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Produtor aposta no cultivo de azeitonas em Cristalina

Fábio Lima
Fé e expectativa - Vanderlei Benatti, que decidiu investir no plantio de oliveiras para futura produção de azeite de alta qualidade em Cristalina

Um produtor rural de Cristalina está apostando num possível potencial da região para a produção de azeitonas, visando uma futura fabricação de azeites finos, um mercado de alta demanda e rentabilidade. Vanderlei Benatti já plantou cerca de mil oliveiras numa área de cinco hectares do município, que já é conhecido pela grande variedade de culturas irrigadas, e espera que a produção atinja uma escala economicamente viável no próximo ano.

As temperaturas têm sido o maior desafio para a produção de azeitonas em várias regiões brasileiras, já que as oliveiras precisam de 200 horas anuais abaixo de 10 graus celsius ou 300 horas abaixo de 12 graus para se desenvolverem bem. Mas, de acordo com o Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (CIMEHGO), Cristalina registrou 156 horas com temperaturas abaixo dos 12,9 graus em 2021, 139 horas no ano passado e apenas 58 horas neste ano, por conta dos efeitos do El Niño.

Toda produção de azeitonas do Brasil vai para a fabricação de azeite. O clima mais frio e mais semelhante à região do Mediterrâneo é a maior explicação para o fato do Rio Grande do Sul ser o maior produtor de azeite do País, com 580 mil litros na safra 2022-2023, o equivalente a 75% da produção nacional, seguido por Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina e Paraná. Mas a produção nacional ainda soma apenas 750 mil litros anuais, um volume muito pequeno, diante de um consumo de 100 milhões de litros.

Todo restante da demanda é importado, sendo que o Brasil é o segundo maior importador mundial, atrás apenas dos Estados Unidos. Mesmo assim, o consumo per capita dos brasileiros ainda é muito pequeno, frente a outros países de maior tradição: apenas 0,5 litro por pessoa ao ano, o que indica um grande potencial. Vale lembrar que os gregos consomem mais de 20 litros anuais, enquanto os italianos e espanhóis, 12 litros.

Este potencial incentivou produtores como Benatti a apostarem nas oliveiras. “Este é um mercado que nunca irá se esgotar”, acredita. Ele, que já produz culturas como soja, milho, feijão e trigo, reconhece que a experiência com as oliveiras tem sido trabalhosa, mas diz que está confiante que pode chegar a produzir numa escala aceitável. Benatti conta que já colheu algumas dezenas de frutos em alguns pés, mas sua expectativa é que as oliveiras comecem a produzir bem a partir de 2024, na próxima florada, em fevereiro ou março, já que a planta precisa de pelo menos 10 anos para alcançar sua maturidade.

O produtor lembra que isso ocorreu na Chapada Diamantina, onde as azeitonas só começaram a ser colhidas numa quantidade razoável após este período de maturação do plantio experimental. Na cidade de Rio das Contas, na Bahia, agricultores colheram a terceira safra de sua história e apenas uma fazenda chegou a colher 500 quilos num único dia. Vale lembrar que cada oliveira costuma produzir, em média, 20 quilos de azeitonas por ano.

O plantio é considerável viável em terrenos com mais de mil metros de altitude e Benatti lembra que sua fazenda está a 1.150 metros e conta com pivô de irrigação. Nos meses de setembro e outubro, muitas oliveiras afloraram, mas acabaram abortando por conta de uma falha de manejo. “Nosso objetivo em Cristalina é produzir azeite de alta qualidade, tipo gourmet, com menos de 0,5% de acidez. A maioria destes que estão no mercado são batizados com óleo de soja”, afirma o produtor.

Por tudo isso, o olivicultor está confiante de que esta produção experimental dará certo. As oliveiras produzem por cerca de 100 anos, depois que começam a dar frutos. “Com irrigação, podemos chegar aos 150 anos. Nossa expectativa é que cada pé produza até 40 quilos de frutos quando estiverem em plena produção, o que possibilitaria a fabricação de oito litros de azeite por pé”, prevê o produtor, que tem a única plantação de oliveiras do Centro-Oeste.

Valores

O azeite brasileiro já conquistou 133 prêmios em 10 concursos que já participou e Benatti ressalta que apenas 250 mililitros deste azeite de alta qualidade é vendido por cerca de R$ 80. Com 200 pés produzindo por hectare e considerando que cada litro seja comercializado por um valor mínimo de R$ 200, o faturamento anual já ficaria em consideráveis R$ 40 mil por hectare. “É uma boa rentabilidade e a demanda interna pelo produto tende a crescer. Por isso, acredito que existe um grande potencial na produção”, avalia.

Se tudo der certo, a meta é passar dos 100 hectares num futuro próximo. O engenheiro florestal Moacir Batista do Nascimento, presidente da Associação dos Olivicultores dos Contrafortes da Mantiqueira (Assoolive), lembra que a defasagem de latitude da região Sudeste é compensada pela altitude a partir de 900 metros para viabilizar o plantio de oliveiras. Como a latitude em Goiás é ainda menos favorável, com temperaturas mais altas, ele ressalta a importância de investir em variedades adaptadas a menos frio.

Entre elas, estão a arbequina, koroneiki, grappolo e arbosana, que estão sendo cultivadas em Cristalina. Por isso, Nascimento acredita que é possível ter pomares em diferentes regiões do País. “Acho que há potencial, mas exige pesquisa aplicada para dar suporte aos pomares comerciais, como um apoio efetivo das universidades da região, através de estudos sobre a olivicultura”, ressalta. Além disso, os órgãos estaduais também podem contactar a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), que tem uma boa estrutura de pesquisa e um bom banco genético, com muitas variedades.

Em Catas Altas de Noruega (MG), um produtor que tem três mil oliveiras produz entre 300 e 500 litros de azeite por ano e pretende chegar aos 3 mil litros. Hoje, a região Sudeste, onde os olivicultores fizeram a primeira extração em 2008, conta com cerca de 200 produtores, sendo 150 só em Minas Gerais.

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