Graduada em Pedagogia e especializada em Sociologia e Educação, Ivy Stela Castro e Oliveira Silva, de 43 anos, possui uma trajetória de engajamento em ações contra o abuso infantil, um caminho que percorre usando a contação de histórias.
Atual coordenadora do Centro Municipal de Educação Infantil (Cmei) Cecilia Meireles, localizado no Setor Norte Ferroviário, em Goiânia, ela acaba de lançar Heróis da Proteção, livro voltado para as crianças no qual dá dicas de como se proteger em caso de violência sexual.
A ideia da obra surgiu em junho deste ano durante as aulas da pós-graduação A Arte de Contar Histórias que Ivy Stela ainda realiza na Faculdade Brasília, curso oferecido em parceria com a Associação Amigos das Histórias, do Distrito Federal.
“Uma colega contou que foi abusada na infância e que ela usava essa experiência para trabalhar com crianças”, lembra. O pedido da professora Mônica Papa, uma das fundadoras da Associação, para fazer um desenho que refletisse o tema desencadeou todo o processo. “Eu mostrei meu desenho, falei da minha ideia e ela me incentivou demais.”
Os heróis da proteção, personagens do primeiro livro de Ivy Stela, são figuras imaginárias retratadas pela ilustradora Tatiana Bianchini, de São Paulo, a partir do desenho que a educadora goiana criou. Cada um, como o cachorro Cuco ou bicho fofo Penujinho, têm uma missão protetora em caso de aproximação de um “monstro” que ameaça, toca e fere.
“Muitas vezes a descoberta não é na família, ambiente em que a criança pode estar exposta ao perigo, e sim na escola. Eu mesma já passei por uma situação assim, quando um aluno contou o que vivia em casa”, afirma Ivy.
No canal que mantém no YouTube para contar histórias, ela já trabalhou o tema utilizando o livro Não me Toca, seu Boboca, de Andrea Viviana Taubman. Agora, chegou a vez de falar da própria obra, das artimanhas lúdicas que idealizou para afastar as crianças do perigo da violência sexual.
O cuidado com as filhas Lívia, de 11 anos, e Alícia, de 9, delineou a decisão da pedagoga em trabalhar o tema do abuso infantil numa obra literária. “Eu e meu marido, Rony, sempre abordamos abertamente este assunto com elas. Minha primeira preocupação é protegê-las.”
O diálogo, como enfatiza a psicóloga Tatiana Goulart de Sousa, é o caminho mais sensato para evitar os traumas. Convidada por Ivy Stela, a psicóloga finaliza o livro com uma mensagem aos adultos, pais ou responsáveis, sobre como proceder após a criança concluir a leitura.
No Cmei onde é coordenadora, Ivy já desenvolve o projeto Conversando com a Família onde fala sobre o assunto. Seu objetivo, de agora em diante, é levar o Heróis da Proteção para escolas, igrejas e outros locais onde as crianças sejam protagonistas. Ela já foi convidada a apresentar a obra em Anápolis, em um projeto de contadores de histórias, e também em Caiapônia.
Em Goiânia, duas escolas da rede pública municipal também a convidaram a contar a historinha dos heróis protetores no Maio Laranja, o mês dedicado, por lei federal, ao enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes.