Geral

Pesquisadora goiana é premiada em Londres

Lush Prize
Mestranda da UFG Lauren Dalat Coelho, com seu troféu: “Quando você é pobre, só o estudo abre portas”

A mestranda goianiense Lauren Dalat de Sousa Coelho, de 25 anos, percorria as ruas de Londres nesta quarta-feira (22) com o coração leve, os olhos atentos e um sorriso constante. Na noite anterior ela recebeu o Prêmio Lush, como Jovem Pesquisadora, o maior fundo do mundo dedicado a estudos que não envolvem testes em animais. Bacharel em Farmácia pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Lauren faz sua pós-graduação no Laboratório de Ensino e Pesquisa em Toxicologia In Vitro da Faculdade de Farmácia da UFG (Tox In-FF/UFG), por onde representou o Brasil.

“Estou muito feliz”, disse ela ao POPULAR por telefone. “Gosto de animais, sempre fui favorável a essa causa e tenho sete gatos em casa. Para mim é uma honra representar o Brasil e a América Latina nessa premiação.” Lauren foi a única representante do continente latino-americano em sua categoria no Lush 2024, que premia iniciativas científicas e de campanha que têm como foco o fim ou a substituição de testes em animais, particularmente na área de investigação toxicológica. Bienal, o prêmio distribui £250.000, mais de R$ 1,6 milhão, entre os laureados. Em 2024 os recursos foram divididos entre representantes de nove países.

Em sua categoria Lauren vai receber £10.000, cerca de R$ 65 mil, dinheiro que será totalmente revertido para a pesquisa que desenvolve. A estudante pretende adquirir equipamentos mais eficientes e insumos. Para Lauren, entretanto, o mais importante é a oportunidade oferecida pelo certame, como a chance de viajar pela primeira vez para fora do País e até vislumbrar a possibilidade de um doutorado sanduíche numa grande universidade no exterior. “Quando você é pobre, só o estudo abre portas”, diz, convicta. Filha única da secretária Nelma Gonçalves, Lauren fala do orgulho da mãe. “Ela não para de me enviar mensagens.”

É a orientadora de Lauren, Marize Valadares, coordenadora do Laboratório Tox In/UFG, que explica o trabalho da pupila. “Ela busca uma alternativa não animal para avaliar a teratogenicidade, um desfecho na toxicologia que alguns cosméticos inovadores precisam fazer para chegar ao mercado. São usadas células tronco, ferramentas bastante avançadas para desenvolver métodos que substituam o modelo animal. Estou muito feliz porque é a primeira menina do laboratório a receber uma premiação internacional. Lauren é esforçada, dedicada e vestiu completamente a proposta de pesquisa. Ela merece muito isso.”

Marize Valadares conta que a mesma pesquisa de Lauren foi premiada duas vezes no Brasil durante o 1º Congresso Brasileiro de Métodos Alternativos ao Uso de Animais na Pesquisa e no Ensino, realizado em novembro de 2023 no Rio de Janeiro. A estudante recebeu prêmios da Natura e do Boticário. “Esse trabalho tem merecido destaque e vai preencher uma brecha importante em nossa área. Lauren sabe apresentar muito bem a sua pesquisa”, afirma a coordenadora do Laboratório Tox In/UFG.

O trabalho de Lauren Dalat entrou para uma lista de 15 pré-selecionados em sua categoria no Prêmio Lush, dos quais cinco teriam direito ao valor de £10.000. Ela encabeçou a lista dos finalistas ao lado de concorrentes da Itália, Suíça, Estados Unidos e Canadá. Entregue desde 2012, o Lush premia nas categorias Lobby (pessoas ou grupos que pressionam por mudanças para métodos alternativos), Conscientização Pública (pessoas ou instituições que atuem para conscientizar sobre testes em animais), Ciência, Treinamento e Jovem Pesquisador. Há outros três prêmios de reconhecimento, sem valor monetário.

Laboratório Tox In é referência em métodos alternativos

Este é o quarto Prêmio Lush recebido pelo Laboratório Tox In/UFG, instalado no Parque Tecnológico Samambaia, o que o torna o maior laureado do mundo no certame. Em 2017, o pesquisador Renato Ivan de  Ávila Marcelino foi reconhecido como Jovem Cientista. Em 2018, foi a vez da professora doutora Marize Valadares, fundadora do Tox In a receber £50.000 na categoria de Treinamento. Em 2022, Artur Silva também recebeu o prêmio de Jovem Pesquisador, assim como Lauren Dalat de Sousa Coelho, em 2024.

“Nosso laboratório é pioneiro nessa área de substituição de modelos animais na ciência, tanto no Brasil quanto na América Latina. Temos várias ações, como educação, treinamento, jovens pesquisadores, iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado”, detalha a coordenadora do Tox In, Marize Valadares, há 21 anos na UFG. A docente relata que no início de junho o laboratório vai receber um professor da Universidade do México que identificou o centro de estudos como o melhor para o seu treinamento. “Somos referência”, comemora.   

Marize Valadares é uma das organizadoras do Congresso Mundial de Métodos Alternativos que, pela primeira vez, será realizado abaixo da linha do equador. O evento está marcado para agosto de 2025, no Rio de Janeiro. O Laboratório Tox In/UFG será representado por uma robusta delegação de pesquisadores.

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