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Renda dos goianos encolhe com escalada da inflação

Diomício Gomes/O Popular
Quase 360 mil goianos tiveram renda média per capita inferior a R$ 100 por mês em 2021

A renda média mensal da população goiana, incluindo todas as suas fontes de renda, ficou em R$ 2.101 no ano passado, uma queda de 3,5% em relação ao ano anterior e o menor valor da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 e divulgada pelo IBGE. O rendimento médio real dos goianos, que já chegou a R$ 2.402 em 2014, foi achatado por fatores como a inflação. Com isso, quase 360 mil pessoas tiveram renda média per capita inferior a R$ 100 por mês em 2021.

A análise do IBGE utiliza informações dos rendimentos recebidos de todos os trabalhos e de outras fontes no mês de referência, deflacionados a preços médios de 2021, ou seja, descontada a inflação do período. 

O economista Edson Roberto Vieira, superintendente do IBGE em Goiás, lembra que a alta no custo de vida foi um dos fatores responsáveis por esta queda na renda dos goianos. A inflação acumulada de janeiro de 2014 (ano que registrou o maior rendimento e as menores taxas de desemprego no Estado), a maio de 2022 atingiu um índice de 68%.

Em Goiás, houve queda nos rendimentos recebidos em todos os tipos de trabalhos em 2021, quando a taxa de desemprego atingiu 13,9% no primeiro trimestre. Edson explica que esta queda na renda também é um reflexo da piora no mercado de trabalho desde 2015. “De lá pra cá, até que tivemos alguma recuperação, mas que foi muito baseada no emprego informal, que tem uma menor remuneração”, destaca. Embora a taxa de desemprego tenha caído nas últimas pesquisas, ela ainda está duas vezes maior que a de 2014, quando a renda era maior.

Outro problema, segundo o superintendente do IBGE, é que os postos de trabalho criados em 2021, após a retomada das atividades econômicas, não pagam salários iguais aos que foram fechados em 2020, por conta da pandemia. A informalidade se manteve na faixa dos 40% no ano passado.

A Pnad também mostrou que persistem as diferenças salariais históricas entre homens e mulheres, pessoas brancas e de cor preta e entre trabalhadores com maior e menor instrução. Na comparação por sexo, o rendimento médio mensal das mulheres representou 83,6% da média entre os homens. Já o rendimento das pessoas de cor preta correspondeu a 70,6% do valor recebido pelas pessoas de cor branca. Os goianos sem instrução receberam R$ 1.305 em média, 30,5% do rendimento daqueles com ensino superior.

Empobrecimento

A maior redução de rendimentos aconteceu nas outras fontes, que tiveram um recuo de 6,3% em relação a 2020, o menor valor da série histórica. Neste grupo, a queda mais acentuada ocorreu em ‘outros rendimentos recebidos’, que foram quase 30% menores no ano passado, o que pode ter relação com a redução no benefício do auxílio emergencial no ano passado. Com a queda nos rendimentos, quase 360 mil pessoas tiveram renda per capita média inferior a R$ 100 por mês.

Para o economista e mestre em Finanças Marcus Antônio Teodoro, isso mostra um empobrecimento da população nas classes média e baixa nos últimos anos. “Apesar de pagarem mais tributos, as pessoas ficaram mais pobres”, ressalta. O resultado é que apenas quatro em cada dez famílias têm acesso pleno à alimentação e 33 milhões de brasileiros passam fome, segundo o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil.

Edson lembra que o pagamento do auxílio emergencial foi um importante para amenizar os impactos da pandemia sobre a renda. “Mas quando ele deixou de ser pago, este problema ficou bem evidente.”

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