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Romaria do Divino Pai Eterno ainda não tem definição

Diomício Gomes/O Popular
Todos os anos, na época da Festa do Divino Pai Eterno, os carros de boi saem em romaria até chegar a Trindade

Faltando pouco mais de um mês para a data oficial da Romaria do Divino Pai Eterno, em Trindade, a 18 km de Goiânia, que está marcada para os dias entre 25 de junho e 4 de julho, ainda não há definição sobre como o evento ocorrerá este ano.

Por conta da pandemia do coronavírus (Sars-CoV-2), a expectativa é que mais uma vez as celebrações ocorram apenas de maneira virtual. A notícia, que já era esperada por conta da lentidão da vacinação no Brasil, deixa os carreiros, que fazem suas tradicionais viagens em carros de bois, tristes com a suspensão pelo segundo ano consecutivo.

O veterinário e carreiro Dirceu Furtado Neto, de 34 anos, diz que acompanha a festa em carros de boi desde bem pequeno. Ele é de Damolândia e, acompanhava o avô e o pai e agora tem o próprio carro.

“O coração fica na mão quando a gente ouve a música da romaria. É uma tradição que a gente faz por amor, por devoção. Infelizmente a pandemia nos impede de reunir neste momento.” O carreiro diz que, apesar de triste, defende a suspensão.

“Essa é uma festa que reúne gente de todo canto e uma pessoa contaminada poderia fazer um estrago grande.”

Para ele é importante esperar que a vacina alcance a todos para não colocar pessoas em risco.

“A gente pode ir e pegar a doença numa festa dessa. Podem nem ter nada, mas se a gente traz isso pra casa e adoece uma pessoa da família, que nem foi pra festa para se resguardar. O melhor é acompanhar pela televisão, pela internet até a que a gente tenha segurança para fazer isso da maneira certa. É melhor cuidar para ter saúde e viver esse momento, da retomada, do reencontro.”

O comerciante Welber Nunes Arantes, de 42 anos, também de Damolândia, diz que a família tem tradição de acompanhamento da festa de Trindade. “Eu já fui quando ainda estava na barriga da minha mãe. Ia acompanhando minha família, mas comprei meu carro há sete anos. Eu vou porque gosto, porque amo.”

Ele também lamenta a suspensão da festa, mas diz que a expectativa para 2022 aumenta. “Se estiver tudo bem até lá e a gente puder encontrar vai ser muito emocionante.”

Welber não acredita que a festa possa acontecer neste ano. “Tá muito em cima. Se falar que tem a festa, muita gente vai e isso não é adequado agora porque vai reunir muita gente.”

Além disso ele acredita que o tempo seja insuficiente para que os carreiros se organizem para comparecer à cidade. “Numa hipótese de haver a festa, o tempo para o preparo seria curto.” Ele explica que muitos carreiros tiveram que se desfazer dos animais e de seus carros por conta da previsão de suspensão da festa. “A gente passa o ano todo preparando. Chegamos de uma festa e já começamos a planejar a próxima.”

Questionado sobre o motivo de investir neste tipo de tradição, ele garante que é pelo amor à cultura, aprendida com a família. “É igual pequi, ou você ama ou odeia. Tem gente que critica nosso gasto, nosso empenho, o trato com os animais. Mas o que posso falar é que é do coração, a gente não consegue abandonar.”

O prefeito de Damolândia, Rogério Neto, diz que ainda aguarda definição do governo estadual. “A gente soube que o prefeito de Trindade se reuniria com o governador para discutir este assunto. Mesmo achando que não vai ter a festa a gente precisa de uma definição. A cidade tem um apego grande e só vai começar a pensar em 2022 se a gente tiver essa resposta.”

Ele ainda diz que acredita que na festa do próximo ano terá recorde de participação. “Cerca de 50 carros participam do evento, mas por ficarmos esse tempo sem participar, acredito que muita gente vai querer reviver essa experiência quando for permitido.” A reportagem buscou resposta sobre o assunto, mas a prefeitura ainda não tem definição.

Reitor do Santuário Basílica de Trindade, padre João Paulo Santos disse que existe planejamento, mas que depende do parecer da prefeitura e do Estado para apresentar as definições. Neste ano a festa completa 181 anos e desde o ano passado representantes da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), Santuário Basílica, autoridades sanitárias e prefeitura da cidade têm acompanhado a evolução da doença para tomarem uma decisão.

O reitor da basílica quer apresentar a definição até dia 25 deste mês.

No ano passado houve a impossibilidade e a resposta deste ano deve ser apresentada nesta semana. Atualmente, as igrejas do município podem receber 20% dos fiéis e devem seguir os protocolos de uso de máscara, álcool gel e distanciamento. A festa de Trindade já chegou a receber 3,2 milhões de pessoas durante os dez dias de romaria em 2019.

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