Pelo menos uma vez por dia, em média, técnicos da Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) são acionados pela população para fazer o resgate de algum animal silvestre em um imóvel comercial ou residencial em Goiânia. A maior parte das vezes isso ocorre em até 100 metros dos parques e unidades de conservação em geral da capital, onde os bichos saem do habitat restrito para conseguir uma maior quantidade de alimentos ou em busca de um refúgio, como para chocar ovos, no caso de aves e répteis, ou parir, no caso de mamíferos. A situação põe em risco os moradores e também os animais.
Entre janeiro de 2022 e o final de setembro deste ano, a Amma registrou 693 resgates de animais em ambientes domésticos, uma média de 33 por mês, e ainda realizou 279 orientações aos moradores, o que é feito nos casos em que não é necessária a ida ao local, como quando os bichos estão apenas de passagem e sem oferecer risco. Segundo a Amma, a maior incidência é nos entornos dos parques e unidades de conservação “por serem zonas de amortecimento estão sujeitas a influência das atividades da fauna presente”. A agência acrescentou que a cidade possui rica biodiversidade e a fauna presente é “fundamental para a manutenção e equilíbrio do ecossistema”.
Segundo o Sistema de Informação Sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr), Desenvolvido sob coordenação do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), com suporte técnico da ONU Meio Ambiente (UNEP) e apoio financeiro do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), Goiânia possui 602 espécies de animais catalogadas, sendo cerca de 78 mil espécimes registradas. Já a Amma informa que possui o registro de mais de 108 espécies que vivem em ambientes urbanos. “Contudo o número pode ser maior, considerando as características de Goiânia que possui mais de 60 parques que também são unidades de conservação e possui mais de 205 áreas verdes”, explica.
De acordo com a bióloga e assessora técnica da Superintendência de Gestão Ambiental da Amma, Wanessa de Castro, as residências de até 100 metros dos parques e unidades de conservação, especialmente de bairros menos adensados, como Jardins do Cerrado, Buena Vista e Brisas da Mata, são as mais propensas a receber as visitas dos animais. “São locais onde encontram abrigo e refúgio. Com adensamento menor é mais fácil visualizar esses casos, porque a tendência é dos animais circularem mais. Onde tem mais pessoas e carros, como nos parques Vaca Brava e Areião, é mais difícil de acontecer”, diz.
Segundo conta, ainda ocorrem casos, especialmente de aves, que fazem ninhos nos topos de prédios e, por vezes, os filhotes, ainda sem a destreza necessária para o voo perfeito, acabam caindo nos apartamentos. “Isso ocorre muito com os urubus, por exemplo, que são bem habituados com a cidade já e fazem ninhos nos prédios”, relata a bióloga. Ela indica que os proprietários de imóveis próximos às unidades de conservação podem realizar ações que impeçam a entrada dos animais, como a colocação de telas em portas e janelas e no espaço entre o forro e o telhado, se houver.
EVITE EXPOR COMIDAS
Outra ação é não deixar comidas expostas que possam atrair os animais, sobretudo os mamíferos, e nem mesmo realizar a prática de alimentá-los. Wanessa explica que o ambiente urbano se mostrou de fácil ambientação para determinados animais silvestres, já que eles possuem refúgio e comida de forma mais fácil, além de não ter os predadores naturais, que normalmente são grandes mamíferos e estes não ficam condicionadas aos ambientes das unidades de conservação urbanas, que são de tamanho reduzido em relação ao que estes animais precisam. “Eles têm facilidade de reproduzir, como as araras canindé, por exemplo, tiveram um ambiente propício na cidade”, diz.
Até por isso, e pela relação humana que, normalmente, concede alimentação aos animais, eles se sentem aptos a se refugiarem nos imóveis, mas que, na maioria dos casos, eles ficam machucados, em perigo ou oferecendo algum risco ou que adentraram residências em busca de abrigo ou refúgio. “A incidência varia de acordo com o período reprodutivo, sazonalidade ou condições climáticas. Na época de reprodução de aves é mais comum o resgate de avifauna, os filhotes começam a sair do ninho e podem sofrer algum acidente, mesmo ocorrendo com mamíferos e répteis, por terem maior ocorrência no município. É o caso dos gambás e urubus, que são as espécies com maior quantidade de resgates”, informa a Amma.
Pelos números da agência municipal, entre janeiro de 2022 e setembro deste ano, a maior incidência de animais resgatados, no entanto, é do gambá saruê, em que 100 animais desta espécie foram retirados de propriedades. O bicho é típico da América do Sul, é um marsupial, como os cangurus, e não carnívoros como os cangambás, chamados de gambás norte-americanos, aqueles de pelos pretos e faixa branca que solta um líquido fétido quando se sentem ameaçados. Os saruês se alimentam de frutas, cereais e pequenos animais, sendo comumente encontrados remexendo os lixos em busca de alimentos. Os animais resgatados em Goiânia são destinados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), órgão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). No local, passam por uma triagem e recebem o tratamento de veterinários. Os que não possuem condições de voltar à natureza são encaminhados a zoológicos ou a criadores registrados pelo órgão federal.