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Suspeita de envenenar dois responde por outros crimes, diz delegado

Fábio Lima
Delegado Carlos Alfama é o responsável pelo caso que envolve Amanda

A advogada Amanda Partata Mortoza, de 31 anos, presa por suspeita de matar, por envenenamento, o ex-sogro Leonardo Pereira Alves, de 58, e a mãe dele, Luzia Tereza Alves, de 86, também tem envolvimento em outros crimes. O delegado Carlos Alfama, responsável pelo caso, aponta que ela é parte de um processo que corre em Itumbiara, no Sul goiano, sobre aliciamento de menores para prática de crime sexual. Há também denúncias de estelionatos e extorsão em ao menos outros três estados, além de Goiás.

A mulher foi detida nesta quinta-feira (20), em uma clínica psiquiátrica de Aparecida de Goiânia, três dias após o crime. Conduzida pela Delegacia de Investigações de Homicídios (DIH) da Polícia Civil (PC-GO), a apuração do caso a apontou como principal suspeita visto que ela era a única pessoa na cena do crime que teve contato com alimentos e bebidas, na residência de Leonardo, em Goiânia. Ela teria comprado o café da manhã em um estabelecimento comercial do Setor Marista e voltado para o hotel onde estava hospedada, desde o dia 14 de dezembro, no setor Bueno. Depois, ido à casa.

Além disso, Amanda foi identificada como a responsável por perfis falsos e números telefônicos distintos que ameaçavam o filho de Leonardo, ex-namorado dela, e a família dele desde o dia 27 de julho. A motivação seria a vingança pela rejeição do fim da relação, mas que ainda não havia sido oficializado. O delegado explica que o casal manteve relacionamento íntimo por ao menos um mês e meio. O término oficial teria ocorrido apenas no dia 10 de agosto.

Mas, desde o final do mês anterior, a mulher já estaria mandando ameaças pelas redes sociais e praticando o crime de stalking, termo em inglês para perseguição. Conforme a PC-GO, Amanda utilizava um aplicativo para mascarar o verdadeiro número telefônico utilizado por ela, que estava registrado no nome do irmão, mas era de uso pessoal da advogada. “Recebia diariamente cerca de 10 a 15 ligações que, ou ameaçava ele, como nas mensagens, ou não falava nada”, detalha Alfama.

O ex-namorado fez, à época do fim do relacionamento, a denúncia pela perseguição e informou que já havia bloqueado mais de cem contato. O crime de stalking, que também era apurado pela PC-GO, identificou, antes mesmo do caso envolvendo a família de Leonardo, que seriam de Amanda Partata os perfis falsos. “A investigação tinha chegado a ela recentemente, mas a família ainda não sabia. A polícia tinha recebido a resposta do grupo Meta e ainda não tinha intimado ninguém. Foi em novembro (que identificou)”, disse, ao Daqui.

Além do duplo homicídio duplamente qualificado, como classificou o delegado, Amanda também tem relação com outros crimes. Em um deles, que corre em segredo de justiça, ela está envolvida em aliciamento de crianças e adolescentes para a prática de crime sexual. Outros casos denunciados à DIH após a divulgação da suspeita, envolvem estelionato, extorsão e notícias falsas de gestações.

O investigador cita, a exemplo, um caso em que ela se relacionava com um brasileiro, que vivia em Londres. Após o término do relacionamento, ela teria enviado um chocolate ao ex-companheiro, que não o comeu. “Ela manteve relação virtual, passou a exigir dinheiro, quando ele parou de mandar ela rompeu (o relacionamento) e mandou um chocolate”, conta.

Alfama acrescenta ainda que tem recebido “incessantemente” outras denúncias de práticas delituosas. “Não parei para contar, mas estou recebendo do Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, além de Goiás. Estelionato, aliciamento de crianças e adolescentes para práticas de orgias, e esse tipo de extorsão que ela fazia nos relacionamentos”, conta o delegado.

Nas redes sociais, Amanda se apresentava como psicóloga. O Conselho Regional de Psicologia de Goiás – 9ª Região (CRP-09) negou que a mulher tenha registro profissional ativo no conselho. E destacou: “Para o exercício legal da profissão de psicóloga (o), todos os profissionais são obrigados a manter o registro junto ao Conselho Federal de Psicologia (CFP) e ao Conselho Regional da região onde realiza o exercício profissional.”

A mulher também dizia estar grávida do ex-namorado, filho de Leonardo. A investigação deve identificar se houve, em algum momento, a gravidez, ou se a mesma forjou laudos médicos que comprovavam a condição. Ela e a família do homem teriam, inclusive, feito chá de revelação para o bebê.

Para o delegado, Amanda se mostrou “perigosa” e “dissimulada”. “Ela dissimula sentimentos e planos. Se passa por uma pessoa dócil e querida. Tanto que matou as vítimas sentadas na mesa com elas.” Conforme Alfama, os familiares nunca souberam que era Amanda que ameaçava o filho de Leonardo. Durante as situações de intimidação, a suspeita teria, inclusive, ameaçado matar a si mesma, como se fosse uma terceira pessoa. “Depois não adianta chorar em cima do sangue deles”, diz uma das mensagens encaminhadas ao ex-namorado.

Amanda foi detida em uma clínica psiquiátrica de Aparecida na quarta-feira (20) após ser internada por familiares naquele dia, por volta das 12h. A internação foi depois de ela ter, supostamente, atentado contra a própria vida em um hospital, onde procurou atendimento na terça-feira dizendo que estava com sintomas e que duas pessoas haviam morrido por conta da alimentação. Para o delegado, foi uma tentativa de desviar o foco.

Ela passou por audiência de custódia nesta quinta-feira (21) e segue detida na Casa do Albergado. Em interrogatório após a prisão, o investigador destaca que ela não confessou o crime e disse que não teria “motivos”. Além disso, se negou a passar a senha do aparelho celular, que foi apreendido pela PC-GO e deve passar por análise técnica.

O marido de Luzia Tereza, que também estava na casa no momento do crime, deve ser ouvido nos próximos dias. A investigação, aponta Alfama, deve avançar nos próximos dias. O inquérito será finalizado em 30 dias. A prisão temporária também se estende por este prazo.

A equipe do advogado Carlos Márcio Rissi Macedo, de defesa de Amanda Partata, disse ao POPULAR que apenas irá se pronunciar oficialmente após ter conhecimento do conteúdo do inquérito policial.

Perícia tenta identificar substância utilizada

A ocorrência do caso foi feita à Polícia Civil no início da madrugada de segunda-feira (20), após a morte de Leonardo Pereira Alves, de 58 anos. A esposa dele informou, na Central de Flagrantes, que o homem e a mãe dele, Luzia, haviam consumido alimentos durante um café da manhã, por volta das 10h de domingo (19), e, três horas depois, começaram a ter vômitos, dores abdominais, e diarreia. 

Após a denúncia, policiais civis e peritos da Polícia Científica estiveram na residência da família e recolheram os produtos consumidos na refeição. O delegado Carlos Alfama explicou, durante entrevista coletiva nesta quinta-feira (21), que a primeira suspeita foi intoxicação alimentar. 

Mas, logo no início, os peritos criminais teriam apontado que a morte não seria decorrente deste problema. “O tempo de incubação das bactérias no organismo humano faz com que normalmente a morte ocorra após um período mais prolongado. Se assemelhava a envenenamento”, explica Alfama.

A Polícia Científica, agora, atua para identificar o tipo de substância utilizada no crime. Conforme o perito criminal Olegário Augusto, durante em fala à imprensa, afirmou que são mais de 300 pesticidas que estão sendo investigados. No entanto, pondera, o trabalho é detalhado e, consequentemente, mais demorado, visto que é necessário buscar cada uma das substâncias prováveis. 

O perito aponta ainda que há a possibilidade de não se encontrar a substância. “Pode ter sido feito no copo, por exemplo, e a gente está com o conteúdo da garrafa”. E acrescenta: “A suspeita é que a contaminação tenha ocorrido, justamente, em um suco integral de uva adquirido por Amanda Partata. “Eles tiveram vômito escuro, compatível com a ingestão de suco. (...) Para envenenar alguém tem que ter uma substância homogênea, misturando, no doce não teria como fazer isso.”

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