Às vésperas de completar três anos do assassinato de Daniel Pedreira Sena Pelegrine, o MC Daleste, no próximo dia 7, a Polícia Civil decidiu encerrar as investigações sem uma conclusão de autoria e motivação do crime.
O cantor de 20 anos foi baleado durante um show para milhares de pessoas em julho de 2013, no bairro Vila San Martin, periferia de Campinas (a 93 km de São Paulo).
A Polícia Civil declarou o crime como "sem autoria" em 28 de dezembro do ano passado e remeteu para Justiça. Segundo o Ministério Público Estadual, o caso foi arquivado por "autoria desconhecida" dois meses depois, em 23 de fevereiro. O arquivamento do inquérito só veio a público nesta semana.
Na época, vários motivos para o homicídio foram considerados, inclusive crime passional, já que o cantor era famoso por manter vários relacionamentos, e acerto de contas.
Segundo o promotor Ricardo Silvares, que acompanhou as investigações, apesar de ter havido a colaboração de pessoas próximas a Daleste, muitas testemunhas não quiseram cooperar, possivelmente, diz, por receio de represálias. "Muitas hipóteses surgiram, mas não provas", afirma Silvares.
A advogada da família de Daleste, Patrícia Vega, diz que erros "grosseiros na perícia prejudicaram as investigações" e diz que o caso "pode ter uma reviravolta". Segundo ela, o celular de Daleste não foi apreendido na época do crime nem feito o pedido de quebra de sigilo telefônico para saber se houve algum tipo de ameaça ou evidências que ajudassem na apuração do caso.
Silvares diz que a advogada da família deve fornecer novos elementos nesta semana, o que, dependendo das provas, pode provocar uma reabertura no inquérito. "É importante apurar a autoria. Foi um crime grave com centenas de pessoas presentes e elevado nível de sofisticação na execução". Tanto a advogada como o promotor não informaram quais seriam essas novas evidências.
Para o pai de Daleste, Rolland Pelegrine, o encerramento das investigações "é desorientador". "Tenho esperanças [na solução do caso], mas não me conformo que com tantas imagens e tanta gente no local do show e não conseguiram fazer Justiça do que fizeram com o meu filho".
Procurada, a Secretaria de Estado da Segurança Pública não se pronunciou a respeito das críticas da defesa da família de Daleste sobre a falta de perícia no celular da vítima.
Investigações
Nove meses depois do crime, em 2014, houve uma transferência dos inquéritos de Campinas para São Paulo e uma troca no comando da Polícia Civil na região de Campinas. Na época, a justificativa para a mudança era "oxigenar as investigações" e que "uma troca de mãos era muito boa".
Os laudos dos peritos do Instituto de Criminalística afirmam que os dois disparos que atingiram Daleste partiram de uma área ao lado de uma casa em construção e a 40 metros de distância do palco.
O cantor foi atingido primeiro de raspão na axila direita, mas continuou o show. O segundo tiro acertou a região do abdome, atingindo o estômago, fígado e pulmão. A causa da morte foi anemia aguda, segundo o laudo.
Então desconhecido da maioria do público, MC Daleste era famoso entre jovens da periferia e fazia shows em diversas cidades de São Paulo. Suas letras remetiam ao funk ostentação. Ele foi assassinado na madrugada de 7 de julho de 2013, quando se apresentava em uma quermesse do bairro, formado por dezenas de prédios da CDHU.
O funkeiro foi socorrido e levado para o hospital pela sua própria equipe. A polícia demorou a chegar e o local do crime não foi preservado. Era um fim de semana de feriado prolongado, por causa do feriado de 9 de julho, e a perícia demorou para ser realizada.