A Polícia Civil do Estado de Goiás (PC-GO) revelou o papel importante que um motorista de aplicativo de carona teve na elucidação do envenenamento de duas pessoas em Goiânia. A advogada Amanda Partata Mortoza, de 31 anos, é apontada como a responsável pelas mortes por envenenamento de Leonardo Pereira Alves, de 58, e a mãe dele, Luzia Tereza Alves, de 86.
Com a divulgação do caso, um motorista de aplicativo relatou à polícia que fez a entrega da encomenda para a advogada um dia antes do crime, no dia 16 de dezembro. A substância havia chegado na residência dela no dia 15, em Itumbiara. No mesmo dia, a mulher entrou em contato com o profissional solicitando o trajeto da encomenda para Goiânia dizendo se tratar de uma “medicação”. No depoimento, o motorista contou que o produto era de uma indústria de produtos químicos e farmacêuticos e que teria nota fiscal.
O delegado Ernane Cázer afirmou à imprensa que a secretária da casa de Amanda afirmou ter recebido a encomenda no dia 15 de dezembro. Ela apresentou uma foto da encomenda que teria enviado para a advogada no ato do recebimento.
Com a quebra de sigilo fiscal, a PC-GO conseguiu localizar a nota no nome, CPF e endereço de Amanda Partata. A compra da substância tóxica foi no dia 8 de dezembro.
O envenenamento das vítimas ocorreu durante um café da manhã de domingo, no dia 17 de dezembro. Naquele mesmo dia, Amanda fez compras de alimentos e bebidas em um mercado do Setor Marista, mesma região onde estava hospedada desde o dia 14, e levou para a casa onde moravam Leonardo e Luzia. O marido da idosa, João Alves, foi o único que não fez a refeição, por ser diabético.
As ações da suspeita foram registradas em imagens câmeras de segurança, obtidas pela PC-GO. O delegado responsável pelo caso, Carlos Alfama, aponta que são mais de 50h de gravações.
A mesma substância comprada por Amanda foi encontrada nos corpos das vítimas e em bolos em potes apreendidos pela perícia ainda na residência, no dia seguinte ao crime. Laudos da Polícia Técnico-Científica do Estado de Goiás (PTC-GO) confirmaram que o veneno “altamente letal e tóxico” foi colocado em grandes quantidades em dois potes, ingeridos por Leonardo e Luzia durante o café da manhã junto com a advogada.
Em entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (29), o investigador explicou que a primeira suspeita foi levantada no dia seguinte do crime. Leonardo morreu ainda na noite do dia 17. Luzia, na madrugada do dia 18. Naquele dia, Amanda esteve na residência das vítimas durante o trabalho policial e pericial. Ela foi conduzida à Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), onde prestou o primeiro interrogatório formal.
“Em entrevistas que fazemos com as pessoas no local do crime, ela já disse que estava no café da manhã. As três pessoas que participaram da mesa de café da manhã foram Amanda, Leonardo e Luzia”, comenta. Durante o depoimento, os investigadores questionaram o motivo de ela estar na casa da família naquele dia. À polícia, a advogada relatou que era ex-namorada de Leonardo Pereira Alves Filho, filho e neto das vítimas, e que estava grávida dele desde agosto. Por isso, mantinha relação com os familiares.
“A família a recebia de braços abertos”, conta Alfama. Ainda no primeiro interrogatório, a suspeita contou ter comprado os alimentos e levado à residência do ex-sogro. Ao questioná-la sobre como foi o trajeto até a cena do crime, Amanda informou que teria ido por corrida de motorista de aplicativo. No entanto, explica o delegado, ao tentar verificar o trajeto no celular da advogada, ela teve um comportamento suspeito.
“Quando eu pego o celular, ela entra em desespero bloqueia, e fala que só vai falar na presença do advogado. Surge uma suspeita inicial pelo comportamento defensivo”, explica o delegado. Ao mesmo tempo, a polícia buscou ameaças contra Leonardo e Luzia. Ambos, entretanto, não tinham inimizades ou dívidas. Já o filho de Leonardo, o ex-namorado de Amanda, recebia ameaças desde o fim de julho por perfis falsos nas redes sociais e por ligações feitas por números distintos.
Naquela época, o casal terminava um relacionamento de cerca de um mês e meio. “Depois não adianta chorar em cima do sangue deles”, disse ela, em uma das ameaças, se referindo aos familiares de Leonardo Filho. Amanda também ameaçava a si, em terceira pessoa, para tentar se livrar de qualquer suspeita. A família não suspeitava que as intimidações eram feitas por ela.
A PC-GO conseguiu confirmar que os perfis falsos que faziam ameaças a Leonardo eram ligados à Amanda Partata, com o envio de informações pela empresa Meta, responsável pelo Instagram e Facebook. Os números distintos também estavam ligados a um contato do irmão da advogada, mas que era utilizado por ela. A mulher fazia uso de um aplicativo para mascarar o contato original e gerar números distintos.
Com as provas de que Amanda ameaçava de morte o ex-namorado e os familiares dele, além de ela ter sido a única pessoa a ter contato direto com os alimentos envenenados, a corporação solicitou a prisão temporária da advogada. O mandado foi cumprido no dia 20 de dezembro. Naquele dia, a suspeita estava internada em uma clínica psiquiátrica de Aparecida de Goiânia após ter, supostamente, atentado contra a própria vida. Ao ser detida, Amanda negou ter cometido o crime e disse que “amava” as vítimas.
Dia 8 de dezembro foi o mesma em que a mulher questionou a Leonardo, via aplicativo de mensagens, se ele tinha “mais medo de morrer que de perder (no sentido de morrer) quem você ama”. Conforme o delegado, a motivação do crime foi o sentimento de rejeição pelo término de namoro e a “vontade de causar o maior sofrimento possível ao ex-namorado.”
Câmeras de segurança do hotel no Setor Marista, onde ela esteve hospedada, registraram a mulher com uma caixa pequena de papelão no mesmo dia relatado pelo motorista de aplicativo. Na embalagem, estava a substância utilizada para envenenar as vítimas. Não se sabe, entretanto, se ela colocou o produto em líquido ainda no hotel, ao retornar com os alimentos comprados em um mercado, ou se foi na casa da família.
Suspeita forjava gestações, diz delegado
A advogada Amanda Partata Mertoza, de 31 anos, se relacionou por cerca de um mês e meio com o médico Leonardo Pereira Alves Filho. No início de agosto, mesma época do fim do relacionamento, ela informou que estava grávida. Por isso, manteve contato direto com o ex-namorado e com a família dele. A gestação, entretanto, nunca aconteceu. É o que afirma a Polícia Civil.
Ao ser internada depois do crime, alegando estar com mal-estar por ter ingerido os mesmos alimentos que as vítimas, Amanda fez um exame de gravidez que “deu zerado”. Isso significa que ela não estava gestante há pelo menos um mês. Mas, no dia 14 de dezembro, a investigada enviou ao ex-namorado um exame de ultrassonografia mostrando a idade gestacional de 23 semanas. O exame era falso.
A polícia também confirmou que ela nunca esteve grávida. A constatação ocorre após ela localizar, durante diligências na casa dela nesta quinta-feira (28), exames de agosto e de dezembro que tiveram resultado negativo. “Era um artifício para se manter próxima da família”, destaca o delegado responsável pelo caso, Carlos Alfama.
Na casa de Amanda, também foram encontradas roupas e acessórios de bebês. “Ela realmente não estava grávida, mas simulava a gravidez. Tinha todas as coisas relacionadas”, comenta o delegado Ernane Cázer, que efetuou as diligências na residência da suspeita, em Itumbiara. Ele acrescentou ainda que ela tinha “estrutura financeira muito boa”, morava em condomínio de alto padrão, e com uma família influente no município.
Após a divulgação do caso, outros cinco ex-namorados de Amanda formalizaram denúncia à PC-GO alegando terem sido vítimas de golpes. A mulher supostamente forjava testes positivos de gravidez para persuadir e chantagear os homens a lhe darem dinheiro ou permanecerem em relacionamentos. Além destes, outros relataram a mesma ação, mas preferiram não registrar ocorrência. A defesa de Amanda informou que vai se pronunciar somente nos autos.