Dados disponíveis em painel da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), mostram que o número de violações contra pessoas idosas no Brasil cresceu 72,64% no primeiro semestre de 2023. Em Goiás o aumento foi de 69,65%. Em menos de 15 dias, a equipe da Delegacia Especializada no Atendimento ao Idoso (Deai) resgatou três idosos com traços evidentes de maus-tratos e violência física. O Brasil tem hoje mais de 31 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Pelo menos 30 mil delas chegaram aos 100 anos.
“O etarismo se mostra mais cruel do que nunca.” A frase é do secretário nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, Alexandre da Silva ao fazer o balanço de 100 dias na função. Uma das ações imediatas da pasta foi retomar em janeiro o canal de denúncias Disque 100 com o objetivo de evitar a subnotificação de casos e recuperar o monitoramento do cenário de violência contra idosos no Brasil. Também foi ampliada a participação popular no Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa.
Três casos de maus-tratos a pessoas idosas em Goiânia, em menos de 15 dias, chocaram pela crueldade. Equipes da Delegacia Especializada no Atendimento do Idoso (Deai), após denúncias, localizaram no dia 16, no Setor Bueno, uma mulher de 86 anos, com o braço fraturado em razão de uma queda cinco dias antes. Ela foi negligenciada pela filha de 57, enfermeira. No dia 25, um homem de 74 foi encontrado com o braço ferido, lesão provocada pelo filho de 43. No dia 28, outra idosa, de 87, foi resgatada na capital abandonada pelo filho de 69. Ela apresentava hematomas nos braços, dormia no chão e não tinha água nem comida para se alimentar.
Centenária
Chegando nesta quarta-feira (30) aos 100 anos, a dona de casa Celina Raimunda do Carmo passa a largo desse cenário de violência. Mãe de oito filhos, um dos quais morreu precocemente, e avó de 10 netos e 26 bisnetos, ela estará rodeada pela família para celebrar a longevidade. E a família e amigos próximos não têm dúvida de que a atenção e o cuidado têm feito a diferença na vida dessa filha de Itumbiara que passou grande parte da sua jornada na zona rural, na pesada lida doméstica e enfrentou percalços com a saúde.
“A nossa vida sempre foi pautada pelo amor e pela união, um legado de nossos pais. Estamos retribuindo a ela tudo o que nos foi dado”, afirma a filha Vânia Santos do Carmo. Desde a morte do marido, José Quirino do Carmo, que partiu aos 90 anos, Celina vive sozinha no apartamento onde morava com ele. Assim se sentiu mais confortável e os filhos concordaram. Por decisão da família, ela não tem cuidadora. São as cinco irmãs, três com mais de 70 anos, que se revezam nos cuidados com a mãe.
Embora com dificuldade para articular palavras em função de um câncer, Celina é lúcida e atenta. Nesta quarta-feira tem celebração intimista, mas a lembrança é por conta da matriarca. Desde que soube que será festejada, está empenhada em produzir pequenas peças de crochê para entregar à toda prole. Vânia conta que a mãe tem uma bengala, que é sempre esquecida quando está apressada. Da mesma forma os óculos que não fazem falta quando precisa colocar linha na agulha.
“Ela sempre foi uma mulher batalhadora e de coragem, nunca vimos nossa mãe reclamar de cansaço. Sempre está disposta a tudo”, relata a filha Cláudia Sabbag. Tão disposta que, mesmo chegando aos 100 anos, ainda arrisca o doce movimento de um balanço.
A irmã, Gláucia do Carmo, atribui o amor e a dedicação dos filhos com a mãe ao exemplo que receberam dos pais. “Todos cuidam dela, oferecem o convívio familiar e segurança”, confirma Vânia.