Estudante de Educação Física, o jovem João Vitor de Paiva Bittencourt, de 22 anos, ganhou um novo sonho na última semana: ser influenciador digital. Nas redes sociais, o rapaz, que tem síndrome de Down, gosta de mostrar parte da rotina acadêmica. Foi num desses vídeos, publicado no TikTok, que ele viu seu alcance bater números nunca vistos: 400 mil visualizações em menos de 24 horas.
A viralização foi inesperada, mas o trabalho de produzir vídeos para a internet não é de agora. João Vitor conta que ele fazia lives (transmissões ao vivo) em forma de bate-papo para falar de assuntos variados, como sua rotina diária. Mas, quando decidiu entrar no TikTok, se assustou com a quantidade de pessoas que o assistiam, pois o mesmo não acontecia na outra rede que publica vídeos, o Instagram. “É uma emoção grande, nunca vi muitas pessoas me vendo. Eu estou feliz demais, estou gostando de fazer”, conta.
O sucesso repentino do jovem que reside em Goiânia se deu num vídeo curto e sem qualquer edição, publicado na última quinta-feira (23), enquanto ele ia à aula na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). “Estou agora indo pra aula de Metodologia, depois vou ter aula de estágio, e depois ter aula de Epistemologia. Bom dia para vocês, tô indo começar a aula ali agora na quadra”, diz. Hoje, o vídeo já bate 528 mil visualizações, além dos 17,6 mil seguidores que o acompanham na rede.
Mesmo com seu interesse pelo mundo digital, o qual ele quer seguir, seu verdadeiro sonho é abrir uma academia, ou melhor, uma rede. “Quero ganhar dinheiro para investir em academia”, resume. Educação física sempre fez parte da vida do rapaz. “Ele nada desde sempre, faz dança. Começou como estimulação e virou esporte. Qualquer um que você botar na frente dele ele é apaixonado”, conta a mãe, Márcia Regina de Paiva Bittencourt, de 60 anos.
Na interpretação dela, a ligação do filho com o esporte tem a ver com o “movimento do corpo”. E é isso que João Vitor gosta. Com a rotina cheia, ele sai para estudar pela manhã, depois vai à academia e, em outros dias, à natação. Mas, quando está em casa, também não fica parado: estuda, faz atividades físicas e cuida dos afazeres da casa, além de tirar um tempo para ver televisão.
Agora, tem uma nova programação para incluir no dia a dia: produzir seus vídeos para o TikTok. Além de falar da rotina acadêmica, o jovem também se arrisca a gravar conteúdos com danças populares. A ideia é continuar gravando os assuntos de seu interesse, mas de forma espontânea, como sempre fez. “Faz quando você quiser, o que você quiser, e não o que mandarem fazer” foi o conselho da mãe, logo após o sucesso na publicação. “E é o que ele tem feito. Tem de botar a cara para ver o que dá”, finaliza.
Inspiração
Na visão de Márcia Regina, a ideia do filho ao produzir os conteúdos é falar da síndrome de Down de forma a mostrar que as pessoas que convivem com a condição genética podem fazer as coisas que são consideradas “normais” para os outros. “A vontade dele é falar que cada um (com a síndrome) é de um jeito. Não é igual. Mostrar que ele pode estudar, que ele namora, que ele gosta de dançar. Essas coisas, que são tão normais para os outros”, diz, explicando que João Vitor faz tudo sozinho. “Desde pequeno ensino ele (a ter autonomia). Nunca admiti ninguém a falar errado com ele, ou que fizessem as coisas. Mesmo ele não sabendo fazer, ele tinha de tentar”, relata ao falar sobre a criação dele para “voar”.
Com a viralização do vídeo, Márcia conta que famílias de crianças atípicas de diferentes regiões do Brasil entraram em contato com ela. “Teve gente agradecendo, falando que está servindo de inspiração. As mães têm me procurado a partir dele para perguntar o que eu tenho feito, principalmente as que acabaram de ter filho”, diz.