A retirada de árvores de grande porte na Avenida Meia Lua, em Pirenópolis, causou indignação de moradores da via e de guias turísticos da cidade. A avenida, com duas pistas divididas por um canteiro central, dá acesso aos principais atrativos naturais do município e abriga o Museu Rodas do Tempo. A prefeitura alega que as árvores foram retiradas para dar lugar a uma pista de ciclismo e à obra de esgoto, já aprovada pela gestão local e pela Saneago.
Os cortes começaram na sexta-feira (5) e continuaram nesta segunda-feira (8). Mensagens condenando a ação da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Urbanismo rapidamente foram disseminadas em grupos de moradores nas redes sociais. “Como assim, gente? Não existe projeto no mundo que justifique esse crime”, comentou um morador em uma das postagens sobre uma foto do que restou de uma árvore.
À frente da pasta do Meio Ambiente e Urbanismo, César Augusto Feliciano Triers preferiu não dar entrevista. Em nota, a assessoria de comunicação da prefeitura informou que a Avenida Meia Lua sofrerá uma série de intervenções urbanísticas. Em um trecho, conforme o comunicado, a rede de esgoto “está em fase de implantação”, e no canteiro central serão construídas calçadas e uma ciclovia em toda a extensão da via.
Presidente da Associação dos Guias e Condutores de Aventura da Região dos Pireneus, Cristiano Costa explicou que é pela Avenida Meia Lua que se chega ao Parque Estadual da Serra dos Pireneus e a cachoeiras como Lázaro, Abade, Usina Velha, Meia Lua, Santa Maria, Coqueiros e Garganta. “As pessoas estão muito chateadas. Recebi várias reclamações e não entendo a necessidade dessa ciclovia, um projeto que apareceu de uma hora para outra. Além de o espaço no canteiro central ser estreito para caminhantes e ciclistas, é muito melhor fazer essas atividades à sombra.”
A Prefeitura de Pirenópolis informou que ao todo foram suprimidas 12 árvores. Adair Teodoro de Amorim, gerente da cachoeira Usina Velha e também guia turístico, está indignado com a medida. “No canteiro central da avenida havia árvores grandes, tanto frutíferas como espécies do Cerrado, entre elas ipê e copaíba. Na roça, para tirar uma árvore é preciso pedir licença, e na cidade cortam assim, do nada? Ainda mais no período de seca”, afirmou.
Morador da Avenida Meia Lua desde 2005, Oscar Severiano da Conceição, 75 anos, não esconde a tristeza. Ele já estava vendo os frutos da mangueira, do abacateiro, do tamarindeiro e do ingazeiro que plantou fazerem a festa de muita gente que passava por ali, principalmente operários de construções perto de sua casa. “E não é só isso. Ficamos sem as sombras das árvores. Sempre tinha muito carro por aqui aproveitando as sombras.”
Saneago não está com obras na cidade
Na nota encaminhada, a Prefeitura de Pirenópolis explicou que os cortes foram necessários porque as árvores da Avenida Meia Lua apresentavam “anomalias nas raízes e estavam comprometendo a infraestrutura do local”. Conforme o comunicado, “serão plantadas outras espécies de menor porte, ideais ao ambiente urbano.” A administração de Pirenópolis informou ainda que a malha asfáltica da avenida será integralmente recapeada, mas não detalhou o projeto da ciclovia no canteiro central da Avenida Meia Lua que, segundo a nota, foi um dos motivos que levaram à supressão das árvores, assim como obras de esgotamento sanitário pela Saneago.
A companhia de águas e saneamento explicou, entretanto, que no momento não estão sendo realizadas obras sob sua responsabilidade em Pirenópolis. “Em junho de 2021, a Saneago entregou obras de esgotamento sanitário no município, com investimentos de mais de R$ 9,3 milhões e atendendo todos os requisitos de preservação do patrimônio histórico da cidade”. Ainda segundo a empresa, “na ocasião foi realizada a ampliação da Estação de Tratamento de Esgoto e implantados 18,6 km de redes coletoras”. A Saneago explicou que há estudos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em andamento visando, através de parceria público-privada, a universalização do sistema de esgotamento sanitário, no prazo estabelecido pelo Marco Legal do Saneamento.
O jornal recebeu informações não oficiais de que as árvores na Avenida Meia Lua foram retiradas pela empresa Gav Resorts, para interligação de esgotamento sanitário do empreendimento de luxo Pyreneus Residence. A empresa confirmou que está realizando trabalhos de interligação da rede de esgoto na cidade, mas sem a necessidade de remover árvores. Conforme nota da assessoria de imprensa, a Gav está “implementando melhorias externas ao empreendimento, conforme exigido pela prefeitura da cidade, incluindo a construção de uma pista de caminhada para os moradores locais”.
A empresa ainda informou que “no mês de junho, algumas árvores de pequeno porte foram removidas apenas no Anel Viário, com todas as atividades realizadas com licença específica”.