Por Marcela Freitas com informações da Folhapress e Folha de São Paulo
Na manhã desta segunda-feira (23), o ministro do Planejamento, Romero Jucá, teve uma conversa divulgada no jornal Folha de São Paulo, em que sugeria um ‘pacto’ para tentar barrar a operação Lava Jato, além de outros acordos como o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff e o presidente em exercício Michel temer assumir.
O diálogo foi entre Jucá e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
Confira alguns trechos da conversa divulgados pela Folha de São Paulo:
De acordo com a publicação, a data das conversas não foi especificada.
Sobre o Impeachment:
ROMERO JUCÁ - Eu ontem fui muito claro. [...] Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?
MACHADO - Agora, ele acordou a militância do PT.
JUCÁ - Sim.
MACHADO - Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda.
JUCÁ - Eu acho que...
MACHADO - Tem que ter um impeachment.
JUCÁ - Tem que ter impeachment. Não tem saída.
[...]
MACHADO - Eu acho o seguinte: se não houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é grande.
[...]
JUCÁ - [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca'. Entendeu? Então... Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.
MACHADO - Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo ajudou muito. [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo Ministério Público de SP e à condução coercitiva ele para depor no caso da Lava jato]
Sobre quem assumiria:
MACHADO - Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar.
[...]
JUCÁ - Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.
[...]
MACHADO - Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].
JUCÁ - Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
MACHADO - É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
JUCÁ - Com o Supremo, com tudo.
MACHADO - Com tudo, aí parava tudo.
JUCÁ - É. Delimitava onde está, pronto.
Sobre a permanência de Eduardo Cunha na presidência da câmara dos deputados:
MACHADO - O Renan [Calheiros] é totalmente 'voador'. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso não.
JUCÁ - Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.
Sobre barrar a operação Lava Jato:
JUCÁ - Eu acho que tem que ter um pacto.
[...]
MACHADO - Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém.
JUCÁ - Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou, um cara... Burocrata da... Ex-ministro do STJ [Superior Tribunal de Justiça].
Mesmo com os áudios da conversa divulgada, Jucá tentou se justificar no Twitter:
Quero repelir as interpretações das informações publicadas hoje no Jornal Folha de São Paulo.
— Romero Jucá (@romerojuca) 23 de maio de 2016
As frases da conversa foram pinçadas e colocadas fora do contexto.
— Romero Jucá (@romerojuca) 23 de maio de 2016
Nunca cometi nem cometerei ação para paralisar as ações da lava jato ou de qualquer outra operação.
— Romero Jucá (@romerojuca) 23 de maio de 2016
Chegou até a dizer que não pediria demissão:
Não vejo motivo para entregar o cargo. A minha permanência depende do presidente Temer, hoje, amanhã ou daqui a seis meses.
— Romero Jucá (@romerojuca) 23 de maio de 2016
Não vejo motivo para pedir afastamento. Não me sinto atrapalhando o governo mas ajudando o governo.
— Romero Jucá (@romerojuca) 23 de maio de 2016
Mas no fim da tarde, Jucá anunciou que iria licenciar do cargo.
"Vou pedir uma licença do meu cargo até que o Ministério Público se manifeste sobre meu caso", declarou Jucá a jornalistas após acompanhar o presidente interino, Michel Temer, e outros ministros da área econômica durante uma reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros