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Papa Francisco nega rumores de renúncia

Remo Casilli/Reuters
Papa Francisco durante entrevista no Vaticano

Frente a rumores de que poderia renunciar, o papa Francisco nega que tenha planos de deixar a liderança da Igreja Católica, ainda que uma série de questões relacionadas à saúde tenham feito o pontífice alterar sua agenda de viagens. Ele falou à agência de notícias Reuters em entrevista publicada nesta segunda (4)."Isso nunca passou pela minha cabeça", disse o papa.

Ainda assim, ele repetiu posicionamento adotado em outras ocasiões, quando disse que poderia renunciar algum dia caso sua saúde se debilitasse a ponto de impedir que ele dirija a igreja. "Não sabemos [quando e se isso vai acontecer]; Deus dirá", diz o religioso de 85 anos.

Decisão sobre aborto

O pontífice também comentou a recente decisão da Suprema Corte dos EUA que derrubou o direito constitucional ao aborto, assegurado havia quase 50 anos. Ele disse respeitar a decisão, sinalizando que não tem conhecimento técnico para avaliá-la. Mas teceu comentários sobre a interrupção voluntária da gravidez, à qual a igreja se opõe.

"A questão moral é se é certo tirar uma vida humana para resolver um problema. De fato, é certo contratar um assassino para resolver um problema?", questionou o pontífice. Não é a primeira vez que ele faz comentários do tipo. Há quatro anos, o papa comparou o aborto a recorrer a um matador de aluguel.

Comunhão

Ele também foi questionado sobre recente polêmica, ligada à ala mais conservadora da igreja nos EUA, sobre se é certo que pessoas que defendem o direito ao aborto possam receber a comunhão. O papa já havia defendido que sim. Desta vez, disse que "quando a igreja perde sua natureza pastoral, isso causa um problema político".

A polêmica teve início após bispos americanos tentarem impedir o presidente Joe Biden, o segundo católico a assumir a Casa Branca, de comungar, uma vez que ele defende a manutenção do direito ao aborto. Biden e Francisco tiveram um encontro em outubro passado. O líder dos EUA disse que o papa teria afirmado que ele deveria continuar recebendo a comunhão, algo que o Vaticano não comentou.

Viagem cancelada

Francisco teve de cancelar uma recente agenda na África, onde visitaria a República Democrática do Congo e o Sudão do Sul, devido a uma recomendação feita por seus médicos. Caso não repousasse e seguisse o tratamento para o joelho direito, ele teria também de cancelar uma viagem ao Canadá agendada para o final deste mês. A vista do pontífice ao país norte-americano tem significado simbólico.

O papa pediu desculpas formais aos povos indígenas do Canadá em abril pelo papel da Igreja Católica em internatos religiosos nos quais foram registrados casos de violência contra crianças e a cultura originária do país.

Rumores de câncer

Ele também negou rumores de que um câncer foi diagnosticado há um ano, quando passou por uma cirurgia para remover parte de seu cólon, no tratamento para um quadro de estenose diverticular, doença em que se formam "bolsas" na camada muscular do cólon, tornando-a mais estreita. "A operação foi um grande sucesso", disse. "Eles não me contaram nada" sobre o suposto câncer, disse, em tom irônico.

Guerra na Ucrânia

Francisco também voltou a falar da Guerra da Ucrânia, presente em muitos de seus discursos, críticos à invasão russa. Ele sinalizou que há possibilidade de, após a viagem ao Canadá, ir à Rússia e à Ucrânia, conversar com os líderes Vladimir Putin e Volodimir Zelenski."Eu gostaria de ir à Ucrânia, mas queria ir a Moscou primeiro."

Ele relembrou que o secretário de Estado do Vaticano solicitou ao chanceler russo, Serguei Lavrov, uma possível viagem, mas que a resposta teria sido de que aquele não era o momento certo.Nenhum papa visitou Moscou. A guerra, no entanto, chegou a contribuir para o desgaste da relação entre a Igreja Ortodoxa Russa e a Igreja Católica Romana.

A instituição russa acusou Francisco de usar o tom errado ao comentar conversa anterior que teve com o patriarca Cirilo, um aliado de Putin, para falar sobre o conflito no Leste Europeu.Após a divulgação da entrevista, a diplomacia ucraniana reiterou o convite para que o papa visite Kiev e pediu que o religioso siga rezando pelo povo do país.

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