Depois de dois adiamentos, em 17 de abril e 17 de maio deste ano, o julgamento dos policiais militares acusados de matar o adolescente Roberto Campos da Silva, conhecido como Robertinho, de 16 anos, foi encerrado nesta terça-feira (27). Os policiais militares Cláudio Henrique da Silva, Paulo Antônio de Souza Júnior e Rogério Rangel Araújo Silva foram condenados pelo júri popular e tiveram penas distintas pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio e fraude processual.
A reportagem solicitou um posicionamento à defesa dos três condenados e aguarda retorno.
O adolescente foi morto em 2017, após os policiais invadirem a casa da família. O pai de Robertinho, Roberto Lourenço da Silva, de 42 anos, também foi atingido na ação policial, mas sobreviveu.
Paulo Antônio de Souza Júnior foi condenado por homicídio consumado triplamente qualificado, homicídio tentado simples e fraude processual. Juntas, as penas somam 21 anos e 4 meses de reclusão, e 8 meses de detenção, a serem cumpridas em regime inicialmente fechado.
Já Rogério Rangel Araújo Silva e Cláudio Henrique da Silva foram condenados por duplo homicídio tentado simples e fraude processual. Cada um teve, somadas, penas que totalizam 10 anos de reclusão, 08 meses de detenção e 60 dias-multa, a serem cumpridas em regime inicialmente fechado.
"Dor sem fim"
Primeira pessoa a depor no julgamento, Roberto Lourenço, pai de Robertinho, falou sobre o sofrimento pela perda do filho. "Parece que [a morte] foi ontem, é uma dor sem fim", disse Lourenço.
O pai de Robertinho ainda revelou a dinâmica do crime e afirmou que o menino foi morto após defendê-lo aos policiais.
À ocasião do último adiamento do julgamento, em maio de 2023, a mãe de Robertinho, se disse ansiosa com a realização do júri dos acusados de matar o filho dela.
"Não é fácil passar por isso aqui. O sentimento é de muita tristeza. Aqui e agora, eu fico só pensando nele. Meu filho não vai voltar”, afirmou Sheila Campos.
Relembre o caso
De acordo com a denúncia do Ministério Público de Goiás (MPGO), em abril de 2017, os três policiais descaracterizados, invadiram a casa da família em que estavam pai, filho, a madrasta de Robertinho e outros dois filhos menores dela, de 14 e 8 anos de idade, sob a alegação de investigar a posse ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas.
No dia do ocorrido, os policiais alegaram que estavam em patrulhamento na região e teriam recebido a informação de um suspeito, do qual não sabiam o nome e nem o endereço, a informação de que o pai de Robertinho era traficante e andava armado. Segundo a denúncia, os policiais, sem nenhum mandado judicial ou elementos que pudessem concluir a ocorrência do crime na residência, invadiram a casa da família por volta das 20h30. Para isso, eles desligaram a energia elétrica no padrão.
Ao perceber que somente a casa dele tinha energia e que os cachorros da residência começaram a latir bastante, Robertinho pegou uma escada e olhou por cima do muro, quando viu homens segurando armas de fogo. Pelo barulho dos animais, o pai de Robertinho acordou para ver o que estava acontecendo. Os policiais, ainda do lado de fora de casa, disseram que iam “invadir e pipocar todo mundo”.
Ainda segundo a denúncia, o pai de Robertinho pegou um revólver, sem saber que os homens eram policiais, e pediu para sua família ir para dentro da casa, porém, o filho não quis sair de perto do pai. Acreditando que assustaria os homens, Roberto efetuou um disparo de arma de fogo para cima. Neste momento, os denunciados, ainda sem se identificarem como policiais, iniciaram os disparos contra os portões da casa.
O MPGO afirma que os policiais deram 11 disparos para dentro do portão e mesmo sabendo que poderiam matar quem estivesse atrás, assumiram o risco. Depois dos tiros, os denunciados arrombaram o portão e entraram na residência, encontrando as vítimas feridas e sentadas no chão da garagem. Enquanto perguntavam sobre a existência de drogas, Robertinho pediu para não atirarem no pai dele, dizendo que não era traficante.