer tipo de violência ou abuso praticado por médicos e não médicos, entendendo que cabe às autoridades competentes a condução de investigações específicas para apurar responsabilidades na esfera cível e criminal".