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UFG recebe primeiro supercomputador de inteligência artifical da América Latina

Wildes Barbosa/O Popular
Anderson Soares mostra o Nvidia DGX A100 - 80 Gb, que tem capacidade de 100 mil PCs convencionais

Ainda sob o impacto do corte pelo governo federal de R $655 milhões para a ciência, a Universidade Federal de Goiás (UFG) dá, nesta quinta-feira (21), um passo gigantesco para consolidar a sua importância no cenário da Inteligência Artificial (IA). Às 10 horas será inaugurado o supercomputador do Centro de Excelência em Inteligência Artificial (Ceia), instalado no Instituto de Informática da instituição, aquisição de R$ 1,4 milhão, pagos pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) e pela Procuradoria Geral do Estado de Goiás (PGE). A estrutura, a melhor do mundo em sua configuração e a primeira da América Latina, será entregue com 100% de sua capacidade comprometida até 2023.

O supercomputador, fabricado pela empresa norte-americana Nvidia e batizado de DGX A100 - 80Gb, tem poder de processamento equivalente a cerca de 100 mil computadores convencionais. Antes mesmo de sua chegada à UFG, o equipamento possibilitou o fechamento de contratos com valores superiores ao que foi investido em sua compra. A estimativa do Ceia é que até o final de 2022 o supercomputador renda novos contratos em cifras recordes. Inicialmente, entre outras ações, ele vai auxiliar com projetos de automação de textos jurídicos, demanda da PGE, que é parceira do Ceia.

“Estávamos esperando a chegada do supercomputador para fechar novos acordos que estavam engatilhados, mas dependiam dessa infraestrutura. Ele já está com 100% de sua capacidade comprometida até meados de 2023, mas vai aumentar a quantidade de projetos que executamos. É uma estrutura muito cara para qualquer empresa ou instituição. Nós fazemos o investimento para que várias possam utilizar”, comenta o professor Anderson da Silva Soares, coordenador do Ceia e do curso de IA da UFG.

Anderson Soares ressalta que o benefício proporcionado por esse avanço tecnológico é imensurável. Atualmente, 250 pessoas estão vinculadas ao Ceia, entre professores e alunos da UFG e pesquisadores de outras instituições, do Brasil e do exterior, como Canadá, Estados Unidos, Alemanha e Portugal. “A Inteligência Artificial impacta em todas as áreas do conhecimento. Temos projetos para a saúde, segurança, logística, energia e comunicação, para citar alguns. À medida que novos produtos são gerados, há efeitos imediatos na competitividade da empresa e consequentemente na geração de empregos.

O coordenador do Ceia ressalta o quanto é importante o investimento na ciência e na pesquisa. “Durante décadas, a IA foi estudada por teóricos. Quem sustentou isso foi a ciência a longo prazo, o investimento feito por governos. Valorizar a ciência é plantar a semente para projetos que vão nascer lá na frente. A sociedade e os representantes governamentais precisam ter essa percepção.” Para Anderson Soares a aproximação entre universidade e indústria gera ganhos em efeito cascata. “Ganha a instituição acadêmica pelos recursos e pelo prestígio; as empresas por se tornarem mais competitivas e inovadoras; e a sociedade pelo desenvolvimento econômico. Num momento tão difícil para a ciência, exemplos como o do Ceia são motivadores.”

O Ceia

Criado em 2019, o Ceia é uma aliança entre o Governo de Goiás, a UFG e empresas privadas. Em dois anos, já desenvolveu projetos para 33 empresas de nove estados brasileiros em diferentes setores, envolvendo um volume de recursos na ordem de R$ 40 milhões. O Centro conta com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), organização social que possui contrato de gestão com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).

Em 2019, a UFG foi a primeira universidade brasileira a criar um curso superior de bacharelado em IA. Hoje, mais de 90% dos pouco mais de 60 alunos de graduação recebem bolsas no valor médio de R$ 1,7 mil pagas pelas empresas que têm projetos no Ceia. O curso oferece 40 vagas por ano. “A ideia é que os acadêmicos se envolvam precocemente com a atuação profissional. Às vezes até me assusto com isso, porque não tenho notícia de algo similar em outra parte do mundo. A demanda é altíssima”, afirma Anderson Soares.

Segundo o professor, nas 33 empresas que têm contratos com o Ceia, há 262 vagas abertas. “O investimento no supercomputador será importante para que a gente consiga desenvolver mais rápido esses recursos humanos. Tem empresa vindo para Goiânia querendo contratar 200 profissionais. Essa aproximação faz da UFG um centro gravitacional, mas confesso que fico inquieto diante do exército de desempregados no país e por outro lado essa quantidade de vagas abertas porque são empregos de alta qualificação.”

Um universo de possibilidades inovadoras 

A PGE, que possui uma grande quantidade de documentos para analisar, conta com a ajuda da IA por meio do Ceia. “A inteligência artificial desocupa o procurador para ele utilizar o seu conhecimento no que é essencial, como elaborar uma tese ou identificar a melhor estratégia para responder uma petição. O ser humano tem de fazer aquilo que ele é bom, não o que é repetitivo e chato”, explica o coordenador do Ceia. 

Em 2019, o doutorando em Ciências da Computação da UFG Rafael Teixeira desenvolveu um software, usando IA, para prevenção de intercorrências em diabéticos com seis a oito meses de antecedência, com 96% de precisão. O projeto foi apresentado em eventos de inovação no exterior. 

Parceira da Ceia, a Insurtech Cilia Tecnologia, que une seguros com tecnologia e é a única do país que usa IA, tem feito contratos com empresas de seguros para aprimorar processos de seguros de automóvel. A empresa desenvolveu um algoritmo que permite dizer em poucos minutos o custo do conserto a partir de fotos tiradas no local do acidente ou na oficina. Com isso o segurado pode optar por receber seu crédito na hora ou fazer o reparo. 

A Synkar, startup ancorada no Ceia que desenvolve robôs autônomos usando IA, fechou contratos para exportação de veículos em 2022 para a Irlanda, Canadá, Portugal e Malásia, com fila de espera. Também há encomendas para o Brasil. A produção inicial em fábricas no Brasil e na China será de 200 unidades, com previsão de aumentar para mil por ano. A esses, somam-se dezenas de outros projetos inovadores.

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