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Plano prevê rodízio com interrupção de água a cada dois dias na Grande Goiânia

Diomicio Gomes/O Popular
Quando a vazão chega ao nível crítico 1 é preciso reduzir gradativamente a vazão remanescente até o mínimo de 2.000 L/0, diz Semad.

O abastecimento de água nos 442 bairros de Goiânia e Aparecida de Goiânia atendidos pelo Sistema Meia Ponte poderá ter interrupções de dois em dois dias. A medida que está a um nível de ser acionada consta no Plano de Racionamento apresentado pela Companhia Saneamento de Goiás (Saneago) para este ano.

A ação de rodízio será colocada em prática caso a vazão do manancial caia dos atuais 2.400 litros por segundo (l/s) para 2.000 l/s. A previsão é de que o rodízio seja feito apenas nos bairros atendidos pelo Meia Ponte. Desta forma, parte considerável da capital não deve sofrer com desabastecimento, já que 66% da cidade é abastecida com água do Ribeirão João Leite.

A diferença entre a vazão atual e o nível crítico 3, que obriga a implementação de racionamento, pode ser alcançada em menos de 15 dias. Na medição do início de agosto, o Meia Ponte registrou 4.000 l/s na média de sete dias, vazão que caiu para 2.714 l/s na primeira semana deste mês.

O rodízio será feito por regiões, com escala de três dias revezando entre interrupção, estabilização e fornecimento normalizado (confira o quadro). De acordo com a Saneago, o plano foi elaborado como forma de precaução, tratando-se de exigência legal das agências reguladoras e uma das diretrizes previstas pelo Comitê de Bacia do Rio Meia Ponte (CBH-MP).

Durante o período de rodízio, o plano prevê garantia de abastecimento aos usuários que prestam serviços essenciais. Para estes locais que têm inscrição como Usuários Essenciais na área de influência do Sistema Meia Ponte, a Saneago irá oferecer caminhões-pipa próprios e locados, conforme necessidade.

“A implementação ocorrerá de acordo com as intercorrências que surgirem no período planejado, caso estas impactem a regularidade do abastecimento destas unidades, a exemplo da intermitência programada no caso de rodízio do fornecimento de água”, informa trecho do plano.

O presidente do CBH, Fábio Camargo, explica porque de a escala ter três níveis. “Como o sistema faz: hoje é o dia de Aparecida, então eles fecham o sistema de Aparecida, no outro dia eles vão ligar, mas não é automático, são quilômetros de dutos”.

Antecipação

A medida é considerada a última alternativa diante do cenário de crise hídrica. Apesar de citar a possibilidade de chuvas fora do esperado, Fábio diz que, diante do quadro atual, com previsão de chuvas regulares apenas para a segunda quinzena de outubro, há riscos concretos de o rodízio se tornar necessário. “O mais importante é agir com antecedência”, afirma o presidente.

Antes de acionar o rodízio, a Saneago diz que está executando programas de comunicação para conscientizar a população sobre os riscos do desperdício, além de ações estruturais, com obras na rede de abastecimento.

A Saneago destaca que o sistema Meia Ponte tem ligação com o João Leite, podendo o primeiro ser reforçado em até 800 l/s, acréscimo que é feito direto na rede de abastecimento. Apesar disso, o plano de racionamento leva em consideração apenas a medição da vazão do próprio Meia Ponte e por isso o rodízio não deve ser afastado com o uso do João Leite.

Como práticas preventivas, a companhia diz que realizou intensa preparação, por meio de um conjunto de obras e melhorias. “O resultado está nos números alcançados. Enquanto a média nacional de perdas atinge 39%, os índices atualizados da Companhia são de apenas 26,9% para Goiás”, diz a nota da companhia.

Mesmo assim, a própria empresa pondera: “A estiagem demanda cautela, especialmente nesta que é a maior seca dos últimos cem anos. Assim, é fundamental que a população também faça sua parte por meio do consumo consciente da água”.

 

Manancial teve redução de mil litros na vazão em 1 mês

Diante da possibilidade de acionar o sistema de rodízio de fornecimento de água, usuários do Sistema Meia Ponte já sofrem impactos. O manancial teve redução de mil litros na vazão média em um mês, entre agosto e setembro. A redução de 4 mil l/s para 3mil l/s fez o Meia Ponte chegar ao nível crítico 3, que implica em reduzir a captação.

Os primeiros impactados foram os membros setor produtivo da Região Metropolitana atendidos pelo manancial. Isso porque no nível crítico 3 a captação via outorgas precisa ser reduzida em 50%, o que passou a ser regra desde a primeira semana deste mês.

Em entrevista ao POPULAR, a representante da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) no CBH-MP, Elaine Farinelli, cobrou que a população também deve passar a colaborar para que o setor não sofra ainda mais.

“Com (corte de) mais de 50%, há risco de paralisação. Só uma das indústrias emprega mais de 4 mil pessoas. E a empresa tem seus compromissos, de entregar sua produção. Ela trabalha com produção estipulada, então isso traz riscos de prejuízos enormes”, afirma Elaine.

O presidente do CBH-MP, Fábio Camargo, diz que chuvas registradas na semana passada em alguns pontos da bacia ajudaram o manancial a manter 2.400 l/s de vazão, o que adia o início do rodízio. “Agora, considerando que nós temos 25 dias para iniciar o período chuvoso, é uma quantidade pequena ainda”, diz Fábio ao alertar sobre os riscos.

“Passamos a semana longe dos 2 mil litros por segundo, que é a quantidade que se permanecer por uma semana demanda o racionamento. Ficamos em 2.300 l/s, 2.400 l/s. Agora, considerando que nós temos 15 dias para o início do período chuvoso, é uma margem muito pequena”, explica Fábio.

O presidente destaca que a tarefa de casa contra o desperdício ainda é fundamental. “Desde 2017 nós estamos batendo na tecla de que o racionamento existe e que se a gente desperdiçar, nós vamos sentir as consequências”, diz.

Ainda segundo Fábio, a efetividade do modelo de rodízio será medida na prática e poderá passar por alterações ao longo dos dias em que vigorar.

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