O diretor-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, disse que os dados apresentados pela fabricante da Sputnik V, vacina russa contra a Covid-19, apontaram que o imunizante é “uma ameaça à saúde da população”.
Em entrevista publicada nesta sexta-feira (30) pelo jornal Valor Econômico, o chefe da agência fez críticas à postura do Instituto Gamaleya e do RDIF (Fundo Russo de Investimento Direto), responsáveis pela produção e distribuição da vacina.
“A vacina Sputnik V foi rejeitada porque, nos documentos apresentados pelo próprio instituto russo, e também nas reuniões que fizemos com eles, foram apresentados dados que representavam uma ameaça à saúde da população”, declarou Barra Torres.
O diretor-presidente apontou falta de transparência nos dados entregues pelos fabricantes da vacina russa.
“Havia tanto uma escassez de informações transparentes e sólidas quanto, naquelas que foram apresentadas, índices inaceitáveis da presença de vírus replicante. É o vírus que pode se reproduzir de uma maneira não controlada, de uma maneira não evitável e, portanto, com consequências imprevisíveis e imponderáveis”, afirmou.
Barra Torres comentou ainda o “desafio” feito pelos fabricantes para um debate com a equipe técnica da Anvisa. Segundo ele, os russos fazem “manobra retórica” com a proposta.
“Nenhuma chance [de acontecer um debate]. Até porque eles próprios sabem que isso é mais uma manobra de retórica. Essas análises envolvem dossiês em que a propriedade industrial, inclusive, tem que ser preservada. A Anvisa não é uma agência debatedora, é uma agência reguladora”, disse.
PROCESSO JUDICIAL
Nessa quinta-feira (29), o RDIF (Fundo Russo de Investimento Direto), responsável pela produção e distribuição da vacina Sputnik V, afirmou que iniciará um processo judicial contra a agência brasileira por causa de “declarações incorretas e enganosas”.
O fundo também disse que a agência teria “desconsiderado documento oficial enviado pelo Instituto Gamaleya sobre a ausência de adenovírus replicante”.
A página da Sputnik V no Twitter publicou que o gerente de Medicamentos, Gustavo Mendes, teria “admitido o erro” ao dizer que a agência “não fez um teste para verificar se há adenovírus replicado” na vacina.
DECISÃO DA ANVISA
Na última segunda-feira (26), a Anvisa negou a permissão para importação e uso emergencial excepcional da vacina Sputnik V. Técnicos argumentaram ter identificado falhas no desenvolvimento, na qualidade e na segurança da vacina russa.
Todos os 5 diretores votaram para barrar a Sputnik V, depois de cinco horas de reunião. Na ocasião, afirmaram que a Sputnik V usa como vetor o adenovírus. Ele é usado como “transporte” do material genético do coronavírus que irá condicionar o organismo a combater e neutralizar a infecção.
Nesses casos, o adenovírus é manipulado para não se replicar dentro do corpo. Mas, segundo a Anvisa, os técnicos encontraram adenovírus replicantes em todos os lotes da Sputnik V submetidos ao controle de qualidade da agência. O fabricante nega.
O RDIF afirma que os únicos tipos de adenovírus replicantes utilizados na vacina são “inofensivos para o corpo humano”.