Os proprietários de veículos que estão renovando suas apólices de seguro agora estão tomando um verdadeiro susto com os novos valores cobrados. De acordo com corretoras e segurados, os reajustes dos prêmios têm ficado por volta dos 30%, o que tem levado muita gente a desistir da renovação.
Entre os motivos apontados para a forte alta, estão o aumento na cotação dos veículos pela tabela Fipe, um maior número de sinistros e reajustes ou até escassez de peças para reposição no mercado.
Ao renovar o seguro dos cinco veículos de sua família, o empresário Ronaldo da Cruz teve que arcar com aumentos que ficaram entre 30% e 35%. Somente o seguro de uma caminhonete passou de R$ 4,3 mil em 2021 para R$ 5,9 mil este ano.
Ele diz que sabe que houve uma alta da cotação dos veículos, mas admite que isso gerou um grande peso no orçamento, pois o gasto anual vai ultrapassar os R$ 12 mil. “Eu já sabia que ia subir, mas não imaginava que seria tanto porque minha renda não acompanhou isso”, destaca.
A corretora Nilvania Cassiano Matsuoka, da Seg Multi Corretora de Seguros, confirma que o reajuste foi de 30% em média, e diz que para alguns modelos o valor subiu ainda mais.
Ela lembra que o preço é definido por fatores como o modelo do veículo, local de moradia e perfil do condutor. Modelos da Ford, por exemplo, tiveram um reajuste maior porque o fim da produção no Brasil reduz o acesso a peças originais.
Outro problema são os preços da peças, que ficaram bem mais caras e escassas por causa da paralisação da produção durante o isolamento social, situação que foi agravada pela inflação.
“Um para-choque de Polo, que custava R$ 1,8 mil, hoje sai por R$ 2,5 mil, o que aumentou o valor da franquia”, destaca a corretora.
Outro problema foi um aumento de 60% no número de sinistros. “Tem oficinas que não conseguem mais receber carros por causa da alta demanda”, conta. O resultado é que 20% dos clientes desistem de renovar o seguro.
O corretor Júlio Alencastro Veiga, da Alencastro Veiga Corretora de Seguros, lembra que as peças chegaram a subir mais de 50% em um ano, o que elevou muito o custo dos reparos, enquanto os carros aumentaram mais de 30%.
Este cenário provocou um aumento no índice de perda total, que acontece quando o orçamento do conserto ultrapassa entre 70% e 75% do valor do carro. “Quando a seguradora vê que o valor das peças está muito alto, ela prefere dar perda total”, diz.
Com tantos impactos econômicos, Júlio ressalta que não há como manter a saúde financeira das seguradoras sem o reajuste no valor dos seguros. Ele lembra que, com a escassez de peças, um carro que ficava 15 dias no conserto, hoje chega a ficar mais de dois meses na oficina.
“Mas cerca de 95% dos segurados entendem tudo isso e acabam fazendo a renovação, pois ficar sem seguro é um risco muito grande”, avalia o corretor.
Proprietária de um Fiat Touro, a enfermeira Elizângela Soares de Souza conta que também teve de arcar com um aumento de 30% no preço de seu seguro, o que pesou no orçamento, o que elevou o valor do prêmio em cerca de R$ 1 mil.
Ela diz que já esperava por um reajuste na faixa dos 15% na renovação por causa dos reflexos da pandemia, mas o valor também acabou sendo impactado pelos reajustes nos preços dos carros. “Mesmo assim, não dá para ficar sem seguro”, diz.
O também corretor José Altair de Sousa, da Mastercor Corretora de Seguros, lembra que, durante as medidas de isolamento, as indústrias de São Paulo ficaram muito tempo fechadas por força de decretos, o que paralisou a produção de peças por muito tempo.
Depois o reajuste no valor dos carros acabou impactando nos preços das peças. “Também houve aumento do índice de perda total e dos sinistros e as seguradoras fecharam 2021 com resultado negativo em sinistralidade”, informa.
O índice de roubos já não impacta tanto quanto os preços das peças e veículos e os sinistros. Segundo Altair, há casos de reajustes de até 60% por causa do alto custo e escassez de peças.
E os atrasos no conserto têm feito as seguradoras arcarem mais com o chamado lucro cessante, uma compensação pelo tempo que o veículo ficou parado na oficina, resultando em perda de renda para um segurado ou terceiro.
Altas na inflação, na cotação do dólar, no custo da mão de obra e peças, nos valores da tabela Fipe também são apontados pelo presidente do Sindicato dos Corretores e Empresas Corretoras de Seguros no Estado de Goiás (Sincor-GO), Vinícius de Araújo Porto, como os motivos para a alta dos prêmios.
“Comparando 2020 e 2021, tivemos uma alta da sinistralidade, com a volta das atividades econômicas e mais veículos circulando nas ruas”, destaca.
Enquanto o número de roubos caiu em Goiás, o de batidas aumentou. Para o presidente do Sincor-GO, apesar de muitos clientes desistirem da renovação, o mercado continua aquecido porque os segurados entendem que os reajustes foram generalizados e ocorreram em praticamente todos os setores.
“O mais importante é procurar um corretor habilitado para fazer um levantamento junto a todas a seguradoras em busca de um contrato mais adequado ao perfil do segurado”, recomenda.
Retomada de hábitos pré-pandemia também pesou
O presidente do Sindicato das Empresas de Seguros Privados, Resseguros e de Capitalização dos Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e do Distrito Federal (SindSeg), Marco Antônio Neves, lembra que os preços dos seguros chegaram a cair durante as medidas de isolamento por conta da pandemia. Isso porque havia menos carros circulando nas ruas e os sinistros, parte importante na composição de custos dos seguros, tiveram uma redução significativa, assim como os gastos com reparos. Mas quando as pessoas retomaram suas atividades normais e o uso cotidiano dos carros, houve um aumento da frequência de acidentes.
Além disso, há uma mudança na forma de utilização dos veículos. “Antes da pandemia, as pessoas trafegavam por distâncias menores e usavam mais aviões, por exemplo. Com a chegada do vírus, muita gente passou a usar mais o carro em viagens, o que aumentou as distâncias percorridas, os acidentes e os gastos com o atendimento de segurados que têm problemas com o carro longe de casa”, explica.
Isso significa que as seguradoras passaram a gastar mais com serviços como guincho, hospedagem e deslocamento de segurados de volta para suas casas. Marco ressalta que as empresas também foram muito prejudicadas pela forte alta nos preços dos veículos, pois as apólices precificadas em anos anteriores não previam isso. “A alta foi 40%. Com isso, se antes tínhamos que indenizar o segurado em 100%, agora pagamos 140%”, completa. Mesmo assim, ele afirma que o mercado continua crescendo acima de dois dígitos.