Uma média de 322,3 mil jovens goianos com idade entre 15 e 29 anos não trabalharam e não estudaram durante 2022, o que corresponde a 18,3% das 1,7 milhão de pessoas na faixa etária citada. Os números tiveram uma queda em relação ao ano de 2021, quando 374,6 mil jovens (21,7%) estavam nessa condição. Conhecidos como “nem-nem”, os jovens que não estudam e não trabalham representam um risco para o bom desenvolvimento do mercado de trabalho e previdência social.
Os dados são de um estudo feito pelo Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Pesquisas Socioeconômicas (IMB). Goiás foi o estado que apresentou o oitavo menor porcentual da população “nem-nem”. A média nacional foi de 20,90%. O número teve um aumento entre 2019 (20,2%) e 2020 (24,4%) motivado pela pandemia da Covid-19. Entretanto, desde então, ele apresenta queda, sendo que o número registrado em 2022 foi o menor desde 2012 (18,8%).
O diretor-executivo do IMB, Erik Alencar de Figueiredo, explica que o Brasil passa por um movimento demográfico de envelhecimento da população. O estreitamento da base da pirâmide etária combinado com o número de jovens que não estudam e não trabalham pode ser perigoso. “A realidade é que temos menos jovens do que antigamente, o que já significa uma redução da força de trabalho. O que vai acontecer se eles optarem por não trabalhar e não estudar?”, questiona.
Figueiredo esclarece que, em médio prazo, as consequências são percebidas principalmente no mercado de trabalho. “Daqui dez anos, dificilmente essas pessoas vão estar no mercado de trabalho formal. Se estiverem, vão ocupar cargos que exigem nenhuma ou pouca qualificação. Isso reflete diretamente na produtividade do mercado de trabalho”, argumenta.
A longo prazo, a principal consequência é o gasto que o grupo vai representar em termos previdenciários. “São pessoas que vão ter tido pouca ou nenhuma contribuição para a própria aposentadoria e vão acabar pressionando a previdência social, algo que já é um problema histórico no Brasil”, aponta o diretor-executivo do IMB.
Políticas públicas
Figueiredo conta que a realidade dos jovens “nem-nem” está muito relacionada ao desalento que enfrentam na procura por empregos. “A crise financeira de 2014 destruiu muitos postos de trabalho e dificultou a entrada no mercado. Historicamente, os jovens e as pessoas com mais de 50 anos são aquelas que mais sofrem com esse fenômeno”, diz.
Figueiredo pontua que o fortalecimento das políticas públicas é a saída para continuar reduzindo a quantidade de jovens “nem-nem” no estado. “Nesse sentido, o governo de Goiás vem criando empregos”, enfatiza. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Goiás gerou mais de 11 mil vagas de emprego com carteira assinada em fevereiro deste ano. O número deixou Goiás como líder do ranking no Centro-Oeste, considerando o saldo entre demissões e contratações, e com a sétima melhor posição entre os estados brasileiros.
A evasão escolar na rede estadual de Goiás diminuiu 54% entre 2018 e 2021. Dos 77,8 mil alunos que deixaram os estudos de 2018 para 2019, o total caiu para 35,6 mil, registrados de 2020 para 2021. Os dados representam a quantidade de alunos que não renovaram as matrículas ao final do ano letivo e nem solicitaram transferência para outras unidades de ensino. “O jovem dentro da escola, concluindo o ensino médio, é o cenário ideal para que ele consiga uma colocação melhor no mercado de trabalho”, destaca.
“Não dão oportunidade”
A dona de casa Maria Geisiane de Moura, de 22 anos, é uma das goianas que não estudam e não trabalham. Apesar de nunca ter tido um emprego formal, em 2017, quando tinha 16 anos, começou a trabalhar informalmente como auxiliar de dentista. “A promessa era de que quando eu fizesse 18 anos iam assinar minha carteira de trabalho. Fiquei lá até 2018, quando engravidei. Então, me dispensaram”, conta.
Desde então, Maria tem sobrevivido de bicos e do dinheiro advindo de programas como o Bolsa Família e, durante a pandemia da Covid-19, o Auxílio Emergencial. “Em 2021, eu tive outra filha e tudo ficou ainda mais difícil. Atualmente, sobrevivo principalmente por conta da ajuda dos meus familiares”, relata.
Ainda em 2018, o avanço da gestação fez ela abandonar os estudos no 8º ano do ensino fundamental. Em 2022, ela ingressou na Educação para Jovens e Adultos (EJA) e conseguiu concluir o 9º ano do ensino fundamental e a 1ª série do ensino médio. Entretanto, ela parou de frequentar a escola de novo em 2023.
A intenção da jovem é fazer o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), uma prova oferecida pelo governo que permite a obtenção da certificação do ensino fundamental ou médio. “Já estou me preparando para me inscrever e começar a estudar para a prova, que vai acontecer em agosto deste ano”, diz.
Ainda em 2022, Maria conseguiu matricular a filha mais velha, a única que mora com ela, em um Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) de Aparecida de Goiânia. A expectativa dela é que, com a criança estudando e o diploma de conclusão do ensino médio nas mãos, a procura por um emprego seja mais fácil. “Eu entrego currículo, mas nunca me chamam. Não dão oportunidade. Acredito que a falta do ensino médio tenha peso nisso. Preciso muito de um emprego perto de casa, pois sou a única que pode levar e buscar minha filha na escola”, finaliza.