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Rússia fecha parte do mar Negro para navios de guerra estrangeiros

Sergei Ilnitsky / Pool / Reuters
Vladimir Putin

Em mais um movimento na sua disputa com a Ucrânia sobre o destino das áreas habitadas por russos étnicos no leste do país, Moscou decidiu fechar parte do mar Negro para navios de guerra estrangeiros.

O anúncio foi feito nesta sexta (15), após a Marinha ucraniana alertar que barcos russos estavam tomando posições próximo à ponte da Crimeia, a gigantesca estrutura que Vladimir Putin construiu para ligar a península anexada em 2014 a seu país.

Na sua margem leste, a Crimeia é banhada pelo mar de Azov, um trecho do mar Negro que no chamado estreito de Kerch tem a ponte de 19 km como estrela.

"Das 21h do dia 24 de abril às 21h de 31 de outubro, a passagem de navios estrangeiros militares ou estatais estará suspensa", disse o Ministério da Defesa russo.

É receita para confusão. Além da Crimeia e da Rússia mais a leste, o mar banha um trecho considerável de costa ucraniana, com portos centrais para a exportação de aço e cereais do país. Kiev teme que esses navios acabem afetados pelas medidas.

As restrições ocorrerão também em outros pontos em torno da Crimeia, como na cidade de Sebastopol, que já sediava a Frota do Mar Negro russa antes mesmo da anexação, por meio de um acordo.

Com isso, quer delimitar também a movimentação de navios da Otan (aliança miltiar ocidental), que fazem exercícios frequentes na região em apoio aos ucranianos e em coordenação com os turcos, que controlam a ligação do mar Negro com o Mediterrâneo.

Para o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, a decisão "usurpa a soberania" do país e viola leis internacionais sobre trânsito marítimo.

Confusões são velhas conhecidas naquela região. Em 2018, a Rússia apreendeu três navios militares ucranianos no mar de Azov, e um barco russo foi abordado no ano seguinte.

Mas a medida agora vem no contexto da disputa pelo Donbass, área que vive um instável cessar-fogo na sua guerra civil iniciada em 2014, após Putin anexar a Crimeia para impedir que o governo pró-Ocidente que derrubou o pró-Moscou em Kiev conseguisse ser absorvido pela Otan.

Após a Ucrânia reforçar suas posições em torno dos bolsões rebeldes, os russos concentraram mais de 80 mil soldados nas fronteiras com o vizinho e na Crimeia.

A tensão gerou uma escalada retórica com o Ocidente e uma série de exercícios militares provocadores de lado a lado.

Na quinta, dois dias depois de sugerir por telefone a Putin uma reunião de cúpula, presidente americano, Joe Biden, determinou as mais duras sanções contra a Rússia desde 2018.

Elas incluem, além da expulsão de diplomatas acusados de espionagem, medidas econômicas para restringir negociações com títulos do governo russo. Na prática, são em sua maioria contornáveis.

Nesta sexta, o Kremlin disse que se reserva o direito a retaliar na mesma medida, como é a praxe, mas quem tomará a decisão final será Putin.

"Claramente eles [Putin e Biden] diferem no entendimento de como construir uma relação mutualmente benéfica levando em conta os interesses do outro", disse Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin. Ele disse que "a obsessão com sanções de nossos contrapartes americanos seguem inaceitáveis".

A China, aliada da Rússia no Conselho de Segurança das Nações Unidas e crítica contumaz das sanções econômicas que recebe dos EUA devido à restrição da autonomia de Hong Kong, defendeu Putin. "[As medidas] constituem política de força bruta e 'bullying' hegemônico", disse o porta-voz da chancelaria chinesa, Zhao Lijian.

Enquanto isso, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, foi a Paris pedir apoio ao seu colega Emmanuel Macron.

Tanto o francês quanto a chanceler alemã, Angela Merkel, foram exortados por Peskov a convencer o ucraniano a buscar uma saída diplomática para a disputa. Alemanha e França têm diversos negócios energéticos com os russos, e têm buscado apoiar a introdução da vacina russa Sputnik V no continente.

Na guerra de versões, Putin quer impingir a Zelenski a pecha de ter começado a crise. E busca a implantação dos Acordos de Minsk, que em sua segunda versão de 2015 devolvem as áreas rebeldes para Kiev, mas as mantêm autônomas, garantindo a separação do Ocidente desejada por Putin.

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