O Banco do Brasil se movimentou para iniciar os testes do Pix por aproximação meses antes do prazo dado pelo Banco Central. A nova funcionalidade do sistema vai reduzir etapas e acelerar pagamentos, diz à reportagem Pedro Bramont, diretor de soluções em meios de pagamentos e serviços do BB.
Hoje, 15 mil funcionários do banco no Distrito Federal podem realizar pagamentos com Pix aproximando o celular (somente em smartphones com sistema operacional Android) de uma maquininha da Cielo, subsidiária do banco. No lançamento, em 11 de outubro, eram 2.000 empregados. A próxima onda de expansão neste mês vai abarcar todos os cerca de 100 mil funcionários do BB.
Nessa primeira fase, a equipe responsável pelo projeto busca testar a nova tecnologia e, em paralelo, entender quais são os passos mínimos que a jornada do cliente pode ter, qual é o melhor posicionamento da nova função dentro do aplicativo do banco e quais argumentos comerciais podem ser usados pela instituição.
Para pagamentos de até R$ 200, os clientes precisam abrir o aplicativo do BB, clicar na função "Pix por aproximação" e realizar a autenticação biométrica ou digitar a senha de login do app. No caso de valores mais elevados, é necessário também digitar a senha transacional utilizada no Pix tradicional.
"Menos passos, menos segundos", afirma Bramont, que destaca o impacto positivo para os clientes em termos de velocidade e quantidade de transações. "Para o estabelecimento comercial, cinco segundos a menos que cada pagador levar significa uma fila mais rápida."
O Pix por aproximação foi disponibilizado primeiramente nas maquininhas Cielo do tipo LIO On, e os demais modelos estarão aptos, em ondas, até o fim do ano. Cerca de 400 estabelecimentos comerciais previamente habilitados estão participando dessa etapa inicial.
Ainda neste mês, o banco prevê que a nova função do Pix poderá ser utilizada por todos os correntistas do BB.
O BB se antecipou à agenda do Banco Central, que trabalha para pavimentar a chamada jornada sem redirecionamento no open finance (ecossistema que permite o compartilhamento de dados pessoais, bancários e financeiros entre instituições).
Isso abrirá as portas para a implementação do Pix por aproximação via carteiras digitais (wallets), com operação prevista para fevereiro de 2025. Na próxima segunda-feira (4), o BC e o Google farão um evento de lançamento da nova funcionalidade.
"Não é que tudo vai estar funcionando na semana que vem, mas vai estar funcionando muito em breve", afirmou Roberto Campos Neto, presidente do BC, em evento em São Paulo na última quarta (30).
Pela regra atual, Apple e Samsung não podem oferecer o Pix por aproximação em suas carteiras digitais porque ainda não se credenciaram junto ao BC como "iniciadoras de pagamento". As empresas ainda negociam a entrada no sistema.
De acordo com Bramont, o lançamento do novo produto "não é simplesmente uma corrida para ser o primeiro". No entanto, ele considera que "o vencedor leva tudo" e sair na frente significa aumentar as chances de fidelizar o cliente em um cenário competitivo —Itaú Unibanco, em parceria com a Rede, é outra instituição que está no páreo.
O diretor do BB observa que o cliente pode descartar testar a mesma funcionalidade em outra instituição financeira se tiver uma experiência diferente e positiva no banco ao usar a nova funcionalidade do pagamento instantâneo. "Para a gente é muito valioso estar na vanguarda e ser um dos primeiros a lançar essa experiência", diz.
No Banco do Brasil, o objetivo é tornar a jornada cada vez mais fluida sem comprometer a segurança dos usuários do Pix. "Pior do que não dar acesso, é uma pessoa ter acesso e eventualmente ter algum problema de segurança. Então, isso a gente vai avaliar em cada passo de expansão", diz Bramont.
Segundo ele, eventuais adaptações podem ser feitas a partir da análise do comportamento dos clientes na fase de testes. Por exemplo, uma pessoa que tenha maturidade digital menor ou que já tenha sido vítima de fraude poderá ter de seguir um caminho um pouco mais longo na hora do pagamento via Pix por aproximação. Isso significa a necessidade de digitar uma senha ou realizar algum outro procedimento antes de validar a operação.
O diretor ressalta que o maior desafio do banco com relação a questões de segurança não se deve a falhas tecnológicas, mas à chamada "engenharia social" —técnica de manipulação que explora erros humanos para obter informações pessoais e dados bancários das vítimas.
Ao iniciar o piloto em uma rede controlada de participantes, o BB diz conseguir minimizar o risco de um estabelecimento comercial fraudulento capturar transações indevidas.
Questionado sobre um possível impacto do Pix por aproximação sobre o uso de cartões, o diretor do BB vê a concorrência entre meios de pagamento como "sadia" ao olhar para o consumidor final. "Certamente as nossas soluções de cartão também estão vendo uma forma de manter a sua relevância", afirma.
Segundo nova edição da TIC Domicílios, pesquisa produzida pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), o Pix se tornou o método de pagamento preferido entre brasileiros para compras online.
Bramont mostra também entusiasmo com as próximas etapas da agenda evolutiva do Pix devido à possibilidade de integração com novos produtos. "Tudo o que favorece a experiência do cliente acaba abrindo um terreno fértil para outras funcionalidades."