O governador Ronaldo Caiado se reuniu na tarde desta quarta-feira, 12, por videoconferência, com deputados estaduais, prefeitos e empresários do setor de turismo de municípios do Vale do Araguaia para discutir os termos do decreto estadual que cancelou, pelo segundo ano seguido, a Temporada do Rio Araguaia.
Os representantes das cidades pediram, principalmente, a liberação da pesca esportiva para garantir o sustento de boa parte da população ribeirinha, que depende desta atividade turística. Alguns também defendem a permissão para pequenos acampamentos familiares.
Um novo decreto será redigido e publicado nos próximos dias.
O governador lembrou que o decreto nº 9.862, que cancelou a temporada do rio, foi publicado a toque de caixa porque o Araguaia começou a baixar e muita gente já estava demarcando áreas para a instalação de acampamentos, o que levaria um grande fluxo de pessoas para a região.
"Estamos ouvindo todos os interessados para encontrar uma maneira de conciliar o período do acampamento com o momento de ameaça de terceira onda de Covid-19, que já dá sinais em outros estados, e avançarmos num decreto que seja consenso", justificou.
A preocupação, segundo ele, é garantir um protocolo que evite situações semelhantes às do Ano Novo e Carnaval, com grande aumento do número de casos.
A sub-procuradora do Ministério Público Estadual, Laura Bueno, lembrou a importância do decreto restritivo já publicado, diante das atuais circunstâncias, mas disse que acredita na possibilidade de uma mínima flexibilização para atender a demanda dos prefeitos em relação à pesca esportiva.
Segundo ela, o pleito parece razoável, desde que seguindo os protocolos devidos e com fiscalização rígida. "Vamos tentar atender aqueles que dependem da temporada para o trabalho, sem que isso represente aglomeração. Ranchos e acampamentos não tem como voltar, mas podemos atender minimamente as necessidades das comunidades sem deixar de lado os cuidados", avaliou.
O presidente da Goiás Turismo, Fabrício Amaral, lembrou que, desde junho de 2020, os prefeitos do Vale do Araguaia deram as mãos para evitar uma contaminação em massa.
Mas, segundo ele, uma reunião com prefeitos e secretários de turismo revelou o consenso de que os ranchos e acampamentos não devem acontecer, mas que é importante liberar a pesca esportiva, desde que com critério de controle para o acesso às comunidades.
Para o deputado Coronel Adailton, presidente Comissão de Turismo da Assembleia Legislativa, a pesca esportiva é uma atividade que não contribui para transmissão do vírus, obedecendo os protocolos de segurança. Ele também se disse a favor da permissão para acampamentos familiares.
Mas a secretária de Estado de Meio Ambiente, Andréa Vulcanis, lembrou que a fiscalização já teve problemas com estes acampamentos no ano passado, pois eles dificultam a fiscalização. "Seria preciso ter um conceito muito bem definido sobre eles, que seja incluído no decreto", alertou.
A prefeita de São Miguel do Araguaia, Azaídes Donizete Borges, concorda que não é possível liberar os acampamentos, pois isso atrairia uma grande movimentação para as praias e a fiscalização dos protocolos seria muito difícil.
Mas ela defendeu a liberação de alguma possibilidade de lazer para as famílias nos fins de semana, como pequenos acampamentos para aquelas que desejam passar um dia na beira dos rios. "Queremos que libere a pesca esportiva, que é muito importante, pois este pessoal já foi muito prejudicado. A sobrevivência deles está afetada e este é o momento de resgatarem compromissos, desde que com os devidos protocolos", afirmou.
Já o prefeito de Aruanã, Hermano de Carvalho, lembrou que a cidade teve entre 20 a 25 mil visitantes no carnaval, um número reduzido em relação ao habitual. Mas, mesmo assim, após 14 dias, o município viveu uma situação muito difícil e já tem 20 óbitos.
"Não desejo uma situação parecida com a que tivemos aqui para nenhum outro prefeito", ressaltou.
Segundo ele, Aruanã costumava receber cerca de 300 mil turistas durante a Temporada do Araguaia, número equivalente a 30 vezes sua população.
"Meu receio é o que poderá acontecer em agosto, quando eles forem embora. Todos segmentos organizados trazem para as cidades turísticas uma super aglomeração. Não é só uma canoa, mas milhares, o que pode causar problema grande", advertiu o prefeito.
Ele lembrou que Aruanã continua registrando novos casos da doença, pois o vírus está esparramado por todo Estado, mas reconheceu que pescadores e guias turísticos são os mais prejudicados.
"Eu sugiro uma ação imediata para injetar recursos neste pessoal para eles consigam sobreviver e minimizar o problema", disse. Hermano sugeriu liberar a pesca esportiva apenas às segundas, terças e quartas para evitar aglomerações de fim de semana, opinião que não é compartilhada pelos demais prefeitos.
"Nossas cidades são pequenas e estamos vivendo uma situação de calamidade pública", completou.
Andréa Vulcanis garatiu que o texto do novo decreto sobre a Temporada do Araguaia será encaminhado a todos os prefeitos e deputados antes de sua publicação.