Mesmo antes de terminar o mês de junho, o número de trabalhadores resgatados em situação semelhante à escravidão em 2023 já é o maior para um primeiro semestre em 12 anos, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego.
Até o dia 14 de junho, a pasta encontrou 1.443 pessoas em trabalho análogo à escravidão. Em todo o primeiro semestre de 2022, foram 771.
Maurício Krepsky, chefe da Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo do ministério, afirma que o recorde será ainda maior. Considerando a média de resgates diários, ele estima que o número chegará a cerca de 1.500 até o fim do mês.
Caso isso se confirme, o primeiro semestre deste ano terá recorde de resgates em relação aos mesmos períodos dos últimos 14 anos. O total deste ano é superado apenas pelo primeiro semestre de 2009, quando houve 1.908 registros.
As denúncias de trabalho análogo ao de escravo podem ser feitas pelo Disque 100 ou encaminhadas à Auditoria Fiscal do Trabalho por meio do Sistema Ipê, pelo link https://ipe.sit.trabalho.gov.br/.
O último resgate aconteceu nesta quarta-feira (14). Auditores fiscais e policiais federais encontraram três homens em situação de trabalho análogo à escravidão em uma colheita de batatas na região de General Carneiro (PR). Segundo a investigação, eles trabalhavam descalços durante 13 horas por dia, em média, sob uma temperatura em torno de 6º C.
Ainda de acordo com a investigação, eles dormiam em colchões no chão, em um quarto com goteiras e infiltrações. Na colheita, comiam as marmitas geladas, pois não havia local para aquecê-las.
As vítimas são do Maranhão, Pernambuco e Goiás. Após a ação, eles voltaram para suas cidades com passagens rodoviárias custeadas pelo empregador. Os três foram encaminhados para receber seguro-desemprego.
Goiás e Rio Grande do Sul foram os estados onde os fiscais encontraram mais irregularidades.
Uma das maiores operações do semestre liberou 212 pessoas nas cidades de Itumbiara (GO), Porteirão (GO) e Araporã (MG) em março. As vítimas atuavam no plantio de cana-de-açúcar para uma empresa terceirizada que atendia quatro fazendas e uma usina.
A maioria havia sido trazida de Piauí, Maranhão e Rio Grande do Norte e levada para Goiás. O estado lidera o ranking de resgates até o momento, com 390 pessoas.
A fiscalização identificou irregularidades como a cobrança pelo aluguel dos barracos para o alojamento e pelas ferramentas de trabalho, além da falta de alimentação.
A cidade de Bento Gonçalves (RS) aparece entre os 15 municípios brasileiros com mais autuações. O resgate de 207 homens na colheita de uva repercutiu em todo o país em fevereiro.
Segundo as investigações, os trabalhadores foram encontrados em situação de trabalho degradante em um alojamento da empresa Fênix, que prestava serviço às vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton. Os relatos incluem jornadas exaustivas, agressões físicas e xenofobia.
À época, as vinícolas responderam que desconheciam a situação e não compactuavam com o trabalho escravo.
As vítimas eram da Bahia e haviam sido levadas ao Rio Grande do Sul, onde 304 trabalhadores foram liberados até o momento.
De volta ao estado natal, pelo menos metade dos trabalhadores da colheita de uva deve ser assentada em fazendas de criação de cabra no interior da Bahia, segundo o projeto Vida Pós Resgate, da Universidade Federal da Bahia.