Diante da baixa cobertura vacinal, mesmo após uma campanha de imunização, autoridades de Goiás preparam profissionais para diagnosticar casos de poliomielite. A medida, já em andamento, atende a uma orientação do Ministério da Saúde (MS).
Os profissionais de vigilância em saúde que atuam nas reginais - Goiás tem 18 delas - já passaram pela preparação, assim como servidores da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO).
Superintendente de Vigilância em Saúde da pasta, Flúvia Amorim afirma que um dos fatores que motivam a decisão é que muitos profissionais nunca tiveram contato com a doença. “Nosso objetivo é melhorar a sensibilidade para identificar casos da doença”, diz.
O próximo passo que é organizado no momento é a preparação para treinar os trabalhadores que lidam diretamente com quem procura assistência nos municípios. “Importante ressaltar que a capacitação de profissionais está sendo feita porque nós deixamos de fazer a nossa tarefa de casa”, lamenta.
Goiás tem a sétima pior taxa de imunização contra a poliomielite, com 57%. Flúvia avalia que o índice melhorou com o “Dia D”, mas que ainda está muito aquém da meta, que é de alcançar 95% do público-alvo. “A gente vem observando já há algum tempo que a cobertura vem caindo, isso desde 2016. E piorou com a pandemia da Covid-19”, avalia.
A superintendente pontua também que há uma série de motivos para a redução da cobertura vacinal.“Baixa percepção do risco, porque não tem mais a doenças, com a Covid-19 houve muita fake news sobre vacinas e as pessoas ficaram com mais medo de se imunizarem, então é uma série de motivos”, lista Flúvia.
De agora em diante a comunicação que chama a atenção para o assunto vai continuar a ser feita no estado.
Dos 246 municípios de Goiás, 51 atingiram o porcentual mínimo de imunização. Eles, conforme a superintendente da SES-GO, são, de maneira geral, pequenos. “Nestes locais houve o trabalho casa a casa, por serem menores, isto é mais fácil de ser realizado”, diz.
Na capital o último “Dia D” foi em 8 de outubro, quando mais de 5,5 mil doses foram aplicadas. A reportagem pediu à Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia uma entrevista para a apresentação de uma avaliação da situação e as possíveis estratégias para melhorar o índice atual, entretanto, não houve indicação de entrevistado.
Inicialmente, a Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite e Multivacinação iria até o dia 9 de setembro, mas o prazo foi prorrogado pelo MS. A última data foi 30 de setembro. O motivo foi a baixa procura pelo serviço de aplicação de doses. O foco da ação eram as crianças de 0 a 5 anos.
O Brasil recebeu, em 1994, o certificado de eliminação da doença. Mas, em maio deste ano, a Organização Americana de Saúde (Opas) incluiu o País na lista de alto risco para retorno da doença.
O único estado brasileiro que atingiu a meta de 95% de imunização até o momento foi a Paraíba. No Brasil, a média de proteção contra a doença é de 65,18%. Em números absolutos são 7.542.614 doses.
A aplicação é feita com injeção, considerada mais eficaz e segura que as gotinhas que erradicaram a doença no Brasil e em boa parte do mundo.
Região
No Sudeste, a proteção contra a poliomielite teve em Minas Gerais o índice mais alto: 77,7. Na sequência aparecem São Paulo (61,77%), Espírito Santo (59,45%) e Rio de janeiro (40,17%).
No Centro-Oeste, o melhor índice é Mato Grosso (65,17%), depois vêm Goiás, Mato Grosso do Sul (64,48%) e o Distrito Federal (46,92%).
Um caso de poliomielite é investigado no Pará. Trata-se de uma criança de 3 anos. Ela apresentou perda de força nas pernas, febre e dores musculares.
O MS disse que existe a suspeita de que o quadro esteja relacionado a um “erro no esquema da poliomielite”. ()