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Professora denuncia vigia e diretora por estupro dentro de escola, em Goiânia

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Uma professora de 39 anos acusa um vigia de uma escola estadual em Goiânia de tê-la estuprado dentro da unidade, localizada na região noroeste da capital, após ela ter sido dopada pela diretora. O casal ainda teria, segundo a denúncia, gravado cenas do crime e usado as imagens para intimidá-la e desmoralizá-la perante os colegas de trabalho. O caso está sendo investigado pela 2ª Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (2ª Deam) da capital, que já ouviu três testemunhas que dizem ter visto um vídeo do suposto estupro. 

A violência sexual teria ocorrido no dia 23 de janeiro, mas a professora – que atuava como coordenadora da unidade afirma não se lembrar por causa da droga que lhe foi dada e que só tomou conhecimento do vídeo no dia 9 de março, quando começou a circular na escola que a diretora estaria mostrando as cenas para servidores enquanto ofendia a vítima.

A professora explica que no dia do crime, um domingo, estava fazendo hora extra na escola para ajudar no processo de reabertura quando começou a se sentir mal e a diretora lhe deu um suposto antialérgico. Neste momento ela teria adormecido e despertado horas depois, sem sentir nada que pudesse ter relação com o abuso.

Sem saber ainda do que aconteceu no dia 23, a professora se envolveu com o vigia por cerca de 15 dias no mês passado, mas se afastou por causa do comportamento abusivo e agressivo dele. Em seu depoimento, ela contou que vinha sendo procurada por ele desde o final do ano e que foram quatro encontros em fevereiro sem nenhum envolvimento íntimo. Após ela se afastar, o homem, de 41 anos, teria começado a ameaça-la e ofendê-la, o que a fez procurar pela primeira vez a Deam. 

A professora também acusa o vigia de ter tentado extorquir R$ 3,5 mil dela insinuando ter fotos e montagens que a comprometeriam. Como ela ainda não tinha conhecimento do que aconteceu em janeiro, achou que se tratava de montagens, mas se sentiu ameaçada. A isso se somaram, por parte dele contra a vítima, ataques, ofensas e tentativas de intimidações envolvendo o nome da diretora.

No final de fevereiro, a professora conseguiu na Justiça uma medida protetiva impedindo que o vigia se aproximasse. Na mesma época o profissional também foi retirado da escola pois teriam surgido relatos de assédio moral cometidos por ele contra outras servidoras. Em sua decisão, a juíza plantonista Raquel Rocha Lemos afirma que “analisando as declarações da vítima, verifica-se que estão presentes os requisitos que autorizam o deferimento das medidas protetivas”, no caso a proibição de se aproximar da professora e de manter contato com ela, familiares dela e possíveis testemunhas.

Briga com a diretora

Com o afastamento do vigia e a medida protetiva, a diretora teria se envolvido ativamente em defesa dele, cobrando da professora um recuo. Isso porque, segundo a denúncia, diretora e vigia mantinham um relacionamento. A professora chegou a ser afastada da função de coordenadora, ameaçada de perder a gratificação pelo cargo. Segundo relato dela à polícia, a diretora também começou a difamá-la junto a outros colegas de trabalho e impedido que ela continuasse executando suas tarefas na unidade de ensino.

No dia 2 de março, servidores da unidade de ensino se reuniram e narraram uma série de abusos cometidos pelo vigia. Os relatos foram descritos à mão em uma ata assinada por eles. A diretora teria cobrado posteriormente que este documento fosse destruído. O POPULAR teve acesso a uma cópia do documento.

A briga entre a diretora e a professora foi parar na Secretaria Estadual de Educação de Goiás (Seduc), que tentou apaziguar a situação sem afastar nenhuma das duas da unidade. A professora vinha pedindo ajuda desde o começo do mês, sendo orientada inicialmente a registrar uma queixa na ouvidoria do Estado. Depois disso, foram três reuniões, nos dias 7, 8 e 11 de março. O POPULAR teve acesso a ata de duas na Coordenação Regional de Educação (CRE) de Goiânia com representantes da Seduc e a professora. Em um encontro, a diretora esteve presente.

O CRE abriu a segunda reunião, no dia 8, afirmando que o “objetivo maior” é o “interesse apenas da Unidade Escolar”. Naquele momento, ambas manifestaram o interesse de seguir na escola e a professora falou que vinha sendo perseguida pelo vigia e que queria apenas sossego para trabalhar. A ata com as queixas dos outros profissionais foi entregue para o CRE neste momento. Este encontrou durou quase duas horas e meia.

Três dias depois, a professora voltou para uma nova reunião no CRE, neste intervalo ela teria sido informada por colegas que a diretora teria mostrado para outros servidores um vídeo com cenas do estupro ocorrido dentro da escola. Pela descrição das cenas, de como ela aparecia nas imagens, ela se lembrou que era como estava vestida no dia que aceitou a suposta medicação da diretora na sala dela. Foi quando descobriu que foi vítima de um estupro.

Neste novo encontro no CRE, sem a presença da diretora, a vítima apresentou dois registros de ocorrência feitos na Polícia Civil por ela no dia 9 e foi informada que o vigia havia sido transferido para outra unidade de ensino “aguardando a conclusão da apuração, seja de âmbito administrativo ou penal”, enquanto ela seguiria com as atividades na escola.

Paralelamente, colegas e servidores da educação, principalmente ligados ao grupo Mobilização dos Professores de Goiás (MPG), iniciaram uma série de protestos no entorno da escola, cobrando o afastamento da diretora e um posicionamento da Seduc em defesa da professora. A manifestação também foi dirigida a um deputado estadual que costuma aparecer em eventos na unidade de ensino e tem seu nome divulgado no perfil do Instagram do colégio.

Na tarde desta sexta-feira (18), está previsto um novo protesto organizado pelo MPG, em frente à sede do CRE, no Setor Oeste. O ato é em repúdio ao assédio sexual que o movimento afirma terem sido vítimas as servidoras do colégio estadual da região noroeste da capital.

Afastamento

A Seduc afastou a diretora e a professora da escola na quarta-feira (16), um dia depois do POPULAR procurar a assessoria questionando sobre o caso. Em nota encaminhada na quarta, a pasta informou que “todos os envolvidos no caso” foram afastados da escola “para que os alunos não fiquem prejudicados”. “O vigia teve seu contrato encerrado e a professora e a diretora foram afastadas temporariamente. A Secretaria de Estado de Educação vai instaurar uma auditoria na escola”, afirmou na nota.

Questionada quando o afastamento se deu, entretanto, a Seduc disse não saber informar. Na terça-feira (15), no perfil do Instagram da escola foi publicado uma mensagem afirmando que a unidade “vem sofrendo ao longo dos últimos dias ataques por parte de uma servidora que não teve seus caprichos atendidos”. Já na quarta, uma nova publicação afirma que “as servidoras envolvidas nos boatos” foram afastadas e o colégio estava sob intervenção.

A Polícia Civil informou que está investigando um caso de denúncia de estupro envolvendo as pessoas citadas. A diretora foi procurada pela reportagem, mas não retornou a mensagem deixada em seu celular, mesmo a visualizando. O vigia não foi localizado.

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