Cinco membros de um grupo de fanáticos religiosos foram presos em Rosita, na Nicarágua, acusados de queimar Vilma Trujillo García, de 25 anos, na fogueira por acreditar que ela estava “possuída pelo demônio”. Desde 2012, 345 mulheres foram assassinadas no país.
No momento da prisão, o líder do grupo, Juan Gregorio Rocha, que se identifica como pastor da congregação evangélica Assembleia de Deus, disse que “Deus disse que ia tirar aquele espírito maligno dela e mandou acendermos uma fogueirinha para expulsar o demônio.”
O líder do grupo afirmou à imprensa que a mulher caiu na fogueira “quando o Espírito Santo saiu de seu corpo”. Ele viu a ação como um ato de “cura” de Vilma que, segundo os religiosos, estava “endemoniada”.
Entre as pessoas detidas, estão duas mulheres que, segundo testemunhas, teriam participado da morte da moça. Vilma foi despida, jogada no fogo com as mãos amarradas e atirada em um barranco, onde foi encontrada por um familiar nove horas depois. Ela estava com queimaduras em 80% do corpo e morreu na madrugada de terça-feira (28) em um hospital de Manágua. O corpo de Vilma será enterrado na mesma comunidade onde ela foi queimada viva.
O marido da vítima, Reynaldo Peralta, declarou à imprensa que a mulher, mãe de dois filhos, sofria “problemas de saúde e desmaios” e por isso os familiares procuraram a ajuda religiosa. Ele também falou que ficou fora do povoado durante 15 dias para ajudar sua mãe, na construção de uma casa.
Juan Gregorio Rocha foi quem afirmou que Vilma estava “endemoniada” e que ele e sua congregação a curariam.
A Assembleia de Deus tem 102 anos, conta com 12 mil membros na Nicarágua e mais de 64 milhões de pessoas no mundo todo. O presidente da congregação na Nicarágua, pastor Rafael Aristas, declarou que Juan Gregorio Rocha não está registrado como pastor na Assembleia de Deus, mas confirmou que ele é evangélico.
Indignada com o caso, a vice-presidente Rosário Murillo disse que o fato é “realmente lamentável, uma irmã que foi martirizada por membros de sua comunidade, algo que não pode e não deve se repetir”. Já os grupos feministas acusam a vice-presidente de manipular a religião para ganhar apoio da população.
"Sinto muito pela morte de Vilma Trujillo por causa do fanatismo e da ignorância religiosa. Não se pode destruir uma vida em nome de Deus!”, afirmou no Twitter, o bispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez.
Também na rede social, a escritora Gioconda Belli comentou que “esse crime atroz não pode ficar impune. Como também o de tantas mulheres cujos cadáveres se acumulam enquanto reina a impunidade”. Belli se declarou “comovida” pelo assassinato cruel de Vilma Trujillo, “queimada como nos piores tempos da Inquisição e da Caça às Bruxas”.