A segunda etapa do Programa Cidade Segura, que tem o objetivo de identificar, regularizar e diminuir a quantidade de fios e cabos em postes de Goiânia, vai ocorrer nos setores Central e Sul, além da continuidade da ação no Setor Campinas e região. A primeira etapa, iniciada em meados de agosto, atingiu parte de Campinas e mais cinco bairros, a Vila Mutirão I e II, Jardim Europa, Jardim Planalto e Vila União. Em dois meses, todos os postes destas localidades foram verificados e redundou na retirada de 53 toneladas de materiais que serão repassados para as 13 cooperativas cadastradas na Prefeitura.
Os fios e cabos serão revendidos pelas cooperativas para uma empresa de logística reversa, a RR Gestão de Resíduos, baseada em Trindade, na região metropolitana de Goiânia. O secretário municipal de Governo, Jovair Arantes, afirmou que a situação nos bairros da segunda etapa é muito ruim, como a maior parte dos setores da cidade. Ele ressaltou que a intenção é chegar em toda a cidade, mas agora com a previsão de atender, após esta etapa, a região Leste da capital. Na continuidade do serviço na região de Campinas, haverá o serviço de remoção dos fios em bairros como o Coimbra, Centro-Oeste e Setor dos Funcionários.
Arantes lembrou que todos os fios e cabos retirados são dispensáveis. “Não podiam estar nestes postes, causando problemas de tensão, causando acidentes variados nesse período e inclusive mortes de pessoas inocentes, como de motociclistas e crianças. Contamos muito com a colaboração do Ministério Público, da Equatorial e das operadoras de internet e telefonia, que são mais de 170 atuando em Goiânia e todas cooperaram”, disse o secretário. Ele reforçou que para fazer o serviço é preciso subir em todos os mais de 170 mil postes da cidade, dispostos em cerca de 850 bairros. “E todos têm problemas, inclusive os novos”, diz.
Desta primeira etapa, cada uma das cooperativas vão ficar com 4.091 quilogramas de material para ser revendido. “Ao final, vão ter bom ganho. A Prefeitura está trabalhando para trazer compradores para aproveitar todo tipo de fio, e tem aqueles que podem gerar energia também. Agradecemos as cooperativas e a todos pelos serviços”, afirmou Arantes. Presidente da cooperativa Beija-Flor, Claubi Teixeira, reforça que esse material, até então, não chegava para as cooperativas. “O programa é de grande importância porque esses fios que estavam pendurados vão deixar de causar risco, danos aos motoqueiros, às pessoas que têm acesso às ruas, que realmente isso tem sido muito perigoso.”
Sobre a rentabilidade do material, Teixeira afirma que esse recurso não era esperado. “Vai ser bem gratificante, vai ser bom para as cooperativas nesse momento de crise, vai ser bem vindo. Eu digo por conta dos preços do material que realmente tem caído no mundo. De janeiro para cá caiu de maneira assustadora. Praticamente 80% desse material caiu o valor”, conta o presidente sobre a desvalorização dos reciclados e reutilizados. “Os fios vão dar para dar um reforço bacana. Já fizemos a parceria com a empresa que já vai recolher esse material direto. Ou seja, ela vai vir aqui nesse espaço da Comurg e já vai coletar esse material. Vamos acompanhar a pesagem e no final a gente vai dividir para as 13 cooperativas”, acrescenta.
Reaproveitamento
O engenheiro ambiental da RR Gestão de Resíduos, Sandro Sarmento, explica que os fios e cabos vão ser coprocessados. “A gente tem um processo de reaproveitamento do material para separar o plástico do metal, então existe a possibilidade de fazer isso tudo de modo ambientalmente adequado. Só que esse material, por exemplo, a fibra óptica, quase não dá retorno, então isso vai para o coprocessamento. O metal é reaproveitado e o resto vai para incineração, vira cinza de cimento, a matéria-prima do cimento, um pó chamado clínquer, que compõe o cimento”, reforça. Ele conta que a empresa vai fazer a separação do material e o que não for reaproveitado será vendido a outra empresa, que fará a incineração para a formação do clínquer e, logo, o cimento. “Não sobra nada desse material, ele é todo reaproveitado. A ideia de fomentar com a cooperativa é fazer essa parte social”, diz.
Sarmento, no entanto, afirma que o processo não é tão rentável e que a empresa está fazendo uma aposta. “Nós fazemos gestão de eletroeletrônicos, mas estamos fazendo o investimento. Nosso knowhow é a gestão do eletroeletrônico, que fica todo atrelado, com material obsoleto de informática. Mas como surgiu essa possibilidade dos fios, estamos apostando. O retorno é praticamente zero, dependemos da quantidade”, relata. Ele explica que o plástico utilizado para o revestimento dos fios é ruim, de modo que não é capaz de se transformar em sacola, servindo apenas como a base para o cimento mesmo. Já o metal possui uma liga de material inferior e, por isso, é reutilizado em materiais menos nobres, como chapas. “É uma aposta que demora, não é um negócio de agora. O custo é alto, de energia, de mão de obra, logística”, diz Sarmento.
Para o promotor da 8ª Promotoria de Justiça do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), Carlos Alexandre Marques, o balanço do Programa Cidade Segura é positivo. “Vimos aqui uma quantidade surpreendente de cabos que foram retirados e sem contar aquele tanto que foi organizado, identificado. É melhoria para a poluição visual e segurança, e é um ciclo positivo, já que vão para as cooperativas. Na parte do MP, acompanhando essa política pública que tem haver com qualidade de vida para Goiânia, imaginamos isso no restante da cidade, o que vai trazer na questão visual, estética e também para o sistema, com menos queda de energia, menos problemas de acidentes.” O promotor Juliano Barros de Araújo, da 15ª Promotoria, ressaltou que o programa é louvável pela inclusão das cooperativas, “É um material que iria para o aterro sanitário, então com essa destinação para as cooperativas, reduz um pouco o impacto ambiental.”