A Universidade Federal de Goiás (UFG) obteve a patente da criação de um sensor descartável que faz a medição de glicose na lágrima. Com a tecnologia, basta encostar o sensor de papel descartável no olho do paciente para conseguir acompanhar as taxas de glicose no organismo. Além do baixo custo, o produto diminui o desconforto dos pacientes com diabetes durante a medição de glicose.
A diabetes é uma das doenças crônicas que mais afetam os brasileiros. De acordo com dados do Painel de Indicadores de Saúde, da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), em 2019, 7,40% dos moradores de Goiás com 18 anos ou mais tinham diagnóstico de diabetes dado por um médico. Em Goiânia, o porcentual chegou a 8,5%. Atualmente, para monitorar a glicose, principal marcador da doença, os pacientes precisam furar o dedo para fazer o acompanhamento pela detecção do sangue em um medidor de glicemia.
O sensor foi desenvolvido pela pesquisadora Ellen Flávia Moreira Gabriel ao longo de sua pesquisa de doutorado no Laboratório de Microfluídica e Eletroforese, do Instituto de Química (IQ), da UFG. O local é coordenado pelo professor Wendell Coltro, que orientou a pesquisa. A ideia do produto surgiu depois que ele assistiu uma palestra sobre o tema nos Estados Unidos. “Como já trabalhamos com o desenvolvimento de sensores descartáveis, propus essa possibilidade para ela”, lembra o professor.
Também trabalham com os sensores vestiveis o pesquisador de pós-doutorado do grupo de pesquisa, Gerson Francisco Duarte Júnior e o estudante de gradução em química, Daniel Santos de Paula.
O intuito inicial era promover uma medição de glicose menos invasiva para os pacientes que têm diabetes, já que o dispositivo permite que as pessoas não tenham mais que furar o dedo. Entretanto, o uso do papel também resultou no barateamento da operação. Cada sensor tem o custo de R$ 0,10. “É um material acessível e que pode ser reciclado”, destaca Coltro.
Funcionamento
O sensor de papel desenvolvido na pesquisa é colorimétrico, ou seja, o resultado é demonstrado por meio de cores no papel. Cada tom é correspondente a um resultado quantitativo, já que a medição é feita por miligramas de glicose por decilitro de sangue (mg/dL). Um dos desafios da pesquisa foi justamente chegar à sensibilidade adequada para medição de glicose. “Os níveis de confiabilidade foram elevados”, relata o professor.
Para obter a lágrima basta aproximar o sensor do tubo capilar no canto interno de algum dos olhos. O dispositivo segue em aperfeiçoamento e, no futuro, Coltro diz que existe a possibilidade de ele ser adaptado para lentes de contato ou então funcionar como um adesivo no canto do olho. “Também estamos estudando a criação de um aplicativo que será capaz de converter a cor do papel em números do glicosímetro.”
O professor aponta ainda que a mesma tecnologia utilizada para fazer o sensor de papel descartável que mede a glicose na lágrima pode ser aplicada em uma série de outros tipos de testes similares. “Ela pode contribuir para fazer desde a verificação de um uísque adulterado até o descobrimento do tempo de morte de um cadáver”, esclarece.
A intenção dos estudiosos é que o sensor seja uma alternativa mais econômica e logisticamente viável para o Sistema Único de Saúde (SUS) medir a glicose. Porém, Coltro não descarta que o produto seja, por exemplo, vendido em farmácias. “É uma etapa posterior, que será voltada para uma estratégia de negócio. É possível fazer parcerias com empresas que ajudem a tornar o produto comercializável.”
Patente
Coltro conta que o trâmite para a obtenção da patente do sensor durou sete anos. “É sempre um processo muito longo e a UFG conduziu tudo de uma forma inteligente. Temos o direito intelectual sobre essa tecnologia. Isso é importante, pois caso a gente consiga que esse produto seja comercializado, a UFG receberá dividendos que poderão ser investidos na própria universidade.”
Além do sensor para detecção de glicose, a pesquisa proporcionou a patente de outro produto: o injetor hidrodinâmico alternativo. Trata-se de um instrumento voltado para a área de eletroforese, que é uma técnica utilizada para a separação analítica dos constituintes de amostras como de lágrimas, sangue, água e alimentos, entre outros. “Foi feita uma adaptação e passamos a usar uma micropipeta, que tem uma boa precisão. Assim, conseguimos ter resultados melhores”, explica o professor.
Os projetos tiveram o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Bioanalítica (INCT-Bio).