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Músicos criticam decreto da Prefeitura de Goiânia

Wildes Barbosa
Carlos Brandão: “Não fomos respeitados. Faltou diálogo”

Músicos que se apresentam em bares e restaurantes de Goiânia alegam que não foram ouvidos pela Prefeitura antes da publicação do decreto que proíbe apresentações nesses estabelecimentos. A medida visa diminuir a transmissão do coronavírus (Sars-CoV-2). De acordo com os artistas, vários deles não têm como se sustentar.

O decreto passa a valer nesta quinta-feira (25). A Prefeitura afirma que a decisão foi tomada na tentativa de desestimular a presença do público nesses locais. Xexéu, da banda Noys é Noys, acredita que o poder público tenha boa intenção, mas que a decisão sacrifica os músicos, que já enfrentam dificuldades para trabalhar desde março do ano passado. “Seria mais justo então fechar tudo. Como a música pode interferir no aumento de casos da Covid-19?”, questiona.

Xexéu diz que até na última semana trabalhou e estava tomando todos os cuidados necessários. “Eu chegava já na hora do show e de máscara. Só tirava para cantar. Cuido da minha mãe de 83 anos. Acha que seria irresponsável de colocar a vida dela em risco?”.

O músico e produtor cultural Carlos Brandão afirma que o novo decreto contraria apenas os músicos e artistas. “Todas as áreas foram ouvidas. Os bares e restaurantes continuaram abertos. A Região da 44 também. Nós não fomos respeitados. Faltou diálogo”, afirma. “Desde ambulantes até instrumentistas. Tem gente que perdeu tudo. Ninguém está nem aí para a classe artística”, enfatiza.

Cantor e compositor, Valter Mustafé diz que a mudança prejudica os profissionais e suas famílias, que dependem disso. “Vou colaborar no que puder, porque vivemos um momento crítico, mas tenho minhas ressalvas. Nas minhas apresentações, não existe aglomeração, os músicos respeitam os protocolos. O foco deveriam ser as festas e eventos clandestinos.”

Mustafé diz que a medida é radical. “Os eventos que vinham acontecendo eram particulares, com pouquíssimas pessoas. Tem gente que tem apenas na música o recurso para manter a família”, afirma.

Empresários do setor já anunciaram o fechamento de estabelecimentos. É o caso do proprietário do Bolshoi Pub, Rodrigo Carrilho. “Não temos condições de continuar. Como vamos funcionar sem música?”, questiona. O espaço, que já recebeu dezenas de shows nacionais e internacionais, existe há 17 anos.

Carrilho conta que desde o ano passado enfrenta dificuldades. “Tive que dispensar 50% da minha equipe”, pontua. “Quando nós abrimos, seguimos todos os protocolos. Acredito que a promoção de festas ilegais, onde não existe nenhum controle sanitário, será maior agora”, afirma.

O secretário de Governo (Segov) do município, Andrey Azeredo, explica que a música foi proibida nos bares porque os estabelecimentos que têm esse tipo de atração costumam atrair mais gente. “A intenção foi manter as atividades, mas com limitações e restrições. Percebemos que esse era um fator que atrai muito o público”, esclarece.

Azeredo afirma que em ambientes com música, por conta do som alto, as pessoas costumam falar mais alto e ficarem mais próximas umas das outras. “Já estão sem máscaras e acabam falando mais perto ou mais alto”, ressalta. 

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