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Três variedades de pequi sem espinhos vão ser cultivadas

Wesley Costa
João Asmar Júnior, diretor de Pesquisa Agropecuária da Emater: aquecer mercado com planta do Cerrado

Comer pequi sem se preocupar com a possibilidade de morder em espinhos é, sem dúvida, um sonho de consumo dos apreciadores do fruto. Isto será possível dentro de poucos anos. Em novembro, a Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) lançam três variedades de pequi sem espinhos. Num primeiro momento, 1,2 mil mudas serão disponibilizadas para viveiristas, para que as multipliquem e comercializem no mercado, e outras 1,2 mil irão para agricultores familiares.

A expectativa é que as novas variedades, que obtiveram registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em abril, provoquem uma verdadeira revolução no mercado do pequi, que deve ganhar maior valor agregado. Os pesquisadores Elainy Botelho e Ailton Pereira conduziram os estudos, que duraram mais de 20 anos, na Estação Experimental Nativas do Cerrado, na sede da Emater, em Goiânia, e Sidney Cunha Andere, na Estação Experimental de Anápolis.

A pesquisadora Elainy Botelho lembra que havia uma demanda por parte de agricultores familiares goianos para o plantio em reserva legal. As pesquisas começaram quando um produtor conseguiu localizar uma variedade sem espinhos no município de Cocalinho (MT). “Isso é raro porque geralmente ninguém chega a morder o caroço ou parti-lo para descobrir se tem ou não espinhos”.

Os pesquisadores, então, fizeram clones da planta, pois o simples plantio não era garantia de que o próximos frutos viriam sem espinhos. “Clonamos e avaliamos o fruto em relação à qualidade, potencial produtivo e sabor”, conta Elainy. Eles chegaram a três variedades sem espinhos: uma mais propícia para produção de amêndoas e duas de pequi gourmet para mesa. Além das variedades sem espinhos, também serão lançadas três variedades com características mais comerciais. 

Elas são próprias para atender tanto a demanda do comércio, com o chamado pequi de mesa, que possui caroços menores, quanto a indústria, com caroços maiores e polpa mais carnuda para a extração. Elainy informa que o pequi sem espinhos têm coloração amarelada e sabor mais suave e um pouco adocicado. Devido às características de reprodução das plantas, serão vendidos lotes com as seis cultivares e cada muda será comercializada por R$ 30. Agricultores poderão comprar até dois lotes e viveiristas até dez.

Restaurantes

Cada planta deve levar cerca de quatro anos para começar a produzir e seus frutos sem espinhos devem ter um valor comercial mais elevado. “Será um produto muito bom para restaurantes, que passará a ser mais consumido por crianças, idosos e pessoas de outros estados e países, que não correrão mais o risco de acidentes com espinhos”, prevê a pesquisadora.

O pesquisador da Embrapa, Ailton Pereira, ressalta que a demanda dos produtores goianos por pequizeiros mais rentáveis e frutos comerciais, e da sociedade, por pequis com polpa carnuda e saborosa, motivou as pesquisas. Para isso, a Emater e a Embrapa visitavam as propriedades que cultivavam pequizeiros para avaliar as plantas. “Vamos fornecer mudas enxertadas aos viveiristas credenciados no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem), que vão multiplicar esse material para atender à demanda dos produtores”, destaca Ailton.

O presidente da Emater Goiás, Pedro Leonardo Rezende, lembra que o grande objetivo das pesquisas foi proporcionar competitividade e agregar valor à cadeia produtiva do pequi, que tem um alto potencial de renda para a agricultura familiar, pois atende um nicho de mercado. Ele acredita que o pequi sem espinhos terá uma grande demanda por parte do setor gastronômico, que busca um produto diferenciado. “Será um fruto com maior valor agregado e que deve ter um preço melhor no mercado”, prevê.

Pedro Leonardo lembra que as novas variedades com ou sem espinhos são diferenciadas por terem características mais variadas em cor e até um menor teor da substância conhecida por dificultar a digestão do pequi. Isso ocorre quando a pessoa come o fruto e reclama por ficar arrotando o gosto do pequi durante todo o dia. “Será um produto de melhor digestão. Proporcionamos variedades diversas para que o produtor possa atender todas as demandas do mercado”, ressalta o presidente da Emater Goiás.

O diretor de Pesquisa Agropecuária da Emater, João Asmar Júnior, diz que o objetivo é disseminar essas variedades e atender o agricultor familiar. “Queremos aquecer esse mercado com uma planta nativa do Cerrado e culturalmente importante para Goiás, levando as mudas para o que o produtor faça reflorestamento, recomponha sua área e para plantio comercial”.

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