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Monumentos reformados já estão danificados no Centro de Goiânia

Diomício Gomes / O Popular
A degradação do coreto é generalizada e monumento precisa de nova restauração

Um relógio no meio da cidade que não marca as horas e um coreto abandonado. Dois bens tombados como patrimônios culturais brasileiros e que passaram por recentes restauros em todas as suas estruturas físicas com o custo de mais de R$ 1 milhão oriundos do governo federal, o Coreto da Praça Cívica e a Torre do Relógio, no início da Av. Goiás, já encontram-se em condições de esquecimento.

Em junho de 2021, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) entregou a obra de restauro do relógio, que passou por uma recuperação completa de seu reforço estrutural. Foi trocada toda a parte de maquinaria e feito um revestimento em sua estrutura física. Mais de um ano depois e os ponteiros do relógio não marcam as horas certas e as luzes tampouco são acesas durante o período noturno.

Já o Coreto passou por uma reforma em 2020, em um minucioso trabalho de recuperação integral da laje, bancos em granitina e revestimentos de pedra portuguesa na área externa. Também retornou com os princípios paisagísticos da época, com recomposição de luminárias, adornos e elementos decorativos, além da execução de calçada acessível e pintura. Dois anos após a reforma e o bem tombado encontra-se pichado, servindo de morada para pessoas em vulnerabilidade social e sem o paisagismo original de quando foi entregue.

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Em 2019, os dois bens municipais foram adotados pela Caixa de Assistência dos Advogados de Goiás (Casag), por meio do programa Adote uma Praça, da Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação. De forma geral, o programa viabiliza ações conjuntas da administração pública municipal com a iniciativa privada, pessoas físicas ou jurídicas - como no caso da Casag - sociedade civil organizada e demais entes públicos em equipamentos públicos, como praças ou outras áreas verdes e monumentos.

Após a restauração, a Casag ficou responsável pela manutenção dos dois monumentos. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Caixa de Assistência explica que o órgão continua responsável pelos bens. “Sempre que há uma necessidade de fazer algum reparo, o Iphan entra em contato com a Casag e ela própria faz o custeio. Ou seja, toda a responsabilidade do patrimônio é do Iphan. A Casag banca o custo de um reparo”, explica em nota.

Sobre a atual situação do Coreto e da Torre do Relógio, a Casag também reitera que até o momento não houve contato do Iphan sobre os possíveis reparos nos monumentos. De acordo com o Iphan em nota, o tombamento a nível federal reconhece que um determinado bem tem relevância nacional, contudo, a responsabilidade por sua conservação, uso e gestão continua sendo dos proprietários.

Os monumentos protegidos pelo Iphan, segundo a nota, passam por uma rotina de fiscalização periódica. “No caso do Coreto e da Torre do Relógio, os patrimônios são geridos pela Prefeitura de Goiânia. A Casag adotou os dois bens por meio do programa do município Adote uma Praça. Desse modo, cabe à Prefeitura, responsável pelos dois bens, garantir sua preservação, uso e gestão contínua”, aponta o instituto.

“O Coreto, em específico, encontra-se localizado em um meio de um canteiro de obras do BRT e, por essa razão, o bem se encontra sujeito a ação de sujidades”, explica o órgão. Em contrapartida, o Iphan diz que vai fazer um levantamento quanto aos danos e entrará em contato com a Casag para os devidos reparos. A reportagem também tentou ouvir a secretaria, mas não obteve retorno até o fechamento da reportagem.

"Carece de atenção e cuidado"

Símbolos da arquitetura original de Goiânia, o Coreto e a Torre do Relógio, ambos dos anos 1940, reiteram a paisagem das primeiras décadas da então nova capital de Goiânia e possibilitam o aquecimento da economia criativa para a cidade. De acordo com o organizador do Goiânia Art Déco Festival, Gutto Lemes, o turismo, por exemplo, pode ser um grande aliado para ajudar a promover, preservar e aquecer a economia local no Centro de Goiânia.

"O Coreto e a Torre do Relógio foram restaurados recentemente, mas, apesar disso as pichações continuam, placas de identificação dos bens tombados estão ilegíveis, pessoas em situação de vulnerabilidade ocupam o Coreto", diz. O Relógio, considerado uma obra-prima por arquitetos e urbanistas, representa um exemplar arquitetônico de Goiânia. "Por décadas esse monumento orientou a população da jovem capital com relógio que tinha função de badaladas. Hoje ele precisa de reparos. Carece de atenção e cuidado", reflete Lemes.

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