Justiça tornou réus os quatro policiais militares acusados de matar o servente Henrique Alves Nogueira, de 28 anos, após uma abordagem no dia 11 de agosto. A vítima foi colocada pela manhã no camburão da viatura usada pelos acusados e de noite foi morta em um suposto confronto, que foi forjado segundo denúncia feita pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO).
O caso ganhou repercussão nacional após aparecer um vídeo com o momento em que Henrique foi cercado pelos policiais. A família da vítima conseguiu acesso ao material antes que ele fosse destruído por homens que se identificaram como PMs e entraram no estabelecimento onde ficava a gravação.
Agora réus, o sargento Cleber Leandro Cardoso, de 37 anos, o cabo Guidion Ananias Galdino Bonfim, de 31, e os soldados Kilber Pedro Morais Martins, de 34, e Mayk da Silva Moura Sousa, de 29, estão detidos desde 16 de agosto.
A abordagem aconteceu por volta de 8 horas em uma avenida no Jardim Europa. Ele foi colocado na parte de trás da viatura e segundo testemunhas teria resistido. O corpo foi encontrado depois das 19 horas em um matagal no Residencial Real Conquista, a cerca de 15 km de onde foi abordado. Não se sabe ao certo se Henrique ficou todo o tempo com os policiais ou foi deixado em algum lugar antes.
Em sua decisão, o juiz Eduardo Pio Mascarenhas da Silva, da 1ª Vara Criminal dos Crimes Dolosos contra a Vida e Tribunal do Júri, citou como provas contra os policiais para justificar ter acatado a denúncia do MP-GO as imagens de câmera de segurança, o laudo de confronto microbalístico e o laudo pericial de vistoria em veículo em comparação com o perfil genético da vítima, que coincidiu na barra de algemas e da lateral da porta da parte traseira da viatura.
Henrique morreu ao ser atingido por quatro tiros na região do tórax e abdome, sendo um dos disparos de carabina, conforme laudo pericial. O trabalho dos peritos também apontou que a vítima estava ajoelhada no momento da execução e que foi ferida em local diverso ao de onde seu corpo foi encontrado. Esse ponto foi grifado pelo juiz em sua decisão.
O magistrado pediu que a Polícia Civil apure melhor as circunstâncias da detenção de Henrique por policiais que integrariam a equipe do Tático do 7º Batalhão da PM, o mesmo dos denunciados, e que teria ocorrido semanas antes do crime que resultou em sua morte. A vítima teria dito a uma pessoa que nesta ocasião que conseguiu escapar mesmo algemado e desde então estava sendo ameaçada.
Na mesma decisão, Eduardo Pio determinou que seja feita uma reprodução simulada dos fatos, para confrontar com a versão apresentada pelos policiais e pela Polícia Civil. E também pediu que a auditoria militar apure suposta prática dos crimes de fraude processual e falsidade ideológica, crimes considerados da esfera militar.
Defesa
Em depoimento, os policiais contaram que abordaram Henrique pela manhã e o colocaram dentro da viatura porque ele concordou em mostrar onde havia uma droga escondida enterrada. Em seguida, no local citado, o soltaram antes de procurar por causa da urgência de outra ocorrência de possível roubo a banco. Após descobrirem que se tratava de alarme falso, foram atrás de um suposto flagrante de tráfico no Real Conquista que descobriram ao mexer no celular de Henrique. O aparelho nunca foi localizado. Após monitoramento, teriam abordado Henrique na garupa de uma moto com a droga, e este reagiu atirando. A pessoa que estava na moto fugiu.