Depois de dois anos do Projeto de Lei que altera o nome do Parque da Criança, no Setor Mansões Paraíso, em Aparecida de Goiânia, a cerimônia será finalmente realizada na tarde desta terça-feira (14). A autoria é do vereador Willian Panda (PSB) e agora o local passa a se chamar Parque da Criança Murilo Soares Rodrigues.
A homenagem é ao garoto que desapareceu em 2005, quando tinha 12 anos e nunca mais foi encontrado. “Depois de quase 17 anos, é uma honra receber essa homenagem. Já que não tenho meu filho, vou ter a memória dele ali. Não consegui enterrar meu filho, mas a memória dele vai estar sempre ali”, diz a mãe, emocionada.
No próximo dia 2 de julho, Murilo Soares Rodrigues completaria 28 anos. O que resta, entretanto, é uma ausência que fere e uma mãe que não cansa de lutar, mas que em muitos dias sequer consegue tomar banho. Maria das Graças Soares Lucena, a Graça, perdeu o filho em 2005, quando aos 12 anos ele desapareceu junto com um amigo do pai, na época, com 21 anos.
A última vez em que foram vistos, eram abordados por equipes da Polícia Militar. Sem localizar os corpos, prevaleceu a tese de falta de indícios e o julgamento dos PMs foi anulado. Diagnosticada com depressão e ansiedade após o desaparecimento do filho, Graça conta que hoje é medicada com 9 comprimidos diários e que nunca mais a vida foi a mesma.
Ela trabalhava como babá, foi funcionária em uma creche, mas depois da perda do filho, interrompeu a vida por completo. Murilo era o caçula. O filho mais velho, Orto, de 32 anos, é pai de três filhos homens e o caçula se chama Murilo, em homenagem ao tio. “Orto tinha 14 anos quando o irmão desapareceu. Ele começou a trabalhar porque a gente passou a viver de ajuda. Ele também sofreu muito, caiu em depressão.”
A inauguração do Parque está agendada para às 17 horas e é a primeira vez que Orto estará ao lado da mãe publicamente. Ela conta que sempre teve medo de que o filho fosse alvo de represálias. “Eu nunca vou deixar de lutar. Minha luta não para aqui nessa praça. Ela continua. Espero que um dia haja justiça divina se não houver a justiça do homem, aqui na Terra. Policiais deveriam estar presos, mas estamos falando de uma criança pobre, da periferia que não tem muito valor. Vira estatística. É só mais um”
O desaparecimento
Murilo desapareceu no dia 24 de abril de 2005, quando, a pedido do pai, acompanhava um amigo da família, o servente de pedreiro Paulo Sérgio Pereira Rodrigues, de 21 anos. O rapaz ia buscar uma bateria para o som automotivo que havia instalado. Os dois estavam em um Fiat Palio placas AH-2969.
A última vez que foram vistos, eles eram abordados por equipes da Polícia Militar (PM) na Avenida Tapajós, na Vila Brasília, em Aparecida de Goiânia. Depois disto, nunca mais se soube do paradeiro das vítimas. O veículo foi localizado no Setor Alto do Vale, em Goiânia, carbonizado, sem o som e as rodas.
Falta de provas materiais
Oito militares chegaram a ter as prisões preventivas decretadas após um inquérito da Corregedoria da PM. Acusados de latrocínio, que é o roubo seguido de morte, e ocultação de cadáver, os oito PMs, que integravam a Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam), acabaram absolvidos pela Justiça de Goiás por falta de provas materiais.
O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) recorreu da sentença, o julgamento foi anulado e os policiais levados ao Tribunal do Júri. No entanto, prevaleceu a tese de falta de indícios, já que os corpos não foram encontrados. Graça recebeu, em 2020, a contragosto, uma certidão de óbito.
A história da praça
Como forma de não deixar morrer a história do filho, Graça buscou ajuda junto ao grupo Mães de Maio do Cerrado – do Luto à Luta formado por mulheres que perderam entes queridos para a violência policial. Este, por sua vez, procurou o vereador Willian Panda (PSB), que decidiu apresentar uma proposta na Câmara de Vereadores de modificação do nome de um logradouro já existente.
O vereador afirmou que se sentiu honrado porque, quando criança, jogava bola com o Murilo e o irmão. Graça, por sua vez, só descobriu da coincidência depois da solicitação. O projeto foi aprovado e sancionado pelo prefeito Gustavo Mendanha (MDB). Por causa do período eleitoral, não foi imediatamente colocada.
Graça afirma que Murilo brincava na praça, gostava de jogar bola e que muitas vezes é lá que faz suas orações. Um dos grandes desejos é encontrar a ossada do filho. “Tenho a esperança de encontrar a ossada e enterrar. Dar um bom lugar para ele. O que aconteceu com ele. Porque se eu achar o corpo, eu vou saber o jeito que ele foi morto”, acredita.