O desabastecimento hídrico em Iporá, na região Oeste de Goiás, tem feito com que parte da população da população do município busque por água para beber, lavar a louça e tomar banho em poços artesianos cedidos por moradores e comerciantes. Para minimizar os impactos da estiagem, a Saneago irá captar água no lago da cidade para abastecer a população. O cenário de falta de água se soma à queda de energia elétrica que atingiu o município nesta quarta-feira (9) e às temperaturas acima de 35ºC que assolam a cidade. O desabastecimento também afeta outras cidades do interior goiano, como Anápolis, Faina e Ipameri. Em Crixás, a Saneago já iniciou o rodízio no abastecimento público.
Reportagem do Daqui publicada em 19 de setembro mostrou que oito cidades goianas abastecidas pela Saneago estavam sob atenção em relação ao abastecimento público por causa da estiagem prolongada. Iporá, que é abastecida pelo Ribeirão Santo Antônio, integrava a lista. A combinação de falta de água e de energia com o calor intenso fez com que algumas unidades escolares do município passassem a operar com carga horária reduzida, enquanto outras adotaram o formato remoto. Nesta quarta, a previsão era de que os termômetros do município pudessem alcançar os 36ºC.
Uma moradora da cidade, que preferiu não se identificar, está sem água em casa há dois dias. “Tenho duas crianças. Os dois não foram pra escola hoje porque não tinha água. Como os pais fazem para trabalhar?”, questiona a autônoma. Segundo a mulher, parte dos moradores de Iporá, incluindo ela, está tendo acesso a água apenas por meio de poços artesianos cedidos por donos de um posto de gasolina e de uma madeireira localizados no município.
Segundo a Saneago, equipes da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Goiás (Seapa), Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) realizaram, nesta terça-feira (8), ações de fiscalização no Ribeirão Santo Antônio, manancial de abastecimento de Iporá, e demais afluentes da bacia.
A ação, acompanhada pela Saneago, identificou desvios irregulares acima do ponto de captação da companhia. Conforme a Saneago, três bombas que captavam ilegalmente a água do manancial foram lacradas. Além disso, a companhia argumentou que entre 4 horas da madrugada e 8 horas da manhã desta quarta, unidades da Saneago no município ficaram sem energia elétrica, o que prejudicou o sistema de abastecimento de água. Sobre a falta de energia citada na região de Iporá, a Equatorial Goiás informou que o fornecimento de energia aos moradores foi normalizado às 8h23 desta quarta.
Ainda nesta quarta, para minimizar os impactos do período de estiagem em Iporá, a Saneago concluiu a interligação de uma captação de água provisória no lago municipal. A intenção é reforçar o sistema de abastecimento de água. “Antes de ser distribuída à população, a água é tratada pela Estação de Tratamento de Água. Com isso, a população tem a garantia que a água que chega às torneiras pela rede da Saneago obedece aos padrões de potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde”, destacou em nota a companhia.
A cerca de 450 quilômetros de Iporá, Crixás, na região Noroeste, também vive uma situação dramática. O Córrego Forquilha, que abastece o município, secou completamente e os poços perderam vazão, o que afetou diretamente o abastecimento público. No final de setembro, a cidade teve que adotar rodízio no abastecimento. Até o momento, é o único município goiano nessa situação. A Saneago afirma que tem tomado uma série de medidas para minimizar os impactos para a população de Crixás e destaca que a situação é transitória.
A população de Ipameri, na região Sudeste, também enfrenta a falta de água. Nesta terça, a prefeitura publicou um decreto de situação emergencial ambiental no município, com prazo de validade de 30 dias, podendo ser reavaliado ao término deste período. Nos colégios municipais, as aulas presenciais estão suspensas. Além disso, também foram suspensas as atividades dos serviços e órgãos públicos municipais reconhecidos como não essenciais.
O Ribeirão Vai-Vem, que abastece a Ipameri, praticamente secou. A reportagem tentou contato com a empresa Águas de Ipameri, responsável pelos sistemas de água e esgoto do município desde novembro de 2022, mas não obteve sucesso até o fechamento desta edição. Em Faina, próxima a Cidade de Goiás, a seca severa também colocou a cidade em estado de emergência. O Rio do Peixe, que abastece o município, está praticamente seco, e a prefeitura contratará caminhões-pipa para garantir o abastecimento de água.
Anápolis
Em Anápolis, terceira cidade mais populosa de Goiás, a falta de água também tem sido um problema para a população. A personal trainer Giselle Andrade, de 46 anos, mora no bairro Jamil Miguel e sofre com as idas e vindas de água a cerca de dez dias. “Fico sem água o dia todo. Ela só volta de madrugada”, conta. A situação dificulta as atividades domésticas de Giselle, como lavar a louça e tomar banho. “Estava fazendo isso (tomar banho) na minha mãe (que mora no bairro Boa Vista), mas tem dois dias que ela também está sem água.”
Conforme a Saneago, o abastecimento em Anápolis foi prejudicado após quase 38 horas sem energia elétrica no último final de semana de setembro. Segundo a companhia, “nos períodos de estiagem e com alto consumo, a recuperação total do sistema demanda ainda mais tempo”, sendo que no sistema de abastecimento de água, a normalização é gradual. A Saneago explicou que quando todo o sistema estava em fase final de recuperação, houve drástica queda de vazão no Ribeirão Piancó, manancial de abastecimento público de Anápolis. Diante disso, nesta terça, equipes da Saneago e da Agência Reguladora de Anápolis (ARM) realizaram vistoria, que identificou retirada ilegal de água acima da captação de água.
“Esta captação clandestina de água ocorria em Abadiânia, para irrigação de plantio de tomate. As bombas e a tubulação, de grande porte, desviavam considerável quantidade de água do manancial, o que causou redução drástica de vazão”, frisou a Saneago em nota.
Sobre a falta de energia em Anápolis, a Equatorial Goiás comunicou em nota que o primeiro registro no sistema foi feito às 9h43 do dia 29 de setembro e a situação foi normalizada às 08h20 do dia 30. A empresa esteve no local e detectou um fio rompido. Ao reenergizar, foram identificados novos pontos de defeitos, causados por uma ligação irregular na rede elétrica feita por um loteamento de chácaras. “Essa ligação foi feita sem a devida proteção e de forma clandestina pelos responsáveis pelo loteamento, o que gerou os demais problemas na rede que atende as unidades consumidoras da Saneago. Os responsáveis serão notificados pela irregularidade. Equipes da Equatorial Goiás realizaram novos reparos e a substituíram os equipamentos danificados.”