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Roubos voltam ao patamar pré-Covid no transporte coletivo de Goiás

Wildes Barbosa
Mochila sempre à frente para se proteger de eventuais furtos no transporte

Passado o fim da restrição social imposta pela pandemia da Covid-19, o total de roubos em transporte coletivo de Goiás tem retomado ao patamar registrado no período pré-pandêmico. Em 2019, de janeiro a junho, foram 398 crimes do tipo. No mesmo período deste ano, foram 391, o que representa um aumento de 57% em relação ao ano passado. Entre 2020 e 2022, a cifra média foi de 250 casos nos seis meses.

Os dados do Observatório da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás (SSP-GO) mostram que, dentre os anos com publicações disponíveis, o de 2018 foi o com maior quantitativo em roubo no transporte coletivo. No período de janeiro a junho, foram 519 registros. O total naquele ano chegava a 860. Mesmo que os números atuais ainda não alcancem o quantitativo daquele ano, especialista alerta que alta deve continuar.

Os registros fizeram uma curva decrescente, de 2018 a 2020, quando houve uma brusca redução diante da deflagração da pandemia e o início do isolamento social. No último ano citado, foram 448 casos. Comparando ao primeiro ano de registro disponível, a queda foi de 47%. Mas, de 2020 para 2022, a curva mudou para crescente, com aumento de 25%.

Membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Luís Flávio Sapori aponta que há uma tendência de aumento diante da retomada das atividades econômicas. “É esperado. É mais provável que em 2023, 2024, tenha aumento. As atividades econômicas retomam, os comércios voltam a funcionar, então os alvos voltam a circular. (O roubo) é um crime de oportunidade”, pontua.

A situação, conforme ele, é similar em várias capitais brasileiras. O pesquisador aponta ainda que há uma redução de roubos e furtos em detrimento do estelionato. “A suposição é de que (a queda) se dá pela migração dos criminosos para o crime de estelionato. A internet e as redes sociais facilitam (este tipo) de crime”, pontua.

Em março, o Daqui mostrou aumento de estelionatos. Houve disparo no estado diante dos golpes virtuais. De 2021 para 2022, saltou de 57,1 mil ocorrências para 72,5 mil.

Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023. O compilado mostra, ainda, que a quantidade de roubos em geral teve redução de 15,9% de 2021 a 2022, quando saiu de 19,8 mil ocorrências para 16,9 mil. A prática de furto de celulares, por outro lado, aumentou em Goiás. No mesmo período, houve acréscimo de 18,1%, quando o total saiu de 15 mil para 17,9 mil registros.

As estatísticas não contemplam todos os casos. “Em ambos (furto e roubo), a subnotificação estimada é de 60 %”, destaca Sapori. Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do último trimestre de 2021, a última do tema, apenas 44,8% dos casos de furto são relatados às autoridades policiais. Para roubo, a taxa é de 42,1%.

A problemática é reforçada pela pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre Criminalidade e Violência da Universidade Federal de Goiás (Necrivi/UFG), Cinthya Zortéa. “O acesso ao transporte público de qualidade tem impacto no desenvolvimento social, pois os usuários têm direito a um serviço adequado e seguro. Entretanto, não há como ignorar os altos índices de criminalidade, que esbarram inclusive na questão da subnotificação da ocorrência dos crimes”, diz.

Ainda conforme ela, a violência ocorrida no transporte público “é um desafio infindável para a administração pública”. “A qualidade na prestação de serviço relativo ao transporte público guarda relação direta com a segurança. Os criminosos atuam (ali) porque enxergam oportunidades favoráveis”, diz.

A pesquisadora acrescenta que o crescimento nos delitos pode estar relacionado às oportunidades favoráveis aos criminosos no transporte público. “O cometimento de crimes nesses espaços propicia uma certa facilidade para implementar fuga, seja pela ausência de policiamento, seja pela presença massiva de pessoas em trânsito.”

O Daqui percorreu os terminais Praça A e Dergo nesta quinta-feira (21) e visualizou a realidade de medo. Passageiros aglomerados colocam bolsas e mochilas voltadas à frente. Não é difícil localizar quem tenha sido furtado. Vale lembrar que o furto é quando não ocorre violência ou grave ameaça.

As pessoas furtadas, ouvidas pela reportagem, foram quase unânimes em mencionar que não procuraram a polícia. A exceção foi a vendedora Josy Silva, de 31 anos, furtada na semana passada em um ônibus da linha 110 (Terminal Senador Canedo/Terminal da Bíblia). No entanto, conta, a queixa só foi registrada, pois os documentos pessoais foram levados. “Não levaram o celular, ando com ele na calça.”

Em nota, a Rede Metropolitana de Transportes Coletivos (RMTC) diz adotar medidas de prevenção, como câmeras de segurança em todos os terminais e estações, e em parte dos ônibus. “Tudo integrado ao Centro Integrado de Inteligência, Comando e Controle da Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás, que recebe as imagens dos terminais e estações em tempo real, assim como as ocorrências.”

Além disso, aponta que tem rádio comunicador e botão de pânico em todos os veículos, que pode ser utilizado pelo motorista em caso de emergência para acionamento das forças de segurança pública. “A RMTC conta também com vigilantes terceirizados que atuam durante todo período operacional nos terminais e estações”. Procurada, a SSP-GO não respondeu.

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