Autoridades de saúde pública estão em alerta para uma possível explosão de casos de dengue no próximo ano na região Centro-Oeste, conforme alertou o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Este ano em Goiás, até a semana epidemiológica 47 foram confirmados 61.644 casos da doença, com 32 óbitos, seis deles na capital.
Com o incremento do período chuvoso aliado ao calor, crescem as chances de proliferação do Aedes aegypti, o mosquito transmissor de dengue, de zika e de chikungunya. É nesse cenário que chega a Goiânia uma tecnologia já adotada em diversas cidades brasileiras.
Municípios como Indaiatuba (SP), Porto Nacional (TO) e Congonhas (MG) têm colhido bons resultados com o Aedes do Bem, produto criado pela multinacional de biotecnologia inglesa Oxitec, fundada na Universidade de Oxford (Inglaterra).
Dentro do que é chamada de Caixa do Bem ficam ovos do Aedes aegypti que eclodem após a adição de água limpa. Entre 10 a 14 dias, os mosquitos machos voam para ambiente externo para se acasalar. Do cruzamento, sobrevivem apenas os machos, herdando dos pais a característica autolimitante. Somente as fêmeas são responsáveis pela transmissão de doenças.
O Aedes do Bem, como explica Daniel Wanderley, diretor de Desenvolvimento de Negócios da Oxitec Brasil, foi aprovado em 2020, pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), a instância responsável pela regulamentação de produtos do gênero no País. Antes, porém, em 2018, uma parceria com a prefeitura de Indaiatuba (SP) revelou que a solução apresentou supressão de 96% da população fêmea do mosquito em quatro áreas da cidade.
Os resultados desse projeto piloto foram publicados no ano passado pela revista científica Frontiers in Bioengineering and Biotechnology.
Daniel Wanderley explica que em termos técnicos o produto funciona a partir do momento em que nasce o mosquito, mas é preciso um pouco mais de tempo para notar os resultados. “A percepção de queda da população fêmea ocorre após três meses. Mas o impacto maior da supressão é sentido entre oito meses a um ano de tratamento.”
O que ele chama de “tratamento”, são caixas recicláveis instaladas de forma estratégica, com atuação de 28 dias. Por ser um produto de uso recorrente, as caixas devem ser trocadas ao fim desse período. A Oxitec tem fabricado caixas maiores (pro), destinadas à saúde pública e a grandes empresas, e também as residenciais, de menor porte. Nesse caso, a proteção atinge uma área de até 5 mil m².
O propósito da Oxitec é convencer as autoridades de saúde da eficácia do Aedes do Bem. “A ideia dos pesquisadores é que a ciência tecnológica seja usada no combate ao mosquito ao invés de química, como tem ocorrido há mais de 60 anos”, salienta Daniel Wanderley.
A solução, segundo ele, age especificamente no controle do Aedes aegypti. Por não ser tóxica, não causa dano ao homem ou outras espécies de insetos, benéficas ao meio ambiente, como abelhas, joaninhas e borboletas. Tanto em nível federal quanto em Goiás, a empresa tem mantido conversas com o setor público. “O que a gente quer é que regiões mais críticas recebam a solução como uma forma de proteção.”
Empresas de grande porte como Petrobras, Globo e Siemens já vêm utilizando as caixas do Aedes do Bem. Alguns goianos, pessoas físicas, também já adquiriram o produto. “Elas integram dois grupos: um que está vivendo uma crise de dengue, como pessoas na família com a doença, ou um lote baldio ao lado de casa; e outro, em maior número, que tem interesse na tecnologia inovadora, livre de químicos”, explica Daniel Wanderley. Além do site da empresa, em Goiânia as caixas são encontradas agora em lojas da rede Unishop.
Cidades brasileiras já adotaram a tecnologia
Indaiatuba (SP), com mais de 250 mil habitantes, foi a primeira cidade do mundo a fazer a experiência com as caixas do Aedes do Bem. Com os primeiros resultados, que superaram a marca de 96% de supressão do mosquito fêmea, a parceria com a Oxitec continua em 2023 e já alcançou 45 mil pessoas.
Daniel Wanderley explica que a empresa recomenda a instalação das caixas em áreas com maior foco do Aedes aegypti e de casos de doenças transmitidas por ele. “Não há necessidade de instalar em toda a cidade. Normalmente recomendamos entre 30% a 40% da localidade, até para otimizar recursos.”
A mineira Congonhas, com 52 mil habitantes, optou por cobrir 100% da área urbana com as caixas do Aedes do Bem. Foram instaladas 4.560 caixas em 1.520 pontos. Porto Nacional (TO) foi o primeiro município da região Norte a aderir à tecnologia. Em janeiro deste ano foram instaladas caixas em três bairros que reúnem cerca de 7 mil moradores, 10% da população local. Embora ainda não tenha em mãos os relatórios finalizados, a Coordenação de Vigilância Epidemiológica do município percebeu uma redução de focos e de casos de doenças transmitidas pelo mosquito na área escolhida.
Daniel Wanderley disse que administrações de outras três cidades da região Sudeste estão prestes a adotar o programa Aedes do Bem, assim como dois países da América Latina. A solução já é empregada ainda na Flórida (EUA) e países da África e da Oceânia.